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segunda-feira, 9 de maio de 2016

O meu filho, diz-me o senhor

O filho ocupa toda a vida deste homem, mais de oitenta anos: “não consegui enviar um email para o meu filho, mas à noite telefono-lhe”. É assim, invariavelmente. Todos os dias vai aquela biblioteca utilizar o computador para se comunicar com o filho. Todos os dias e a todas as horas fala do filho. Às vezes conta histórias e situações que deixam perceber que o filho é ainda um menino, mas isso não pode ser, porque me diz que trabalha em Luanda.
Fico confusa, mas nada pergunto. Até que um dia me mostrou uma fotografia, ele, o filho e um casal amigo, em Nova Iorque, o rapaz com dezasseis anos, na altura em que caíram as Torres, 2001. O filho terá então trinta e um anos, mas para o pai, a idade está lá atrás, quando o levava pela mão e lhe perguntavam se era neto, quando viajava pela América, com ele adolescente, quando a ausência não existia, pelo menos desta forma.



sexta-feira, 6 de maio de 2016

Por que falham as instituições?

Não sei se a mãe que matou as filhas, dezanove meses e quatro anos, atirando-as ao mar, é ou não uma doente psiquiátrica. Não sei se ela queria ou não suicidar-se a seguir, acredito que sim, que é uma doente e que pretendia morrer com as filhas que acabava de matar. Mas não morreu, foi salva.

Não se pode entender de outro modo o que se passou; só admitindo que não tinha consciência do que fazia, podemos lidar com a ideia de que não se trata de um monstro, mas de alguém a quem a má sorte ou o que seja colocou numa situação em que ninguém pôde ajudar, falo das famílias, das instituições de apoio à vítima, dos hospitais, das Comissões de Proteção de Menores, de todos os lados onde bateu à porta e não viram a gravidade da situação.

Obviamente que não sabemos toda a verdade sobre o que se passou. Não sabemos se o pai é ou não agressor, se o pai é ou não também uma vítima do estado mental da senhora. O que sabemos é que a morte das duas meninas não era inevitável, não sofriam de doença terminal, não sofreram um acidente, foram mortas pela mãe, numa escalada de desespero e talvez doença que ninguém avaliou suficientemente. Esperamos que as instituições respondam, mas o que se vê, infelizmente, vezes repetidas,  é a incapacidade de lidar com estes casos, perdidas que estão em relatórios, burocracias e formalismos.





quinta-feira, 3 de março de 2016

O outro


Um ser humano só deve olhar outro ser humano de cima para baixo se for para o ajudar a levantar.
                                                        Gandhi

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Os precários coletes salva vidas

A tragédia dos refugiados tem uma dimensão que assusta, não apenas pelos números, mas pela ganância e pela insensibilidade de tantos que fazem toda a espécie de negócio. Por aqueles que, aproveitando-se da fragilidade de quem não tem nada a perder, troca a fome, a doença e a morte debaixo dos intermináveis bombardeamentos, para se lançar ao mar, na mão de traficantes sem escrúpulos, enriquecendo com a miséria humana.
Mas, todos os dias descobrimos um pouco mais, agora é a falta de segurança dos coletes salva vidas, fabricados em fábricas turcas (sempre que há mercado, aparece o negócio); são de tal modo mal feios que passado uma hora no mar se desfazem e as pessoas afundam; levar um salva vidas daqueles, em caso de naufrágio,é quase o mesmo que nada.
É uma jornalista habitante da ilha de Lesbos que faz a denúncia, é uma jornalista que todos os dias, talvez por força do seu trabalho, vai até ao local dos desembarques, a mesma que ainda não se habituou ao que acontece com estes refugiados e continua a narrar o que vê com sentimentos. Enquanto isso, outros dos habitantes como que se anestesiaram para poderem sobreviver, é como se não vissem o que vêem, é como se não assistissem ao que assistem. Já não olham, já não querem ou não podem ver (faz lembrar os campos de concentração nazis, pessoas que habitavam a poucos quilómetros declaravam, “não sabia que se passava isto, nunca vi, não tinha ideia…”Que mecanismo mental é este?” Não sei dizer.).


segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Como recuperamos sentidos?

Um dos males que Taylor aponta às sociedades modernas é a perda de significados. Na verdade, temos vindo a perder as referências, antes, estáveis (família, estado, igreja...), que nos permitiam pensar e viver de forma coerente e sem grandes ruturas. Cada vez menos procuramos abrigo em transcendentes, heróis e mitos que antes criavam sentido e davam segurança. Fomos perdendo valores e construindo ilhas, muitas vezes apenas virtuais, mesmo que vivamos vinte e quatro horas ligados a computadores e a telemóveis de última geração. Paradoxalmente, o acesso a tudo em tempo real cria excessos e ruídos que muitas vezes mais não são do que incomunicação. Ora nada mais desumano. 

sábado, 26 de dezembro de 2015

Olhar à volta, violação de direitos

Queria falar sobre o Natal, contar uma história feliz, mas só me ocorriam episódios tristes. É, assim, um mundo violento e desigual, onde todos os dias os direitos humanos são espezinhados. Por isso temos de repetir à exaustão que: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Dotados de razão e consciência, devem agir uns com os outros em espírito de fraternidade" - 1º artigo da Declaração Universal.

Nem a dignidade nem os direitos nos são concedidos por uma qualquer vontade política, religiosa, económica ou outra; são da natureza humana, “nascemos livres e iguais em dignidade e direitos, independentemente da família, local, situação ou particularidade em que esse nascimento ocorra.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Haverá algum dia paz?

A guerra, o conflito e a luta são uma constante ao longo da história da humanidade. Esta é uma constatação não apenas de ontem, mas de hoje mesmo – as sucessivas mortes, os movimentos incessante de refugiados - não precisamos de recuar muito na história, basta pensar nas barbáries do século XX (as devastadoras consequências da bomba de Hiroxima, os Gulags dos totalitarismos soviéticos, os campos de concentração de Auschwitz) ou mais próximo do nós as contínuas violações aos direitos humanos que quotidianamente podemos testemunhar, como o racismo, a xenofobia, a violência, a insegurança e, por estes dias, a multidão de refugiados que atravessa a Europa, procurando um sitio seguro para viver.