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quarta-feira, 7 de junho de 2017

Quem tem medo de Virgínia Woolf?

Fui ver a peça, ao teatro da Trindade, Lisboa, e confesso que não me senti completamente confortável. Tudo se passa na sala de estar do casal, George e Martha, depois de uma festa na universidade do pai de Martha, onde o marido é professor de História, primeiro, esperando o jovem casal, ele é o novo professor de Biologia, que dormirá essa noite em casa deles, depois, os quatro em cena.
O ambiente é excessivo, doentio, quase esquizofrénico; expõem-se, de forma crua, raivas, não ditos, aparências, futilidades..., para humilhar, simplesmente, numa escalada, que parece sem retorno. A humilhação é o pior dos males; humilhar alguém, é anular a sua autonomia, a sua estima, a sua liberdade; é dizer: "não és nada, não vales nada; posso pisar-te, vou pisar-te"; melhor ainda, se houver assistência, no caso, a do jovem casal - durante uma parte da peça, Martha faz isto com mestria.
Mas, George, apesar da humilhação da mulher, também não é santo, é ele que serve: “mais uma bebida, mais uma bebida”…; é ele que antevê e incita à traição da mulher com o jovem professor, é ele que cria jogos de linguagem e de poder (na verdade, só ele não está perdido de bêbado), para os levar a confessarem o que na realidade são. E ele, nesse jogo, quem é na realidade? E o filho, morreu ou nunca existiu?
 Certo é que, depois, dessa noite de bebedeira, é muito álcool, o casal voltará à mesma violência emocional, às mesmas realidades ou ilusões, nunca se percebe muito bem, em que aprendeu a viver, como se estivesse preso numa teia.


quarta-feira, 23 de março de 2011

A Catatua Verde

Fui, há poucos dias, ao teatro D. Maria II, ver a peça "A Catatua Verde", de um autor austríaco, Arnold Schnitzer, encenada por  Luís Miguel Cintra. O texto é muito  interessante e a representação atinge, quase durante todo o tempo, uma grande intensidade dramática. Tudo se passa, na noite da revolução francesa, quando mais ou menos alheios ao que se passa nas ruas, a vida decorre normal, numa taberna situada numa cave dos arredores de Paris. O dono, um antigo director de teatro, não serve apenas bebida, serve também teatro, há actores que incarnam ladrões,  prostitutas, homossexuais, bêbedos, pedintes..., para gozo de nobres e aristocratas que, deste modo, tomam contacto com uma realidade a anos luz das suas instaladas vidas. Mas claro, quando uns representam e outros tomam a ficção por realidade, são inevitáveis os equívocos, a certa altura, até os actores confundem os papéis; quando o duque é assassinado, ainda, não é por causa dos revolucionários e da revolução, é por causa da intriga, da traição e dos ciúmes, uma  combinação fatal, desde o princípio dos tempos. Mas deixe-se acreditar, aos  que assistem, que aquela morte é um acto revolucionário, ouve-se no final "viva a liberdade". Ficamos  a pensar no sentido de tudo isto, nos sentimentos humanos, nas glórias e também tragédias das revoluções.