O homem deixou, na mesa, um maço de notas e disse à mulher, através de
gestos, (talvez fosse surda-muda), que eram para levar menino ao médico.
Sete, oito, anos, estendido numa esteira, ardendo em febre, olhos fechados,
imóvel, com uma fragilidade que dói e assusta, porque se pressente o pior, o
menino ali está.
Se fosse um país desenvolvido, teria sido assistido, a tempo e horas, num
hospital e um antibiótico ou outro medicamento ter-lhe-iam salvo a vida. Mas, naquele
subúrbio insalubre, duma imensa cidade asiática, o destino seria provavelmente outro.
Foi muito tempo a mais a tentarem arranjar aquele dinheiro, e o menino não
resistiu. O tal senhor que tinha deixado o maço das notas (talvez o pai), chega
para o funeral, há muita gente, a mãe não está só…, cumprem-se os rituais
religiosos e o menino parte.
(Sobre um documentário, de que já não recordo o nome).