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quarta-feira, 8 de maio de 2013
as jovens sequestradas de Cleveland
Dez anos sequestradas, até um dia é muito tempo. O que se passou, o que se viveu naquela casa, ninguém sabe. Só as jovens podem falar daquela maldade, com requintes de perversidade. Só as jovens podem falar do inferno que viveram, Para já, a nós, parece-nos quase impossível o que aconteceu, Mas não foi. Que sabemos nós de quem vive na casa ao lado?
Etiquetas:
Interrogações;Vidas,
mal,
violência
Local:
Cleveland, OH, USA
sábado, 4 de maio de 2013
Mortes no Bangladesh, debaixo dos escombros
Quem é responsável
pela morte de mais de trezentas pessoas, pelas vidas perdidas e pelas famílias
destroçadas? Quem é responsável pela construção de oito andares num prédio que
tinha apenas fundação para cinco? Quem é responsável pelas condições
miseráveis em que trabalham os operários daquela cidade e de tantas cidades do mundo?
Não há responsáveis?
Há, com certeza. Talvez muitas das marcas de luxo de todas as avenidas, de
cidades europeias, americanas e outras, que exploram, lavando as mãos, como se nada
fosse, a mão de obra de trabalhadores que não tem escolha, ou fazem aquilo ou
caem na miséria mais absoluta. O direito a um trabalho é ainda uma miragem em
demasiados sítios, por causa dos múltiplos interesses. Sempre os interesses de
uns quantos a ditar lei.
Etiquetas:
segurança no trabalho,
trabalho com direitos
sábado, 27 de abril de 2013
O albergue
Todos eram sem-abrigo.
Viveram, anos a fio, na rua, alguns mais de vinte anos. Todos têm os corpos e
as almas marcados pelo álcool, pela droga, pela doença, pela solidão…
“Fui parar à rua –
diz-me um senhor com quarenta e poucos anos – porque não consegui gostar de
ninguém, nem dos meus pais, nem dos meus irmãos, nem da minha mulher… Quando
comecei a namorá-la, houve um clique em mim, pensei que era possível aquele
amor. Mas não foi. Nada me preenchia, procurava sem saber o quê, até que um dia
sai de casa, mudei de cidade e desci ao inferno das ruas. Só havia álcool,
cocaína, abandono, dias inteiros, em grupo, traficando e roubando para
consumir. Anestesiado, não me dava conta de que já não era gente. Até que um
dia, há quatro anos, fui parar ao hospital, quase morto e, depois, já em
recuperação, fui trazido para aqui. Um dia qualquer, hei-de comprar um bilhete
de autocarro e voltar a casa. Será que ainda estão lá aqueles a quem não fui
capaz de querer?
quarta-feira, 24 de abril de 2013
Terrorismo, em Boston
Podem fazer-se muitas análises,
mas a que a mim mais me impacta é a que tem a ver com o extremismo islâmico:
matar por Alá. O absurdo é total.
O que aconteceu, na cabeça destes
jovens, mais ou menos inseridos na sociedade americana, com perspectivas de
futuro, para, dum momento para o outro, se fazerem jihadistas, combatentes por um radicalismo que considera que não é
apenas o ocidente que ameaça as suas crenças (de que nem sequer eram grandes
praticantes) mas até os moderados do islão?
Alguma coisa de muito perturbador
nos escapa, para que não sejamos capazes de uma mínima compreensão sobre isto. Talvez,
algo da ordem da identidade mais profunda de cada ser humano: somos quem?
Etiquetas:
cultura,
fundamentalismo religioso,
identidade,
vidas,
violencia
terça-feira, 16 de abril de 2013
Imigrantes,
Levantar muros,
fechar portas e janelas não é a melhor resposta, nem será nunca a solução para
os problemas das sociedades actuais, cada vez mais diferenciadas, diversas e
multiculturais, com prementes questões de direitos humanos – discriminações,
violência, insegurança, imigração clandestina, exclusão social...
O número
crescente de excluídos não é apenas formado pelos africanos e outros imigrantes
que chegam às cidades do mundo rico à procura de condições mínimas de
sobrevivência, são, também, os que, embora, vivendo nele, estão à margem do
sistema económico e social. As questões da distribuição da riqueza, as
injustiças sociais, são a causa das maiores violações de direitos humanos no
mundo.
segunda-feira, 15 de abril de 2013
Morre-se, assim
Deixou na mesa um maço de notas e
disse à mãe da criança que eram para a levar ao médico, fazendo todos os gestos
possíveis para que ela entendesse (talvez fosse surda-muda). Estendido numa
esteira, ardendo em febre, olhos fechados, imóvel, com uma fragilidade que dói e
assusta, pois pressente-se o pior, o menino ali está.
Se fosse num país desenvolvido,
teria sido, a tempo e horas, assistido num hospital e um antibiótico ou outro
medicamento ter-lhe-ia salvo a vida. Mas, assim, naquele subúrbio insalubre,
daquela imensa cidade asiática, o destino seria outro. Foi tempo de mais até se
arranjar o dinheiro necessário para o tratar.
Se estivesse a escrever ficção,
este menino não morreria, haveria tempo para a mãe o levar ao hospital, para comprar
medicamentos, e o fim seria o de uma criança feliz, a brincar na rua, mas como estou
a escrever sobre a realidade, não posso fugir ao fim trágico, o menino morreu.
O tal senhor que tinha deixado o
maço das notas, chega para o funeral, há muita gente, a mãe não está só.
Cumprem-se os rituais religiosos e culturais, e o menino parte. Mas, talvez nunca
parta enquanto viverem, alguns dos que ali estão, pelo menos a mãe.
quinta-feira, 11 de abril de 2013
Mulheres sem rosto
Vimos, há dois ou três dias, numa reportagem televisiva,
aquando da deslocação do ministro da saúde à Arábia –Saudita, procurando
negócios, nomeadamente nesta área, mulheres de bata branca e um enorme véu
preto sobre o rosto, ficando apenas a descoberto os olhos. Chocante, para dizer o
mínimo. Inaceitável, quando o mundo de hoje é de inter-relações globais.
Já escrevi tantas
vezes sobre este assunto, mas sinto que não podemos continuar sem nada fazer, o
argumento religioso e cultural não chega, não estamos mais na Idade Média, em
sociedades fechadas, a abertura impõe novos critérios, desde logo o do respeito
pela relação com os outros.
Sem rosto, parecem também sem identidade, como é que as vemos, como é que as recordamos? Não há relação, nos moldes em que a entendemos, da solicitude, da
reciprocidade, do olhar o rosto. Não queremos impor nada mas parece razoável
perguntar: não temos o direito a uma relação face a face, a uma relação de proximidade que só o rosto, torna possível. Mulheres sem rosto, quem lhes impõe
tal destino?
Etiquetas:
cultura,
direitos das mulheres
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