Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O massacre do Paquistão

Por que atacaram e mataram mais de cento e trinta alunos, ontem, numa escola paquistanesa? O terrorismo talibã é abominável, não vejo nada pior por estes tempos. Morrem inocentes, crianças e jovens, em nome de um fundamentalismo sem qualquer regra, sem qualquer sentido. É obscurantismo puro.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Indochina, o filme

Queria escrever sobre a força de alguns sentimentos.Vêm-me à ideia o filme “Indochina”, que vi há muito tempo, e a imagem de um jovem que viveu, até à idade adulta, construindo uma imagem poderosa e ao mesmo tempo romântica e feliz de uma mãe guerreira, activista política, na luta pela independência do Vietname.
Num certo dia, sabendo que a mãe estaria, em França, numa tal recepção, decide ir. Cruzam-se, mas não se falam. Ela não sabe quem é ele, deixou-o pequenino com a avó, na longínqua Indochina.Mas, talvez ninguém tenha estado mais presente na sua vida que o filho ausente, que não viu crescer, ir à escola, jogar, ter sonhos de adolescente, nada. 
São dois estranhos, apesar de existirem laços familiares tão próximos e sentimentos tão diários e tão profundos. Talvez o jovem  tivesse ido aquela recepção na esperança de que um clique os lançasse nos braços um do outro, como se os anos não tivessem passado, o tempo se tivesse suspendido e a vida já vivida se tornasse comum. 
Nem o tempo se suspendeu, nem os olhares se cruzaram, ao ponto de se fundirem. Dois estranhos, passando lado a lado, incapazes de se abraçarem, de se comunicarem. Ele podia tê-lo feito, reconheceu-a, sabia quem ela era. Por que razão não o fez, por que permaneceu mudo e imobilizado, no cimo da escada? Por que não foi capaz de lhe falar? 
Talvez, volte a andar quilómetros e quilómetros para a ver de perto, aplaudir o seu discurso, chorar uma lágrima e, quem sabe, até, poder dizer-lhe: - mãe!
E ela  pare o discurso e indiferente a tudo corra para ele gritando: - filho!
Agora, só existe o presente. Tudo é caminho, tudo é futuro…  Celebremos o encontro, aquele encontro. 

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A corrupção

A corrupção existe quando alguém em funções públicas tira proveito para fins particulares, lesando a comunidade; é a corrupção que leva ao branqueamento, à fuga de capitais ao não pagamento dos impostos devidos. Hoje, parece algo banal, porventura sempre foi, mas o mundo virtual e global em que vivemos dá-lhe outra visibilidade.
Aceito que muitas vezes pode começar por um favor e chegar a patamares de ilegalidade de grande gravidade, mas sei também que pode passar,desde o inicio, por uma estratégia premeditada e bem urdida para que ninguém chegue lá.
Perguntamos-nos: por que acontecem atos corruptos com esta frequência? Ser corrupto é da condição humana ou da natureza humana?
 Penso que é da natureza humana, situada no plano do que genericamente poderíamos designar pelo mal. Portanto, todos podemos ser corruptos, assassinos, violadores, agressores …, está no plano dos actos censuráveis, moral e legalmente, de que ninguém está a salvo, mas de que todos podemos sair ilesos, porque todos sabemos igualmente o que é o bem. É a escolha, é a decisão, que nos distingue de ser uma coisa ou outra.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Rudolf Höss


Já fora do campo, mas bem próximo, rodeada de árvores, fica a casa onde vivia o comandante do campo, Rudolf Höss. Era aí que, no maior conforto familiar, descansava, recebia visitas, brincava com os filhos…, depois de mandar espancar, prender, fuzilar, enforcar, enterrar, gasear, queimar…, tudo o que possamos imaginar e sempre como se nada fosse. Quantas faces têm os assassinos! Como é que um rapaz simples, filho de camponeses, se transforma na pessoa prepotente, cruel, mesquinha, assassina, alucinada…?

