Todos eram sem-abrigo.
Viveram, anos a fio, na rua, alguns mais de vinte anos. Todos têm os corpos e
as almas marcados pelo álcool, pela droga, pela doença, pela solidão…
“Fui parar à rua –
diz-me um senhor com quarenta e poucos anos – porque não consegui gostar de
ninguém, nem dos meus pais, nem dos meus irmãos, nem da minha mulher… Quando
comecei a namorá-la, houve um clique em mim, pensei que era possível aquele
amor. Mas não foi. Nada me preenchia, procurava sem saber o quê, até que um dia
sai de casa, mudei de cidade e desci ao inferno das ruas. Só havia álcool,
cocaína, abandono, dias inteiros, em grupo, traficando e roubando para
consumir. Anestesiado, não me dava conta de que já não era gente. Até que um
dia, há quatro anos, fui parar ao hospital, quase morto e, depois, já em
recuperação, fui trazido para aqui. Um dia qualquer, hei-de comprar um bilhete
de autocarro e voltar a casa. Será que ainda estão lá aqueles a quem não fui
capaz de querer?
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