O que surpreende no filme, até ao ponto de nos perturbar, é como uma pessoa tão inteligente, capaz dos maiores raciocínios lógicos e matemáticos, carrega uma fobia que lhe transtorna a vida, ao ponto de um desequilíbrio mental.
Ter medo de germes, perscrutá-los em todo o lado, não será algo que um ser inteligente pode racionalizar? Pelos vistos não. Sabemos tão pouco de nós próprios, a mente humana está na infância do conhecimento. Para onde caminhamos? E o futuro, como de resta acaba o filme, haverá um futuro mais capaz de lidar com tantas dualidades? Talvez, não. Para este homem, Howard Hughes, que morre em 1976, o futuro foi a deteriorização progressiva da sua situação clínica.
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quarta-feira, 2 de abril de 2014
sexta-feira, 21 de março de 2014
Nova vaga de imigrantes clandestinos
A vaga de imigrantes que tentam chegar à Europa revelou-se
nos últimos dias de grandes proporções, tanto os que atravessando o norte da
África tentam a fronteira de Melilla como os que atravessando o mediterrâneo
tentam a ilha de Lampedusa. Nada que não seja previsível. À espera têm, muitas
vezes, as autoridades que os intercetam e detêm em centros de acolhimento.
Em seguida, espera-os o regresso às terras de origem, a
volta ao nada, onde o que podem fazer é voltar a tentar de novo os perigos da
imigração. A Europa, a terra de todos os sonhos, é uma casa fechada, com portas
onde não é possível bater, os que insistem não apenas ficam nas mãos de máfias
clandestinas, muitos caindo nas valas de Ceuta e Melilla e morrendo em barcos
superlotados. Pode lá haver coisa pior que túneis sem saída! A emigração está
assim.
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imigração clandestina,
pobreza,
subdesenvolvimento
quarta-feira, 19 de março de 2014
Ainda, os ciganos e a educação
Algumas certezas todos temos: a educação é nas sociedades modernas o melhor meio para assegurar a
inserção social das minorias, no seu acesso a direitos e a oportunidades
iguais; a situação específica dos ciganos traz-lhes desvantagens tanto no acesso como na frequência escolar, por discriminação, insegurança, preconceito, não
reconhecimento da língua, falta de assiduidade, níveis elevados de abandono,
insucesso e pouca valorização familiar da escola..
No entanto, já se fez muito caminho, já se deram passos concretos de apoio e de diferenciação positiva a estas comunidades.
No entanto, já se fez muito caminho, já se deram passos concretos de apoio e de diferenciação positiva a estas comunidades.
Uma das últimas coisas que fiz profissionalmente, na DGIDC, em 2007, foi a participação no projecto "Lançar pontes, falar de nós" que teve como objectivo conhecer boas práticas, partilhar e debater experiências bem sucedidas, de modo a construir respostas integradas sobre a inclusão e o sucesso escolar dos alunos pertencentes à minoria cigana.
Etiquetas:
diversidade,
minorias; culturas
terça-feira, 18 de março de 2014
As praxes e a liberdade individual
O argumento mais forte que
tem sido: a pessoa, num acto de liberdade, decide ser praxada, podia ter dito
que não queria e não disse; a pessoa num acto de liberdade decide praxar,
integrar uma organização, submeter-se a um código, cumprir ordens de um “ditador”,
andar com sapatos rotos até ao indescritível, remendados com fita adesiva preta
(a cena dos sapatos que uma jovem da Lusófona mostrou na televisão, e a
justificação dada para esta e outras coisas: “são parte de mim, da minha
história…”, mostra, à evidência, não apenas o absurdo, mas também a
perigosidade do que aqui está em causa). Que valores são estes? Em nome de quê?
Também, o reitor dessa
universidade usou o argumento da liberdade: “vamos lá proibir! É lá isso
possível! A liberdade é um valor intocável, no tempo do fascismo e das
ditaduras é que se proibia a expressão da liberdade…”
Então, em nenhum momento,
cai o argumento da liberdade individual? Não cai, quando estes jovens estão
submetidos à mais pura das hierarquias? Não cai, quando se expõem fragilidades,
lavam mentes, exploram sentimentos, humilham pessoas, violam direitos…?
Claro que cai, claro
que se violam direitos. Aliás, a praxe é em si mesma a violação de uma
liberdade. Ao colocar-se o praxado numa situação de absoluta incapacidade de
fazer ou de dizer o quer que seja, a não ser o que o lhe é exigido, quebra-se a
reciprocidade eu-tu, há, desde o início, uma liberdade anulada, por isso, a
humilhação pode estar a uma curta distância, não apenas nas praxes violentas, mas
nas coisas mais inócuas, do ponto de vista dos danos físicos.
