Dez anos depois do Tsunami, quando
a tragédia volta aos meios de comunicação, ouvimos histórias de sobrevivência,
verdadeiramente incríveis. O sentido da sobrevivência, algo da ordem do instinto,
ultrapassa a racionalidade e coloca-nos num limite que não imaginamos possível.
Talvez, nada leve tão longe a capacidade de superação, de resistência e de
sofrimento, como a luta por continuar a respirar, a alimentar-se, a permanecer
à superfície…, mesmo que o amanhã seja de perdas, lutos e nódoas negras.
É certo que, passado tempo, já
sem a dor inicial, a dominar os dias, ganha-se força para enfrentar o caminho,
sair de casa, cumprimentar os vizinhos, ir trabalhar, entrar no supermercado, passear
no jardim…, como se nada fosse, como se não existissem marcas. Ainda que, em
muitos casos, uma dor silenciosa, de aceitação, longe da rutura e do abismo dos
primeiros instantes, continue lá no mais profundo de cada um.