Impressiona profundamente, nesta máquina de guerra, por um lado, a estratégia, tudo obedecia a um plano, toda a máquina ao serviço do extermínio dos judeus e outras minorias, como ciganos e homossexuais.
Impressiona também a, quase, não consciência, ninguém se questiona sobre o que faz. A partir de certa altura, todos parecem agir como autómatos, numa linha de comando que chega a Hitler, como se cada um não fosse mais do que peça de uma engrenagem, como se ninguém ouvisse ou visse nada. Tudo parece invisível.
Invisibilidade que chega a todo o lado, então, as povoações vizinhas, as vilas e aldeias, que rodeavam os campos não sabiam o que se passava em Auschwitz-Birkenau? Custa a acreditar. 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Birkenau- Auschwitz II

Aqui, praticamente, tudo foi destruído pelos nazis, no final da guerra. O campo é atravessado pela linha férrea que trará, como gado, milhões de judeus de toda a Europa, são para aqui deportados os judeus das ilhas anglo-normandas, da França, Holanda, Bulgária…, chegam enganados, pensam que vêm para trabalhar, aos meninos dizem, “voltarás para os teus pais”, mesmo sabendo, em muitos caos, que os pais acabarão mortos nos próximos dias.

Dos dois lados da linha, foram  construídos, alinhados, 350 barracões de madeira, restam três ou quatro barracões que são visitáveis, um deles mostra como viviam, muitas centenas de pessoas, numa espécie de beliches, de  um  lado e do outro do barracão, com camas empilhadas, umas ao lado das outras e umas sobre as outras, podendo dormir sete ou oito pessoas em cada cama. Está de pé ainda um dos barracões com fossas sanitárias ( havia nos campos regras de higiene absolutamente determinantes, quem não cumprisse era preso ou morto).  

Quando olhamos a imensidão do campo, até às árvores lá do fundo, e o percorremos ao longo da linha férrea, não podemos imaginar, por impossibilidade, o que aqui se passou. Birkenau foi um campo de extermínio, puro e simples, matar, com o menor alarido e o menor custo, o número máximo de pessoas, era o objectivo dos nazis, e assim se chega ao 1, 3 milhões só neste campo. 

No campo, foram construídos também quatro grandes fornos crematórios, os de 2000 pessoas, e respectivas câmaras de gás, muitos dos que aqui chegam morrem gaseados no primeiro dia, os outros (os tais 80%), a que se vai juntando sempre o número de doentes e esfomeados que deixaram de poder trabalhar morrerão conforme a capacidade dos fornos. A desumanidade, em estado puro, está ali, pensada, planeada, levada a cabo por gente que supostamente era civilizada. (Que vidas a destes nazis ao serviço do III Reich) . 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Auschwitz I


Auschwitz é hoje um museu, um importante documento para toda a humanidade, para que a barbárie, nos seus requintes de maior malvadez, não se repita. No final da guerra, quando os russos chegam e libertam os campos, os nazis destroem o que podem, em Birkenau, quase tudo.
A visita guiada é feita a um ritmo que não permite pensar, nem sequer ver as coisas com a atenção devida. Optei por não tirar fotografias e seguir, com a atenção possível, a guia, através dos fones distribuídos logo à entrada. O discurso é muito padronizado, muito pouco claro, não ajuda nada aquele português/espanhol; há algumas perguntas das pessoas do grupo…, mas, mesmo assim, crescem em mim as interrogações, sobretudo, sobre a dimensão do que aqui se passou.

Dos 45 pavilhões (julgo), em Auschwitz I, tenho a sensação de que apenas dez ou onze fazem parte do circuito das visitas, mas talvez sejam mais; a guia faz ainda referência ao pavilhão 11, a prisão dentro do campo, para quem ousasse fazer perguntas, roubar comida, discutir com alguém…, ao pavilhão de janelas entaipadas, pintadas de preto, onde se faziam experiências, se esterilizavam mulheres eslavas…; entre estes dois pavilhões fica o muro de fuzilamentos, lá está, com um pequeno memorial. Os outros pavilhões ou são de apoio ao museu ou são de países que perderam cidadãos neste campo (Holanda, Hungria, República Checa, Eslováquia …), com exposições próprias, mas que não fazem parte destas visitas normais.

