Começou a chover, ainda, coisa pouca; continuam a pintar. Pintam grandes prédios em Lisboa, em
andaimes suspensos, presos por cabos, aparentemente, em segurança.
Vieram de tão longe e correm tantos perigos! Fazem-no devagar, com
precisão, bem, mesmo que nunca o tenham feito antes.
A chuva continua, é já intensa; e cada vez mais. Os pintores desceram do andaime, pararam de pintar, não por
causa deles, mas porque a tinta não pega com tamanha chuva.
Será que no final do dia recebem o seu
dinheiro ou alguém, instruído na exploração de nepaleses,
paquistaneses...lhes diz: - hoje não trabalharam o tempo todo, tenho de lhes
descontar as horas que estiveram debaixo do toldo (improvisado), sem fazer nada.
A chuva parou. Os trabalhadores estão
de volta ao andaime; estão de volta ao trabalho e às ordens de um
patrão que lhes devia assegurar todos os direitos, mas nem sempre é o que acontece.