Relacionado com isto,
discute-se a dificuldade em saber onde está a fronteira entre o aceitável e o
não aceitável, pois o que para uns é humilhante e susceptível de ferir a sua
dignidade, para outros é uma brincadeira, e portanto ninguém está em condições
de determinar o que é ou não uma prática indigna.
Isto é certo. Ninguém pode
falar sobre a dignidade de ninguém, por ser um valor intrínseco à própria pessoa,
mas cada um sabe onde está o limite que, uma vez ultrapassado, deixa marcas, no
mais profundo de si; portanto, ninguém pode pôr em causa a sua dignidade ou
deixar que outros a ponham.
Acabamos de assistir a
isto: pensaram (podiam) os jovens que morreram no Meco recusar-se a ir à praia
nessa noite de temporal no mar? O que os impossibilitava de tomar uma atitude?
Por que perderam a autonomia, por que perderam a vontade própria? É por isso
que as praxes são uma indignidade e não apenas nas situações limite, como esta;
são-no sempre, porque se trata de algo que é da sua própria natureza.
Ucrânia, mais do que uma crise
Ucrânia, mais do que uma crise
Ainda não consegui escrever nada sobre a Ucrânia e aquela
praça da independência, onde muitos morreram às ordens do ditador (mais de cem
pessoas), outros ficaram feridos e outros vagueiam perdidos de si mesmos,
incrédulos com o que se passou e se avizinha. Praça, onde, ainda assim, há
qualquer coisa de profundamente humano: a proximidade com o outro. O médico que
chega para tratar quem precisa, a psicóloga que montou um lugar de consulta
para ouvir quem já não aguenta o desespero, enfim, um sem número de pessoas
solidárias, disponíveis, para tornar menos dura uma realidade de situações
extremas.
Mas, depois, vêm falar-nos de política e, logo, parece que
a tal humanidade falha num qualquer ponto, agora, o atender o outro, o dar a
mão, o abrir a porta, o dividir o abrigo… parecem uma quase impossibilidade;
interesses particulares se impõem, há diferentes grupos e diferentes agendas,
que vão da extrema-direita, a partidos democráticos, a grupos mais desorganizados.
Um caldo político que não augura saídas fáceis, ainda que as instituições
continuem aparentemente a funcionar, sem quebras institucionais nem legais (há quem
diga que houve quebras); há um governo de transição que fará o que puder para
que a eleições, já marcadas para maio, tragam uma nova luz e uma nova
esperança.
Enquanto isto, que já era muito, a Rússia, que não
reconhece as novas autoridades de Kiev, avança para a Crimeia, com um desplante
e uma força, que o mundo pasma. Mas desta vez, parece que todos estavam
acordados, Estados Unidos, União Europeia, ONU…, e a Rússia saberá que vai
pagar pela violação do direito internacional e pelos desmandos desnecessários e
incompreensíveis.
Uma vez mais se prova que nunca estamos a salvo, quando
pensávamos que crises desta natureza se resolveriam sentados a uma mesa, o que primeiro
se exibe são os tanques militares.
Etiquetas:
corrupção; democracia; estado de direito
A menina cigana, casada aos onze anos
Uma menina de onze anos, duma comunidade cigana da região de
Aveiro, foi dada em casamento a um rapaz da mesma comunidade. O caso não é
único, mas, neste, as autoridades intervieram, os pais e os sogros foram levados
à justiça.
Muitas vezes, as autoridades assistem sem fazer nada. O ir
à escola é uma obrigação, com onze anos, aquela criança deve estar na escola e deve
ter tempo para brincar.
Os pais têm deveres e as crianças têm direitos,
independentemente da etnia, cultura, local de nascimento, situação social…
Estas famílias são cidadãos portugueses, têm direitos e
apoios sociais – escola, saúde, segurança social… - têm por isso de viver com
os outros, socialmente, cumprindo as leis fundamentais do país.
Etiquetas:
cultura,
direitos da criança; saúde
domingo, 26 de janeiro de 2014
As praxes académicas, uma indignidade
Espero que a comunicação social continue a destapar o véu, todos os véus. O que se passa com as praxes é inaceitável e ponto, nem precisaríamos argumentar, dada a desconsideração, o desrespeito, que vai até à humilhação - em que há uma completa anulação do eu, a vítima é colocada numa posição em que nada pode fazer, senão sujeitar-se - e à morte como pode te acontecido no Meco com os jovens da Lusófona. Ora, isto é inumano, simplesmente.
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condição humana,
dignidade,
integridade
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