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sexta-feira, 10 de maio de 2013

A questão do mal, ainda a propósito das jovens de Cleveland

Vivemos em sociedades organizadas, com leis e instituições a funcionar, mas sem saber bem como testemunhamos quase diariamente os maiores horrores - a maldade em estado puro, sem qualquer explicação possível. 
A liberdade individual que devia ser a coisa mais inviolável é todos os dias ameaçada e posta em causa. Com diferentes formas e graus, a violência pode ir  desde a mais subtil chantagem psicológica à mais explícita guerra  com armas de destruição massiva, nucleares, químicas…, a maldade aí está a lembrar-nos a face terrível  de alguns seres humanos. 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

as jovens sequestradas de Cleveland

Dez anos sequestradas, até um dia é muito tempo. O que se passou, o que se viveu naquela casa, ninguém sabe. Só as jovens podem falar daquela maldade, com requintes de perversidade. Só as jovens podem falar do inferno que viveram, Para já, a nós, parece-nos quase impossível o que aconteceu, Mas não foi. Que sabemos nós de quem vive na casa ao lado?

sábado, 4 de maio de 2013

Mortes no Bangladesh, debaixo dos escombros

Quem é responsável pela morte de mais de trezentas pessoas, pelas vidas perdidas e pelas famílias destroçadas? Quem é responsável pela construção de oito andares num prédio que tinha apenas fundação para cinco? Quem é responsável pelas condições miseráveis em que trabalham os operários daquela cidade e de tantas cidades do mundo?
Não há responsáveis? Há, com certeza. Talvez muitas das marcas de luxo de todas as avenidas, de cidades europeias, americanas e outras, que exploram, lavando as mãos, como se nada fosse, a mão de obra de trabalhadores que não tem escolha, ou fazem aquilo ou caem na miséria mais absoluta. O direito a um trabalho é ainda uma miragem em demasiados sítios, por causa dos múltiplos interesses. Sempre os interesses de uns quantos a ditar lei.

sábado, 27 de abril de 2013

O albergue

Todos eram sem-abrigo. Viveram, anos a fio, na rua, alguns mais de vinte anos. Todos têm os corpos e as almas marcados pelo álcool, pela droga, pela doença, pela solidão…
“Fui parar à rua – diz-me um senhor com quarenta e poucos anos – porque não consegui gostar de ninguém, nem dos meus pais, nem dos meus irmãos, nem da minha mulher… Quando comecei a namorá-la, houve um clique em mim, pensei que era possível aquele amor. Mas não foi. Nada me preenchia, procurava sem saber o quê, até que um dia sai de casa, mudei de cidade e desci ao inferno das ruas. Só havia álcool, cocaína, abandono, dias inteiros, em grupo, traficando e roubando para consumir. Anestesiado, não me dava conta de que já não era gente. Até que um dia, há quatro anos, fui parar ao hospital, quase morto e, depois, já em recuperação, fui trazido para aqui. Um dia qualquer, hei-de comprar um bilhete de autocarro e voltar a casa. Será que ainda estão lá aqueles a quem não fui capaz de querer?



quarta-feira, 24 de abril de 2013

Terrorismo, em Boston

Podem fazer-se muitas análises, mas a que a mim mais me impacta é a que tem a ver com o extremismo islâmico: matar por Alá. O absurdo é total.
O que aconteceu, na cabeça destes jovens, mais ou menos inseridos na sociedade americana, com perspectivas de futuro, para, dum momento para o outro, se fazerem jihadistas, combatentes por um radicalismo que considera que não é apenas o ocidente que ameaça as suas crenças (de que nem sequer eram grandes praticantes) mas até os moderados do islão?
Alguma coisa de muito perturbador nos escapa, para que não sejamos capazes de uma mínima compreensão sobre isto. Talvez, algo da ordem da identidade mais profunda de cada ser humano: somos quem?


terça-feira, 16 de abril de 2013

Imigrantes,

Levantar muros, fechar portas e janelas não é a melhor resposta, nem será nunca a solução para os problemas das sociedades actuais, cada vez mais diferenciadas, diversas e multiculturais, com prementes questões de direitos humanos – discriminações, violência, insegurança, imigração clandestina, exclusão social...

O número crescente de excluídos não é apenas formado pelos africanos e outros imigrantes que chegam às cidades do mundo rico à procura de condições mínimas de sobrevivência, são, também, os que, embora, vivendo nele, estão à margem do sistema económico e social. As questões da distribuição da riqueza, as injustiças sociais, são a causa das maiores violações de direitos humanos no mundo.  

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Morre-se, assim


Deixou na mesa um maço de notas e disse à mãe da criança que eram para a levar ao médico, fazendo todos os gestos possíveis para que ela entendesse (talvez fosse surda-muda). Estendido numa esteira, ardendo em febre, olhos fechados, imóvel, com uma fragilidade que dói e assusta, pois pressente-se o pior, o menino ali está.
Se fosse num país desenvolvido, teria sido, a tempo e horas, assistido num hospital e um antibiótico ou outro medicamento ter-lhe-ia salvo a vida. Mas, assim, naquele subúrbio insalubre, daquela imensa cidade asiática, o destino seria outro. Foi tempo de mais até se arranjar o dinheiro necessário para o tratar.  
Se estivesse a escrever ficção, este menino não morreria, haveria tempo para a mãe o levar ao hospital, para comprar medicamentos, e o fim seria o de uma criança feliz, a brincar na rua, mas como estou a escrever sobre a realidade, não posso fugir ao fim trágico, o menino morreu.
O tal senhor que tinha deixado o maço das notas, chega para o funeral, há muita gente, a mãe não está só. Cumprem-se os rituais religiosos e culturais, e o menino parte. Mas, talvez nunca parta enquanto viverem, alguns dos que ali estão, pelo menos a mãe.