O trágico na ação aí está. Está no
terrorismo talibã que ontem vimos no ataque a um aeroporto de uma cidade paquistanesa,com mais de duas dezenas de mortos;
está no conflito israelo-árabe que o Papa, também ontem, procurou de uma forma não
política (ainda assim, política) colocar na ordem do dia e numa perspetiva de urgência;
está nos conflitos quotidianos que vivemos sempre que as regras chocam de frente
com as convicções. Conhecemos isto desde os gregos. No conflito que opõe
Antígona ao tio, na tragédia de Sófocles, a oposição é entre o puro respeito à lei e a convicção íntima de que enterrar os mortos é parte da dignidade
humana, e isso é anterior a qualquer legalidade. Como resolver o conflito? Continuar
a extremar posições, não leva a nenhuma solução. Isto serve para os conflitos de
hoje. Para todos os conflitos.
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segunda-feira, 9 de junho de 2014
quinta-feira, 5 de junho de 2014
A propósito da nova coroação real, em Espanha
Por que é que há reis e rainhas – é a pergunta
que faço?
Por que é que se nasce rei, rainha, príncipe,
princesa, etc, etc? Nenhuma razão. Nascemos indivíduos livres e iguais – é o primeiro princípio consagrado na Declaração
Universal dos Direitos Humanos.
Ponham os príncipes e os reis a pensar sobre o que
são, a ver se se descobrem outra coisa. A monarquia não tem nenhuma justificação
racional, pode ter todas as outras: tradição, cultura, estabilidade política, identidade
nacional…, o que seja, mas nenhuma que os coloque num patamar à parte. Sou
absolutamente republicana.
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democracia,
igualdade,
sistemas politicos
quinta-feira, 29 de maio de 2014
A mulher apedrejada, no Paquistão
Foi apedrejada até à morte, aliás, foi decididamente apedrejada para morrer e assim limpar a honra da família. Nenhum delito, apenas não aceitou casar com o homem que a família tinha destinado para ela. É a mais profunda barbárie, dispor de alguém como se fosse uma propriedade, matá-la como se estivessemos na Idade Média. Pode lá haver obscurantismo maior! Maldito traço cultural, maldita ignorância!
domingo, 25 de maio de 2014
O aldrabão, a comédia grega
Fui ver, ao teatro D. Maria II, a peça "O aldrabão", e embora nalguns momentos sentisse algum incómodo nos meus ouvidos, gostei de ver o desenrolar da acção, ficando com a percepção clara de que somos genuinamente comediantes e trágicos, farsantes e honestos, bons e maus. Na peça, temos uns a enganar, outros a aproveitar, outros a sofrer..., ainda assim é, e será, nada muda na natureza humana.
Salva-se o amor do jovem quem, numa rua de Atenas, faz tudo para comprar a jovem amada explorada naquele prostibulo. (Já agora, a personagem do dono do prostíbulo, interpretada pelo actor Rui Mendes, está muito bem).
Salva-se o amor do jovem quem, numa rua de Atenas, faz tudo para comprar a jovem amada explorada naquele prostibulo. (Já agora, a personagem do dono do prostíbulo, interpretada pelo actor Rui Mendes, está muito bem).
terça-feira, 13 de maio de 2014
Tarrafal, o prisioneiro
Há anos que procurava uma paz,
uma certeza qualquer, de que o retorno àquele campo não seria um sofrimento a
somar às memórias vivas e cruéis do sítio onde passara mais de sete anos da sua
juventude, trabalhando, cumprindo ordens, guardando ideias, lendo livros, arquitetando revoluções…, criando uma rotina, a possível, que
impunha a si próprio para não endoidecer.
Salvaguardar a saúde mental, que
a física essa ressentir-se-ia – mesmo quando, nessa idade, se julga possível
passar por tudo sem marcas no corpo - era a primeira das preocupações. Marcas
de meses seguidos num total isolamento, numa sela fechada, húmida, onde mal
cabia uma pessoa, sem cama, com um balde e uma refeição diária.