A visita segue, de algum modo, o circuito dos judeus, desde que chegavam, de comboio, à rampa de Birkenau (Auschwitz II, a quatro quilómetros de Auschwitz I), até ao que resta das câmara de gás e de um forno crematório, o único que existe.
Os primeiros pavilhões falam da guerra, da deportação, dos prisioneiros, do extermínio em massa dos judeus europeus. Lá estão, com legendas em polaco e inglês, os documentos escritos, os mapas e as fotografias ampliadas que, tenho a sensação, todos já vimos, em filmes e documentários: sobre a chegada dos deportados (os olhares assustados, o medo, a separação, filhos que eram tirados às mães…); sobre o médico que os observava, ainda na rampa, e decidia arbitrariamente sobre as suas vidas, cerca de oitenta por cento ia diretamente para as câmaras de gás e vinte por cento, os mais capazes de trabalhar, ficavam. Eram registados, cadastrados, fotografados, já com o fato listado de prisioneiros e, a seguir, selecionados para os trabalhos forçados que havia dentro e fora do campo; sobre as imagens da fome, das doenças, das condições sub-humanas em que viviam e trabalhavam; sobre os corpos deformados pelas experiências de Mengele; e muito, muito mais, documentando uma tragédia humana sem limites. Sem limites, mesmo! Até onde teria ido – perguntamos?

Nos pavilhões seguintes, estão expostos objectos encontrados no campo: roupas, não muita; sapatos, muitos sapatos, de todos os tamanhos; óculos; próteses; utensílios de cozinha (panelas, tachos, pratos…); malas, muitas malas, com nomes e direcções, faziam crer aos prisioneiros que seriam guardadas e entregues depois; cabelo, muita quantidade (penso que duas toneladas deixaram os nazis no campo), a vitrina que mostra o cabelo impressiona, ocupa a longitude de um pavilhão (rapavam as pessoas antes de as gasear e aproveitavam o cabelo para forro de casacos das tropas alemãs, de colchões, de almofadas…); as latas de Zyklon B, o tal gás letal, que matava em 20 minutos 800 ou duas mil pessoas conforme a capacidade dos fornos.

Dentro de Auschwitz I, a visita acaba no que resta do forno crematório, o mais pequeno, de oitocentas pessoas; depois de percorrermos um primeiro corredor, acedemos a uma câmara onde se despiam, pensando que iam tomar banho, aqui, há também um memorial (um pequeno vaso de flores vermelhas) e o acesso limitado por um cordão, segue-se a câmara de gás, lá está por onde era lançado, a partir de uma espécie de tubo ou de alçapão, o corredor de acesso aos fornos, as mesmas portas…. É terrífico, talvez o ponto mais impactante, pelo que perturba, pelo que diz desta máquina de morte. A visita é dura. Aguenta-se a custo.



terça-feira, 4 de novembro de 2014

Auschwitz (1)

Cheguei a Auschwitz, no princípio da tarde, a partir de Cracóvia, num dia de outubro, com sol aberto e uma brisa suave que ia desprendendo das árvores folhas amarelas, castanhas, vermelhas…, um quadro que podia ser quase um poema, se não soubéssemos a carga histórica do que nos aguardava.
Estava inquieta. No autocarro que nos leva passam um documentário da BBC com testemunhos de sobreviventes de ambos os lados, soldados da SS, deportados, prisioneiros, crianças, agora com mais de oitenta anos…Estive atenta muito pouco tempo, por impossibilidade de assistir a tamanha crueldade. 
De repente, um quase nevoeiro (que não existia) invadiu a minha vista, ali estava o portão e a humilhante frase: “O trabalho vos fará livres”.