Ucrânia, mais do que uma crise
Ainda não consegui escrever nada sobre a Ucrânia e aquela
praça da independência, onde muitos morreram às ordens do ditador (mais de cem
pessoas), outros ficaram feridos e outros vagueiam perdidos de si mesmos,
incrédulos com o que se passou e se avizinha. Praça, onde, ainda assim, há
qualquer coisa de profundamente humano: a proximidade com o outro. O médico que
chega para tratar quem precisa, a psicóloga que montou um lugar de consulta
para ouvir quem já não aguenta o desespero, enfim, um sem número de pessoas
solidárias, disponíveis, para tornar menos dura uma realidade de situações
extremas.
Mas, depois, vêm falar-nos de política e, logo, parece que
a tal humanidade falha num qualquer ponto, agora, o atender o outro, o dar a
mão, o abrir a porta, o dividir o abrigo… parecem uma quase impossibilidade;
interesses particulares se impõem, há diferentes grupos e diferentes agendas,
que vão da extrema-direita, a partidos democráticos, a grupos mais desorganizados.
Um caldo político que não augura saídas fáceis, ainda que as instituições
continuem aparentemente a funcionar, sem quebras institucionais nem legais (há quem
diga que houve quebras); há um governo de transição que fará o que puder para
que a eleições, já marcadas para maio, tragam uma nova luz e uma nova
esperança.
Enquanto isto, que já era muito, a Rússia, que não
reconhece as novas autoridades de Kiev, avança para a Crimeia, com um desplante
e uma força, que o mundo pasma. Mas desta vez, parece que todos estavam
acordados, Estados Unidos, União Europeia, ONU…, e a Rússia saberá que vai
pagar pela violação do direito internacional e pelos desmandos desnecessários e
incompreensíveis.
Uma vez mais se prova que nunca estamos a salvo, quando
pensávamos que crises desta natureza se resolveriam sentados a uma mesa, o que primeiro
se exibe são os tanques militares.