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terça-feira, 21 de maio de 2013

Desenvolvimento, após 2015

O desenvolvimento é muito mais que o crescimento económico. Muito mais que a distribuição da riqueza de forma justa; o desenvolvimento é também, ou até antes de tudo, o desenvolvimento pessoal, as liberdades civis e politicas,  a educação, a dignidade;  um desenvolvimento ético que inclua o bem estar e a felicidade. 
Os objectivos do Milénio (ODM) tiveram, apesar das criticas, a vantagem de, pela primeira vez, se terem definido objectivos e metas quantificáveis a nível global, embora tenham existido falhas de monitorização, de análise de dados..., o que se fez foi muito. Reduziu-se a pobreza extrema, os que vivem com menos de 1.25 dólares por dia, o analfabetismo, as desigualdades, mas muito ainda há por fazer. O desenvolvimento é um projecto sempre em acção comandado pelos direitos humanos, a segurança e a paz. 


sábado, 11 de maio de 2013

Não choro a morte dos meus filhos, a droga

A sala de espera estava cheia, à nossa frente, duas senhoras conversavam sobre os netos, quando a senhora do meu lado direito me diz: “Também, com filhos assim, quem pode viver com eles? Acha estranho que eu diga isto - questiona-me? Sei que acha, muita gente não entende, mas já passei por coisas… Sei bem que, quando não se pode fazer mais nada, o melhor é deixá-los. Deixar os filhos, para não morrermos também”.
Prossegue, olhando-me: “Eu não conto a minha vida, se contasse! Não conto. Um filho morreu-me com trinta e cinco anos, na cadeia, mas ninguém o matou, foi ele que se matou, com comprimidos, davam-lhe muita medicação, tinha hepatite, sida… O outro morreu com uma overdose, com vinte seis anos, nunca trabalhou, em vez de injectar na veia, estava tão perdido, injectou-se fora da veia e morreu. Tenho muito para contar, mas não conto. Criticam-me por não ter chorado a morte dos meus filhos, não choro, sei que foi o melhor que aconteceu a mim e a eles”.
Sigo o que diz, com o olhar e expressões de circunstância: “é assim, a vida é assim, não se pode fazer nada… Não faço qualquer pergunta, mas ela continua: “O mais velho teve filhos, tenho netos…”. Penso: como estará esta mulher por dentro? Olhando-a, ninguém diria que uma tragédia (ou várias) a consomem, mesmo que repita mil vezes que não quer falar, que foi melhor assim.

E como estará, por dentro, a senhora do meu lado esquerdo? E a que está à minha frente? E a que está atrás de mim? Que sabemos uns dos outros? 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

A questão do mal, ainda a propósito das jovens de Cleveland

Vivemos em sociedades organizadas, com leis e instituições a funcionar, mas sem saber bem como testemunhamos quase diariamente os maiores horrores - a maldade em estado puro, sem qualquer explicação possível. 
A liberdade individual que devia ser a coisa mais inviolável é todos os dias ameaçada e posta em causa. Com diferentes formas e graus, a violência pode ir  desde a mais subtil chantagem psicológica à mais explícita guerra  com armas de destruição massiva, nucleares, químicas…, a maldade aí está a lembrar-nos a face terrível  de alguns seres humanos. 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

as jovens sequestradas de Cleveland

Dez anos sequestradas, até um dia é muito tempo. O que se passou, o que se viveu naquela casa, ninguém sabe. Só as jovens podem falar daquela maldade, com requintes de perversidade. Só as jovens podem falar do inferno que viveram, Para já, a nós, parece-nos quase impossível o que aconteceu, Mas não foi. Que sabemos nós de quem vive na casa ao lado?

sábado, 4 de maio de 2013

Mortes no Bangladesh, debaixo dos escombros

Quem é responsável pela morte de mais de trezentas pessoas, pelas vidas perdidas e pelas famílias destroçadas? Quem é responsável pela construção de oito andares num prédio que tinha apenas fundação para cinco? Quem é responsável pelas condições miseráveis em que trabalham os operários daquela cidade e de tantas cidades do mundo?
Não há responsáveis? Há, com certeza. Talvez muitas das marcas de luxo de todas as avenidas, de cidades europeias, americanas e outras, que exploram, lavando as mãos, como se nada fosse, a mão de obra de trabalhadores que não tem escolha, ou fazem aquilo ou caem na miséria mais absoluta. O direito a um trabalho é ainda uma miragem em demasiados sítios, por causa dos múltiplos interesses. Sempre os interesses de uns quantos a ditar lei.

sábado, 27 de abril de 2013

O albergue

Todos eram sem-abrigo. Viveram, anos a fio, na rua, alguns mais de vinte anos. Todos têm os corpos e as almas marcados pelo álcool, pela droga, pela doença, pela solidão…
“Fui parar à rua – diz-me um senhor com quarenta e poucos anos – porque não consegui gostar de ninguém, nem dos meus pais, nem dos meus irmãos, nem da minha mulher… Quando comecei a namorá-la, houve um clique em mim, pensei que era possível aquele amor. Mas não foi. Nada me preenchia, procurava sem saber o quê, até que um dia sai de casa, mudei de cidade e desci ao inferno das ruas. Só havia álcool, cocaína, abandono, dias inteiros, em grupo, traficando e roubando para consumir. Anestesiado, não me dava conta de que já não era gente. Até que um dia, há quatro anos, fui parar ao hospital, quase morto e, depois, já em recuperação, fui trazido para aqui. Um dia qualquer, hei-de comprar um bilhete de autocarro e voltar a casa. Será que ainda estão lá aqueles a quem não fui capaz de querer?



quarta-feira, 24 de abril de 2013

Terrorismo, em Boston

Podem fazer-se muitas análises, mas a que a mim mais me impacta é a que tem a ver com o extremismo islâmico: matar por Alá. O absurdo é total.
O que aconteceu, na cabeça destes jovens, mais ou menos inseridos na sociedade americana, com perspectivas de futuro, para, dum momento para o outro, se fazerem jihadistas, combatentes por um radicalismo que considera que não é apenas o ocidente que ameaça as suas crenças (de que nem sequer eram grandes praticantes) mas até os moderados do islão?
Alguma coisa de muito perturbador nos escapa, para que não sejamos capazes de uma mínima compreensão sobre isto. Talvez, algo da ordem da identidade mais profunda de cada ser humano: somos quem?