Os direitos humanos
– os direitos do outro ser humano – incumbem a cada um de nós e
não, apenas, aos Estados e instituições que, progressivamente, têm
vindo a criar leis para controlarem a violência, para garantirem
condições mínimas de vida e de sobrevivência. Contudo, não é
animador o que existe e o que nos espera, só um compromisso mais
radical, mais originário, pode criar a responsabilidade e a
fraternidade universais, algo anterior ao Estado e às leis, presente
no face a face de que fala Lévinas, nesse encontro com outro, a quem
acolhemos como rosto e não como objecto, seja esse outrem quem for e
esteja em que situação ou circunstância estiver.
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sábado, 18 de novembro de 2017
quarta-feira, 15 de novembro de 2017
Gandhi, o filme
A
primeira cena é o assassinato de Gandhi (30-1-1948); um jovem hindu
irrompe pela multidão, parecia ser um admirador que lhe quer falar,
mas não, puxa de uma pistola e atira. Depois, o filme prossegue, com
Gandhi, em 1893, advogado, que estudou em Londres, numa carruagem de
1ª classe, na África do Sul, à época, também, parte do império
britânico. Como nenhum negro podia viajar senão em 3ª classe,
mandam-no mudar-se; não obedece, e é posto fora do comboio.
É-lhe
dito que não poderá ser advogado, pois, nenhum advogado negro (os
indianos são considerados negros) pode exercer a sua profissão; a
segregação racial é muito violenta, até os passeios públicos são
destinados unicamente a brancos. Começa ali a luta pelos direitos da
sua comunidade, juntamente com outros indianos, hindus e muçulmanos,
não importa a religião que tenham. O primeiro passo é queimar o
“salvo conduta”, um documento com que todos os negros tinham de
andar. A seguir, constroem uma comunidade – ashram – onde
todos são e vivem como iguais, onde todos fazem de tudo, onde não
há senhores nem servos, onde não há intocáveis. A cena em que a
sua mulher se queixa: “tenho de limpar latrinas”? - é
particularmente reveladora, Gandhi quase se altera, e ela percebe
tudo o que está em causa (será até à morte uma companheira de
todas as horas).
Começa
a discursar, a passar ideias de não-violência, de resistência
pacífica, e, mais do que tudo, a dar o exemplo, a agir. “Não
terão a minha obediência” - é o grande lema da sua luta. Os
tumultos levam a uma lei que endurece a vida da comunidade, os
indianos perdem direitos. Gandhi é preso; algum tempo depois, a lei
é revogada.
Em
1915, regressa à Índia, já não de fato e gravata, mas com o fato
tradicional indiano, como se procurasse uma identidade profunda, que
sabe só ali existir, quer ser como todos os outros. A sua chegada é
um sucesso; é aclamado como um herói nacional (conhecem a sua luta
e o que conseguiu), é recebido pelos poderes indianos que se opõem
aos britânicos.
Percorre
a Índia de comboio, quer conhecer, saber, sentir...; a pobreza é
geral e impactante, está com a mulher e com Charlie, o pastor
evangélico que o segue e se identifica com a luta dos indianos, ao
ponto de se misturar com os hindus. Naquele comboio, a religião não
divide as pessoas, não as coloca numa situação de estranheza.
Alguém lhe pergunta: “é cristão?” “sim, sou cristão”.
Ainda assim, Gandhi faz-lhe ver que: “o que deve ser feito, só
deve ser feito por indianos”; o jovem compreende e afasta-se.
Gandhi
fala com o povo; escuta o homem obrigado a cultivar “indigo”, uma
planta para fazer tinta e tingir os tecidos fabricados em cidades inglesas. Os indianos não podem cultivar o que
querem; cultivam apenas o que os britânicos querem, o que lhes dá
lucro e sustenta uma economia colonial, onde os beneficiados são
sempre os mesmos. Cultivam algodão e outras fibras vegetais que são
transformadas em tecidos e em roupas, vendidas depois aos indianos.
A
cena em que queimam a roupa e tomam a atitude de voltar ao velho tear
é bem significativa do que pode acontecer à economia britânica. É
o primeiro a fazê-lo, a imagem parece irreal, quase do princípio
dos séculos, mas o que importa são as consequências. O mesmo com o
sal, deixar de comprar o sal vendido pelos britânicos e começar a
fabricar o próprio sal.
Mas,
nem todos os que o seguem pensam o mesmo; há os que entendem que é
preciso agir pela força, que a não violência, a não cooperação,
não leva a lado nenhum. Gandhi entende que não se trata de uma
resistência passiva, e tem razão; desgastou de tal modo o poder
britânico que, em agosto de 1947, se organizou, em Londres, uma
conferência sobre a independência da Índia. Gandhi está presente,
defende a ideia de uma Índia unida, entre muçulmanos, hindus,
judeus,siques, cristãos …; uma Índia de todos, a mesma ideia de
comunidade, de ashram, onde todos fossem e se sentissem
iguais. Mas a dimensão da Índia é incomparável à comunidade que
fundou na África do Sul, não param as lutas entre os indianos e,
quando se dá a transferência do poder, a ideia de uma Índia unida,
é já impossível. O Paquistão separa-se. A Índia para os hindus e
o Paquistão para os muçulmanos; afinal, o argumento religioso usado
pelos britânicos estava presente e era determinante.
