Pesquisar neste blogue

sábado, 27 de dezembro de 2014

Sobrevivência, dez anos depois do Tsunami


Dez anos depois do Tsunami, quando a tragédia volta aos meios de comunicação, ouvimos histórias de sobrevivência, verdadeiramente incríveis. O sentido da sobrevivência, algo da ordem do instinto, ultrapassa a racionalidade e coloca-nos num limite que não imaginamos possível. Talvez, nada leve tão longe a capacidade de superação, de resistência e de sofrimento, como a luta por continuar a respirar, a alimentar-se, a permanecer à superfície…, mesmo que o amanhã seja de perdas, lutos e nódoas negras.
É certo que, passado tempo, já sem a dor inicial, a dominar os dias, ganha-se força para enfrentar o caminho, sair de casa, cumprimentar os vizinhos, ir trabalhar, entrar no supermercado, passear no jardim…, como se nada fosse, como se não existissem marcas. Ainda que, em muitos casos, uma dor silenciosa, de aceitação, longe da rutura e do abismo dos primeiros instantes, continue lá no mais profundo de cada um.


sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Procura

Voltou ao lugar, onde já tinha ido, muitas vezes, sempre, na esperança de a encontrar. Entrou no bar da estrada e olhou fixamente os camionistas debruçados sobre o balcão, fumando e bebendo. Procurava um, em especial:
- O senhor é de…, o senhor é o…, o senhor é de…, o senhor chama-se…
- Não, não sou de… não me chamo…; não sou, não me chamo…
A resposta não difere. A filha pode estar morta, vítima de sida ou de outra qualquer doença, mas isso não a impedirá de voltar de novo, enquanto não souber o que lhe aconteceu
- A sua filha saiu daqui, foi para sul – diz-lhe o dono do bar.
- Para sul, para onde?
- Não sei dizer. Parece que ninguém sabe.
Não sabe bem onde fica o sul, será muito longe, não tem como ir, mas voltará a este e a outros bares da beira de estrada, até saber o que se passou. Não desiste dela. Como poderia fazê-lo? Não pode.


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Bom Natal

Parece que o tempo é especial, e é. Temos uma predisposição diferente, somos  ouvintes, atenciosos, amigos, colaborantes, não indiferentes ... Que este espírito perdure por todo o ano.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Prémio Nobel da Paz

Malala recebeu, juntamente com um médico indiano activista contra o trabalho infantil, o prémio Nobel da Paz. Obviamente que Malala é mais do que uma menina vítima do extremismo talibã e da negação dos direitos das mulheres, nomeadamente o direito à educação. É também um símbolo pelo que representa, pelo que sinaliza, cada vez que intervém nos média. Malala somos todos nós, de algum modo; todos os que lutam diariamente pelos direitos humanos. 

                                                                                                  

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Lá longe, na minha infância

Queria falar, neste Natal, dos que, longe de casa, são imigrantes, refugiados, deslocados..., mas regressei à minha infância. 
Anos sessenta. Era criança e não percebia muitas coisas. Não percebia, porque homens, pela calada da noite, em segredo, partiam, a"salto", para a França, atravessando montes e vales, levados por "passadores". Agora sei, fugiam da miséria em que viviam. Iam à procura de dinheiro para alimentar as suas famílias, mandar os filhos à escola, fazer uma casa. Era assim. Nunca teria ido estudar, se o meu pai não tivesse ido para a França. Homens que deixavam as suas casas, os seus filhos, as suas mulheres e partiam, quantos sacrifícios, para chegar à fronteira francesa e quem sabe a Paris, e aí arranjar um alojamento e um trabalho, precários que fossem. 
Era criança e não percebia muitas coisas. Não percebia por que jovens, de dezoito, dezanove, anos e alguns até menos, também, fugiam a "salto", para França e a Alemanha. Ficavam desertores, não podiam regressar, se voltassem ao seu país seriam presos. Agora sei, fugiam à guerra, à guerra colonial, uma guerra de que talvez pouco ou nada soubessem, senão que lhes podia roubar a vida.



quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O massacre do Paquistão

Por que atacaram e mataram mais de cento e trinta alunos, ontem, numa escola paquistanesa? O terrorismo talibã é abominável, não vejo nada pior por estes tempos. Morrem inocentes, crianças e jovens, em nome de um fundamentalismo sem qualquer regra, sem qualquer sentido. É obscurantismo puro.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Indochina, o filme

Queria escrever sobre a força de alguns sentimentos.Vêm-me à ideia o filme “Indochina”, que vi há muito tempo, e a imagem de um jovem que viveu, até à idade adulta, construindo uma imagem poderosa e ao mesmo tempo romântica e feliz de uma mãe guerreira, activista política, na luta pela independência do Vietname.
Num certo dia, sabendo que a mãe estaria, em França, numa tal recepção, decide ir. Cruzam-se, mas não se falam. Ela não sabe quem é ele, deixou-o pequenino com a avó, na longínqua Indochina.Mas, talvez ninguém tenha estado mais presente na sua vida que o filho ausente, que não viu crescer, ir à escola, jogar, ter sonhos de adolescente, nada. 
São dois estranhos, apesar de existirem laços familiares tão próximos e sentimentos tão diários e tão profundos. Talvez o jovem  tivesse ido aquela recepção na esperança de que um clique os lançasse nos braços um do outro, como se os anos não tivessem passado, o tempo se tivesse suspendido e a vida já vivida se tornasse comum. 
Nem o tempo se suspendeu, nem os olhares se cruzaram, ao ponto de se fundirem. Dois estranhos, passando lado a lado, incapazes de se abraçarem, de se comunicarem. Ele podia tê-lo feito, reconheceu-a, sabia quem ela era. Por que razão não o fez, por que permaneceu mudo e imobilizado, no cimo da escada? Por que não foi capaz de lhe falar? 
Talvez, volte a andar quilómetros e quilómetros para a ver de perto, aplaudir o seu discurso, chorar uma lágrima e, quem sabe, até, poder dizer-lhe: - mãe!
E ela  pare o discurso e indiferente a tudo corra para ele gritando: - filho!
Agora, só existe o presente. Tudo é caminho, tudo é futuro…  Celebremos o encontro, aquele encontro.