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quarta-feira, 4 de abril de 2018

O Grande Ditador, o filme (3)

«No capítulo 17, do Evangelho segundo São Lucas, lê-se: “O reino de Deus está no próprio homem”. Num único homem, não num único grupo de homens, mas em todos os homens,  e vós sois o povo, tendes o poder para criar máquinas, o poder para criar a felicidade. Vós, o povo, tendes o poder para criar a vida livre e esplêndida ... para fazer dessa vida uma radiante aventura.

Então, em nome da democracia, utilizemos esse poder... Unamo-nos todos, lutemos por um mundo novo, um mundo limpo que ofereça a todos a possibilidade de trabalhar, que dê à juventude um futuro e proteja os velhos da miséria.
Com estas mesmas promessas, gente ambiciosa exerceu o poder, mas mentiram, não mantiveram as suas promessas, nem as manterão nunca! Os ditadores liberaram-se, mas domesticaram o povo.
Combatamos agora para que se cumpra esta promessa. Combatamos por um mundo equilibrado ... Um mundo de ciência, no qual o progresso leve a todos a felicidade. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos»!
  


terça-feira, 3 de abril de 2018

O grande ditador, o filme (2)


«A aviação e a rádio aproximaram-nos uns dos outros, mas a própria natureza destes inventos requeria a bondade do homem e reclamava a fraternidade universal para a união de todos. Neste momento, a minha voz chega a milhares de seres oprimidos, espalhados pelo mundo. Aos que podem compreender-me digo-lhes:
- Não desespereis, a desgraça que caiu sobre nós, não é mais que o resultado do apetite feroz da amargura de uns homens que temem o caminho do progresso humano. O ódio dos homens passará, os ditadores morrerão e o poder que usurparam ao povo voltará ao povo.

Soldados não vos entregueis e esses brutos homens que vos desprezam e vos tratam como escravos, homens que governam as vossas vidas, decidem os vossos actos e os vossos pensamentos: domesticam-vos, tratam-vos como animais e utilizam-vos como carne para canhão. Não vos coloqueis nas mãos desses homens anti naturais, desses homens máquinas, com coração de máquinas.
Vós não sois máquinas! Não sois animais! Sois homens!; Levais o amor e a humanidade nos vossos corações. Não odieis. Só os que não são amados odeiam. Os que não são amados e os anormais... soldados não combatais pela escravatura, combatei pela liberdade».

segunda-feira, 2 de abril de 2018

O Grande Ditador, o filme (1)


Para quem não viu o filme (1940), uma nota sobre a situação: uma imensidão de soldados, todos bem alinhados e atentos, espera o discurso do grande ditador (Hitler, evidentemente). Em vez dele, Charlot (que devido à semelhança física fora confundido) faz este brilhante discurso sobre direitos humanos, falando de respeito pelos outros, de liberdade, de progresso, de justiça e de democracia.


 Discurso final de Charles Chaplin no filme “O grande Ditador”

 «Realmente sinto muito mas não aspiro a ser imperador. Isso não significa nada para mim. Não pretendo governar nem conquistar nada de nada. Ao contrário, gostaria de ajudar, se possível, cristãos e judeus, negros e brancos, todos temos o desejo de nos ajudarmos mutuamente. A gente civilizada é assim. Queremos viver da nossa sorte comum e não da nossa desgraça comum. Não queremos desprezarmos-nos nem odiarmos-nos mutuamente. Neste mundo há sítio para todos. A boa terra é rica e pode garantir a subsistência de todos.
 O caminho da vida pode ser livre e magnífico, mas perdemos esse caminho. A voracidade envenenou a alma dos homens, rodeou o mundo num círculo de ódio e fez-nos entrar na miséria e no sangue.
Melhorámos a velocidade, mas somos escravos dela, a mecanização, que traz consigo a abundância, afastou-nos do desejo. A ciência tornou-nos cínicos e a inteligência duros e brutais, pensamos em excesso e não sentimos bastante.
Temos mais necessidade de espírito humanitário do que de mecanização. Necessitamos mais de amabilidade e simpatia do que de inteligência. Sem estas qualidades a vida só pode ser violenta e tudo está perdido».
 

 (continua)

terça-feira, 27 de março de 2018

Idosos

Somos o país da Europa onde mais decresceu a natalidade; onde a população idosa é cada vez em maior número. 
 Segundo o relatório da GNR, em 2017, vinte e oito mil idosos viviam sozinhos; destes, três mil e quinhentos estavam  isolados.  É inevitável, nestas circunstâncias, um processo de desintegração social e relacional que tenderá a aumentar.
Em casa, frente à televisão, ou sentados à porta, esperam as carrinhas de apoio domiciliário que felizmente estão por todo o lado, até nos sítios mais recônditos do país, levando refeições, cuidados de higiene e de saúde.
O pior é quando começam a perder a mobilidade ou uma qualquer demência se torna mais pronunciada, para muitos, e mais se não têm apoio familiar, resta o lar. 



sábado, 24 de março de 2018

Marielle Franco, assassinada


Marielle Franco, tinha 39 anos, era socióloga e vereadora no Rio de Janeiro. Foi morta, no dia 14 de março, com quatro tiros na cabeça, juntamente com o seu motorista.
Por que mataram Marielle Franco? O que incomodava os seus assassinos? Incomodava-os que ela fosse uma ativista dos direitos humanos, contra o racismo, a pobreza, a vida sub-humana das favelas, a violência policial…, voz dos que não têm voz?
Não sei; sei que a sua morte tomou tal proporção que ela se tornará num símbolo para todos os que defendem a dignidade de qualquer ser humano, seja quem for.
Em Portugal, várias organizações organizaram vigílias, em Lisboa, Viseu, Braga e Porto. Prestou-se homenagem, fizeram-se perguntas e exigências: encontrem os assassinos; expliquem o que aconteceu.

quinta-feira, 22 de março de 2018

Autonomia dos povos – a propósito do caso catalão


O verdadeiramente decisivo e fundamental, na vida das pessoas, pertencentes a um determinado povo, não é uma identificação exterior, ter os traços físicos de terminada raça ou etnia; o que resiste e, em definitivo, se subleva e  manifesta, é uma identidade interior, de valores e crenças que configuram uma consciência comum.  
Foi assim em relação  aos kosovares, aos chechenos..., é assim em relação aos curdos, aos catalães...Os Estados podem definir, delimitar ou usurpar o território, mas em relação ao invisível, àquilo que constitui a raiz profunda do sentir e do pensar humanos, não é fácil fazê-lo, mesmo que proíbam a língua, a religião, as tradições...

terça-feira, 20 de março de 2018

O que terá acontecido às jovens de Teerão?

Há um mês atrás, 29 jovens foram presas, mas não cometeram nenhum crime. Apenas tiraram o lenço, que são obrigadas a usar em público, colocaram-no numa haste e, como se fosse uma bandeira, a sua bandeira, agitaram-no de um lado para o outro, desafiando as autoridades e as policias para os bons costumes daquele país.
Não se percebem estas crenças que atentam contra a liberdade individual, que obrigam a pessoa a diluir-se no grupo e na religião, como se não tivesse vontade própria.
Cada mulher é que pode dizer se quer ou não usar o lenço, não pode ser uma determinação religiosa, social ou o que seja. Quem quer usar, usa; quem não quer, não usa.
O presidente diz que é infantilidade que há 80 milhões de mulheres a usá-lo.  Eu digo que é demência de um regime e de uma deriva fundamentalista  sem racionalidade.