A tragédia dos refugiados tem
uma dimensão que assusta, não apenas pelos números, mas pela ganância e pela
insensibilidade de tantos que fazem toda a espécie de negócio. Por aqueles que, aproveitando-se da fragilidade de quem não tem nada a perder, troca a fome, a
doença e a morte debaixo dos intermináveis bombardeamentos, para se lançar ao
mar, na mão de traficantes sem escrúpulos, enriquecendo com a miséria humana.
Mas, todos os dias descobrimos um
pouco mais, agora é a falta de segurança dos coletes salva vidas, fabricados em
fábricas turcas (sempre que há mercado, aparece o negócio); são de tal modo mal
feios que passado uma hora no mar se desfazem e as pessoas afundam; levar um
salva vidas daqueles, em caso de naufrágio,é quase o mesmo que nada.
É uma jornalista habitante da
ilha de Lesbos que faz a denúncia, é uma jornalista que todos os dias, talvez
por força do seu trabalho, vai até ao local dos desembarques, a mesma que ainda
não se habituou ao que acontece com estes refugiados e continua a narrar o que
vê com sentimentos. Enquanto isso, outros dos habitantes como que se anestesiaram para
poderem sobreviver, é como se não vissem o que vêem, é como se não assistissem
ao que assistem. Já não olham, já não querem ou não podem ver (faz
lembrar os campos de concentração nazis, pessoas que habitavam a poucos
quilómetros declaravam, “não sabia que se passava isto, nunca vi, não tinha
ideia…”Que mecanismo mental é este?” Não sei dizer.).