“Não
vê a minha situação, não me deixa explicar, diz-me que não pode fazer nada, que
a lei não permite” (referia-se à assistente social, com quem tinha acabado de
falar, depois ver esgotado o subsídio de desemprego). Ao ouvir aquela senhora
que, no seu sentido comum de justiça, acabara de (d) enunciar toda a conflitualidade
do campo prático: entre a universalidade da lei e a pessoa concreta, ecoaram, em
mim, textos de Ricoeur.
Regresso
a esses textos e à consciência da importância de uma perspetiva de saber
prático capaz de dar resposta aos
conflitos éticos das sociedades de hoje, tanto os determinados pelas
contingências económicas, sociais e políticas, como os determinados pelo pluralismo
moral que as diferentes formas de
bem viver colocam na ordem do dia.
Para Ricoeur, valores e regras são estruturas morais
com que os indivíduos e as sociedades se orientam e determinam, pelo que, em
vez de oposição, o que faz sentido é encontrar passagens, considerando tanto argumentos
como interpretações, assentes na ponderação crítica do homem sábio, aquele que
decide com a convicção de estar a fazer a melhor escolha, naquele caso
concreto.