Como se consegue sobreviver a
isto? Só uma convicção interior fortíssima, só um dever de consciência, uma responsabilidade, uma
inabalavel defesa da dignidade humana – em que vergar, ajoelhar,
comprometer..., mesmo quando os interrogatórios e a tortura pareciam deixá-lo à
beira de uma quase semi consciência, era o impensável. Sabia quiem era e porque estava ali. Sabia o que devia a si e aos outros que como ele lutavam contra o colonialismo português.
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prisioneiros políticos
sábado, 10 de maio de 2014
As jovens nigerianas raptadas
As jovens raptadas, quase trezentas, de uma escola secundária, só agora, começam, por pressão internacional, a ser preocupação do país. É a demência fundamentalista em estado puro, raptam-se inocentes, em nome de Deus, para serem vendidas como escravas sexuais, sabe-se lá para onde a quem, com o argumento, pasme-se, de estudarem numa escola. A educação em vez de um direito é um crime, para estas mentes terroristas.
O que mais perturba é a maldade, é a desumanidade, é o obscurantismo que, por este caminho, tomará outras regiões do mundo, mesmo quando pensávamos que a modernidade e a tecnologia contemporanea tinham feito um progresso de não retorno. Não é assim, há muitos anos zeros para a humanidade e para civilização. A volta às cavernas é uma indecência humana.
O que mais perturba é a maldade, é a desumanidade, é o obscurantismo que, por este caminho, tomará outras regiões do mundo, mesmo quando pensávamos que a modernidade e a tecnologia contemporanea tinham feito um progresso de não retorno. Não é assim, há muitos anos zeros para a humanidade e para civilização. A volta às cavernas é uma indecência humana.
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direitos das mulheres,
violência; terrorismo
sábado, 3 de maio de 2014
A menina egípcia que vendia marcadores de papiro (8)
Não sei
bem, mas eram, seguramente, mais de uma dezena de crianças que vendiam
marcadores e outros pequenos objectos, junto a uma fábrica de transformação de
papiro, onde os turistas param para observar o processo de produção e fazer
compras.
Era uma
menina muito bonita! Não tinha mais de seis ou sete anos, no máximo. Muito
pequenina, muito esperta, vestidinha à árabe a vender aos turistas marcadores
de papiro. Contava, na perfeição, em inglês, francês, espanhol, e repetia, sem
parar, os números até doze, número que correspondia ao “molhinho” de marcadores
que vendia por um dólar.
Toda a gente, literalmente toda, enquanto eu estive a observar, lhe comprou
os marcadores. Ela era o centro de todas as atenções, impossível não a fixar,
pela graça, pela desenvoltura, pelo modo como uma criança, tão pequena e tão
linda, contava marcadores de papiro.
A mãe vigiava-a, por perto, mas mesmo assim não evitava que os
“maiorzinhos” não achassem piada à freguesia que conseguia atrair e lhe dessem
encontrões, a obrigassem a sair da frente e a sentassem a um canto. Por um
lado, percebo, ela tirava-lhes todo o negócio, conseguia todas as atenções. Mas
continuava. Contava, repetidamente, sem parar, não desistia, e isso foi o mais
impressionante, não desistiu nunca, a determinada altura chorava
convulsivamente, lágrimas rosto abaixo, mas continuava: one two, three, …e mais
um molhinho de marcadores, e outro, e outro e mais outro … .
- Minha
menina, não podes brilhar tanto! Tens de deixar os outros também vender. Vá lá,
tem de ser assim! Não te dão encontrões e socos por não gostarem de ti, apenas
porque não suportam não vender nada aos turistas que param junto a fábrica de
transformação do papiro. Vai descansar um pouco, cuidar da tua voz, já rouca de
tanto apregoar marcadores de papiro, deixa os outros meninos também venderem um
bocadinho. Não quero ver-te chorar mais!
Agosto,
2005, arredores do Cairo
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