Mesmo
depois do estado indiano, os tumultos entre as comunidades religiosas
continuam, há lutas, separações, deslocados, miséria
humana...Gandhi vai a Calcutá, hospeda-se na casa de um muçulmano,
jejua até que terminem os tumultos, diz às autoridades indianas: “não
posso assistir à destruição da Índia”, pede que nenhuma espada
hindu se lance contra um muçulmano; está quase a morrer quando lhe
dizem que os tumultos terminaram em todo o lado. Resiste. Toma água
com limão, levanta-se, volta ao caminho. Foi assim ao longo da sua
vida, prisões, jejuns, orações, atitudes...,
Quem
foi Gandhi para os indianos? Quem foi Gandhi para o mundo? Não chega
dizer que foi uma Alma Grande (Mahatma), não chega dizer o que fez e
pelo que lutou. Há um para lá de Gandhi de que não podemos falar
(de que não sabemos falar) e que é, ainda hoje, um sentido.
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colonialismo,
dignidade,
Direitos Humanos,
não-violência,
personalidades
segunda-feira, 13 de novembro de 2017
A dignidade humana, uma espécie de tesouro interior
O que é a dignidade de uma pessoa, vocês
sabem? De um modo muito simples, podia dizer-vos que é aquilo que de mais
precioso cada um de nós tem, uma espécie de tesouro interior que se manifesta na nossa vida e nas nossas acções, quando agimos de acordo com os nossos valores
e as nossas crenças, ou seja, aquilo em que acreditamos profundamente.
Como todos os tesouros, tem um valor incalculável, por isso, deve ser
estimado pela própria pessoa e pelos outros. Nesse tesouro, guardam a vossa
liberdade, a vossa capacidade de projetar coisas, de ter iniciativas, de
realizar projectos.... - e também aqueles valores em que acreditam convictamente que são os da vossa família, da vossa cultura, da vossa religião....; valores que marcam a vossa vida e de algum modo determinam o modo como querem viver e ser considerados pelos outros.
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dignidade,
ser humano,
valores
quinta-feira, 28 de setembro de 2017
O êxodo da minoria rohingya da Birmânia
Estou tão decepcionada com a presidente da Birmânia - Aung San Suu Kyi - prémio nobel da paz, que não sei o que dizer. Obviamente que há perseguições, limpeza étnica..., mas porque fecha ela os olhos? Porque se deixa dominar pelos militares? Mais valia resistir exemplarmente, do que deixar-se enredar nos meandros de um poder e de uns interesses de que não consegue sair.
Pobre natureza humana, quando pensamos que há heróis e heroínas, é isto!
Pobre natureza humana, quando pensamos que há heróis e heroínas, é isto!
quarta-feira, 27 de setembro de 2017
Por que morrem os meninos, desprotegidos, na Guarda?
Há muito pouco tempo uma mãe, em estado grave de depressão, tenta suicidar-se a ela e ao filho, de nove anos, dizendo que não quer que o filho vá para o 5º ano numa escola da cidade e continue a sofrer de bullying (o que parece não ser verdade); o menino morre e ela é levada para o hospital.
Há dias atrás um menino de dois anos é colhido por um comboio sem que a mãe, à guarda de quem estava, estivesse por perto.
Agora, um menino de sete anos, sozinho, em casa da namorada do irmão, cai de um terceiro andar e morre. A mãe, que tinha ficado de o ir buscar e não foi, é encontrada alcoolizada...
Porque é que falham estas mães? E as famílias? E as instituições?
Há dias atrás um menino de dois anos é colhido por um comboio sem que a mãe, à guarda de quem estava, estivesse por perto.
Agora, um menino de sete anos, sozinho, em casa da namorada do irmão, cai de um terceiro andar e morre. A mãe, que tinha ficado de o ir buscar e não foi, é encontrada alcoolizada...
Porque é que falham estas mães? E as famílias? E as instituições?
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direitos das crianças,
instituições
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
Retomo o blog - Moçambique: rostos do Índico
Vou publicar no blog: mocambiquerostosdoindico.blogspot.com
uma série de textos que escrevi, em princípios de 2011, e que por pudor não coloquei no blog, tem a ver sobretudo sobre a legitimidade ou não de escrever sobre pessoas, invadindo a sua privacidade. Terei esta preocupação bem em conta, mesmo que as pessoas de quem falo estejam lá longe, muito longe, a milhares de quilómetros.
uma série de textos que escrevi, em princípios de 2011, e que por pudor não coloquei no blog, tem a ver sobretudo sobre a legitimidade ou não de escrever sobre pessoas, invadindo a sua privacidade. Terei esta preocupação bem em conta, mesmo que as pessoas de quem falo estejam lá longe, muito longe, a milhares de quilómetros.
quinta-feira, 14 de setembro de 2017
Catástrofes mentais: o chefe da Coreia do Norte
Não sei o nome, não o fixo; recuso-me a fixá-lo. Quando o vejo, parece-me ver um demente, um perigoso demente, que pode levar o seu país à ruína total e o mundo a uma guerra, com consequências inimagináveis. Como é que isto acontece, no século XXI, depois de tanta racionalidade, ciência, filosofia, história...?
Parece impossível de compreender, como um ditador transforma o seu povo em autómatos, parecem robots, fazendo vénia ao chefe. Se isto não fosse tão grave, seria anedótico, mas não é, infelizmente.
Parece impossível de compreender, como um ditador transforma o seu povo em autómatos, parecem robots, fazendo vénia ao chefe. Se isto não fosse tão grave, seria anedótico, mas não é, infelizmente.
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