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sexta-feira, 4 de julho de 2014

Uma sabedoria prática, para o mundo de hoje

“Não vê a minha situação, não me deixa explicar, diz-me que não pode fazer nada, que a lei não permite” (referia-se à assistente social, com quem tinha acabado de falar, depois ver esgotado o subsídio de desemprego). Ao ouvir aquela senhora que, no seu sentido comum de justiça, acabara de (d) enunciar toda a conflitualidade do campo prático: entre a universalidade da lei e a pessoa concreta, ecoaram, em mim, textos de Ricoeur.
Regresso a esses textos e à consciência da importância de uma perspetiva de saber prático capaz de dar resposta aos conflitos éticos das sociedades de hoje, tanto os determinados pelas contingências económicas, sociais e políticas, como os determinados pelo pluralismo moral que as diferentes formas de bem viver colocam na ordem do dia.
Para Ricoeur, valores e regras são estruturas morais com que os indivíduos e as sociedades se orientam e determinam, pelo que, em vez de oposição, o que faz sentido é encontrar passagens, considerando tanto argumentos como interpretações, assentes na ponderação crítica do homem sábio, aquele que decide com a convicção de estar a fazer a melhor escolha, naquele caso concreto.


quinta-feira, 3 de julho de 2014

O conflito entre israelitas e palestinianos

Talvez, a violência seja tão natural em nós como o bem, mas, o que fizemos a tantos séculos de civilização, a tanta educação, a tantas escolas, a tantos humanismos, a tanta cultura, a tanta ciência…? Não fizemos nada. Parece difícil fazer.
Há sempre uma súbita vingança marcada pela raiva, pelo ódio…; há sempre um bode expiatório para sacrificar. Os três jovens israelitas mortos pelos palestinianos “têm de ser “vingados”, já morreu um palestiniano, continuando a busca por quem se julga estar implicado. Esta lógica de violência é uma escalada aparentemente sem retorno, apesar dos gestos de paz como os que o Papa promoveu há pouco tempo no Vaticano.
Onde está a solução? Parece não existir; e isso é que dá medo.


terça-feira, 24 de junho de 2014

Daniel, o menino da Madeira,

O que podemos dizer daquela mãe? Há uma quase impossibilidade de dizer seja o que for, porque não podemos ou não queremos imaginar que uma mãe tente vender o seu próprio filho a um casal estrangeiro.  Sai fora de tudo, Precisamos de saber quem a ajudou, a sua avaliação psicológica, etc.etc.  Tudo parece mal contado, mas talvez seja necessário atar pontas ainda soltas.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Mariam Yahya Ibrahim, a intolerância religiosa

A mulher sudanesa, com uma criança de menos de dois anos e grávida de oito meses é condenada à morte, por um tribunal de Cartum, supostamente por renegar o islão. Casada com um norte-americano, cristão, converteu-se ao cristianismo, porventura, muito longe de pensar até onde chegaria a intolerância religiosa do seu país, onde a lei da sharia se impõe a tudo.
Embaixadas dos Estados Unidos, Canadá… procuram uma saída para o caso, mas, até agora, apenas, a morte por enforcamento foi adiada por dois anos, por causa dos filhos. Ontem deu à luz a sua filha; certamente, nenhuma lei lhe tira a alegria de ser mãe, mesmo que isso lhe custe o inimaginável. Podemos nós pensar sequer nas condições em que está mulher presa com os dois filhos? Não podemos.
Mas, podemos denunciar a intolerância religiosa, pedir a quem pode fazer pressão, como a Amnistia Internacional e outras organizações de defesa dos direitos humanos, que não desistam, por Mariam e pelos filhos; não desistam pela liberdade de cada um ter a religião que entender, direito humano inalienável.



quarta-feira, 11 de junho de 2014

Onde estão as jovens raptadas, na Nigéria?

Parece que o mundo, que se escandalizou com o vídeo do sujeito que prometia vendê-las como escravas sexuais, por cerca de 10 euros cada uma, se voltou a esquecer das jovens. Por que continuam sem ser libertadas e entregues às suas famílias? O argumento de que sabem onde estão, mas não podem  dizê-lo por estratégia, para não por em perigo a vida das meninas, mas que estão a trabalhar no caso, começa  a não colher. Algo se passa no subterrâneo dos meandros da política e do terrorismo naquele país (a troca das jovens por terroristas, etc, etc.),  que nos escapa.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

O trágico da guerra, do terrorismo, do conflito

O trágico na ação aí está. Está no terrorismo talibã que ontem vimos no ataque a um aeroporto de uma cidade paquistanesa,com mais de duas dezenas de mortos; está no conflito israelo-árabe que o Papa, também ontem, procurou de uma forma não política (ainda assim, política) colocar na ordem do dia e numa perspetiva de urgência; está nos conflitos quotidianos que vivemos sempre que as regras chocam de frente com as convicções. Conhecemos isto desde os gregos. No conflito que opõe Antígona ao tio, na tragédia de Sófocles, a oposição é entre o puro respeito à lei e a convicção íntima de que enterrar os mortos é parte da dignidade humana, e isso é anterior a qualquer legalidade. Como resolver o conflito? Continuar a extremar posições, não leva a nenhuma solução. Isto serve para os conflitos de hoje. Para todos os conflitos.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

A propósito da nova coroação real, em Espanha

Por que é que há reis e rainhas – é a pergunta que faço?
Por que é que se nasce rei, rainha, príncipe, princesa, etc, etc? Nenhuma razão. Nascemos indivíduos livres e iguais – é o primeiro princípio consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
Ponham os príncipes e os reis a pensar sobre o que são, a ver se se descobrem outra coisa. A monarquia não tem nenhuma justificação racional, pode ter todas as outras: tradição, cultura, estabilidade política, identidade nacional…, o que seja, mas nenhuma que os coloque num patamar à parte. Sou absolutamente republicana.