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terça-feira, 9 de julho de 2013

Imigrantes ilegais, Lampedusa

Esta ilha italiana, a pouco mais de cem quilómetros da costa africana, recebe grandes levas de imigrantes clandestinos que, aqui, chegam impelidos pelas circunstâncias em que vivem nos seus países de origem. São quase todos jovens, trazem sonhos, vidas por viver, força e vontade de chegar à Europa rica, para eles, o maná do deserto, o que necessitam para melhorar a sua vida e a das suas famílias. Mas, acontece que em vez de maná encontram, muitas vezes, desconsideração e dias amargos.
O Papa foi, ontem, a Lampedusa, rezar missa e falar da imigração clandestina. Falou da urgência da não indiferença, do acolhimento, da atenção ao outro, a quem devemos tratar, antes de tudo, como irmão, fraternalmente. Podem não ter a cidadania europeia, podem não ter documentos válidos, mas são pessoas a quem devemos acolher em vez de explorar.
Vítimas da pobreza e do subdesenvolvimento, das mafias que os trouxeram até aqui e dos que agora se aprontam a empregá-los clandestinamente, sem direitos e por baixos salários – é bem uma face da escravatura do século XXI – são pessoas em estado de grande fragilidade.
Contam com o trabalho dedicado de ONG’S e de organizações da igreja, que fazem o que podem, mas, decerto, menos do que desejariam. A resposta à imigração ilegal é fundamentalmente política e global, todos sabem isso; se a política internacional não fosse um jogo de interesses, muitos dos problemas que enfrentam estes imigrantes já teriam sido resolvidos.


domingo, 30 de junho de 2013

Mandela

Nelson Mandela é um herói dos direitos humanos. Nasceu em 18 de Julho, de 1918, na África do Sul, onde lutou pelos direitos e pela dignidade de todos os seres humanos. Esteve vinte e sete anos preso, dezoito dos quais em Robben Island, por defender os direitos dos negros contra o apartheid.

Excerto do discurso de N. Mandela, em Oslo, 1993, quando recebeu o Prémio Nobel da Paz.

“Estou aqui em representação de milhões de pessoas do nosso povo que ousaram levantar-se contra um sistema social injusto, cuja verdadeira essência são a guerra, a violência, o racismo, a repressão e o empobrecimento.

Também, estou aqui representando milhares de pessoas do movimento anti-apartheid, governos e organizações, que, por todo o mundo, se juntaram a nós, não para lutar contra a África do Sul como país ou contra algum dos seus povos, mas para se oporem a um sistema inumano e contribuírem para o rápido fim do apartheid, um crime contra a humanidade.

Esse incontável número de seres humanos, dentro e fora do nosso país, tiveram a nobreza de espírito de se colocarem no caminho da tirania e da injustiça, sem procurar ganhos próprios. Consideraram que a injúria de um era a injúria de todos e, sobretudo, agiram em defesa da justiça e da comum decência humana.
Devido à sua coragem e persistência, de muitos anos, podemos hoje esperar que, em breve, a humanidade se juntará para celebrar uma das vitórias mais proeminentes do nosso século. Quando esse momento chegar, poderemos, regozijarmo-nos duma vitória comum contra o racismo, o apartheid e a lei da minoria branca.

O triunfo finalmente encerrará cinco séculos de colonização africana, que começou com o estabelecimento do império português. Esse acontecimento constituirá um grande passo na história e servirá como caução, como garantia, para os povos do mundo que lutam contra racismo, onde quer que ocorra e seja qual for a forma que assuma.
No extremo sul do continente africano, está em preparação uma recompensa, um incalculável presente, para aqueles que, em nome da humanidade, sacrificaram tudo pela liberdade e pela dignidade humana.

(No ano seguinte, tornou-se presidente da África do Sul, foi o fim do apartheid e a construção de uma pátria unida e multicolor)
                                                               


quinta-feira, 27 de junho de 2013

A luz de Mandela

Mandela está agonizando num hospital de Pretória. Na sua terra natal, o clã familiar prepara as exéquias fúnebres, conciliando a tradição ancestral africana, a que Mandela pertence e da qual sempre esteve próximo, e o funeral de um homem universal, grande e bom. Não há maior elogio do que dizer-se: era (é) um homem bom. 
Obviamente que Mandela não morre; não morrem os heróis que têm o tamanho do céu e da terra, do presente e do futuro. Precisamos da luz de Mandela.


terça-feira, 25 de junho de 2013

Capadócia, Turquia

Estive, há poucas semanas, na Capadócia, região de dois vulcões extintos, há milhares de anos. A primeira percepção é de encantamento, pela novidade, pela surpresa, pela extensão, pela história… Grutas e mais grutas, umas à superfície, como se fossem vestígios de castelos e de mundos mágicos, outras subterrâneas, habitação, durante séculos (do VI ao IX), das populações daí. 
Também impressiona o vale das igrejas bizantinas, escavadas na rocha, como se, a procura de sentido, fosse, nesse tempo, como hoje ainda, o marcar da vida. A relação do homem com o transcendente é tão enigmática e ao mesmo tempo tão avassaladora que nos perturba. Por que haverá, naquele vale e naquela encosta, tantas igrejas, todas seguidas, pequenas, maiores, baixas, altas…?
Nalgumas, há pinturas, cenas bíblicas, representações duma cristandade que nos é familiar. De resto, o que nos invade, quando percorremos o vale, não é uma sensação de estranheza, mas de interrogação: como foi possível? Foi possível porque se conjugaram os ventos, as chuvas, as areias...tudo, até a mão de Deus, dirão alguns. Gostei muito.


quarta-feira, 12 de junho de 2013

A Praça Taksim, Istambul

Esta é já a praça símbolo de todos os protestos, dos que reivindicam a possibilidade e o direito de viver livremente de acordo com a sua consciência, sem os ditames da religião que não professam. O laicismo é generalizado, por que tem, então, a constituição de por em causa direitos individuais. As crenças dão chão, sustentam, equilibram…, de algum modo, somos aquilo em que acreditamos, mas em rigor têm de ser crenças que aceitamos ou escolhemos livremente.
A liberdade de agir, a liberdade de escolha, é de cada um, da sua autonomia, do seu ser eu, em definitivo. É por isso que todos estamos naquela praça, todos estamos pela decência e pela dignidade humana. Todos estamos em Istambul, Atenas, Lisboa, Paris…, onde faça falta. Nós e os outros, livres e iguais, seja onde for. 

terça-feira, 11 de junho de 2013

Manifestações por direitos individuais, Turquia

As manifestações na Turquia, como já antes noutros países, vieram por em evidência que o homem é um animal político, com um natural sentido de justiça e de vida cívica, por mais que os regimes se possam empenhar em coartar as liberdades individuais dos seus cidadãos.
Afinal, os jovens turcos não estão amorfos, há capacidade de indignação. Outra coisa é saber se há, e em que termos, capacidade de organização e de proposta política consistentes para mudar aquele estado de coisas. Reivindicar eleições para depois radicalizar mais ainda, não chega. A abertura começa pela educação, pelas universidades, pelo debate livre e responsável de novas ideias e projectos, onde a liberdade individual seja absolutamente respeitada, mesmo a daqueles que vêm o islão como o princípio e o fim de tudo.
Mas, não pode, também, a religião impor práticas que ponham em causa essa liberdade. A decisão de beber ou não álcool, de ter ou não ter filhos, de abraçar-se ou de beijar-se na rua,…, não é do estado, é dos indivíduos, dentro do respeito intransigente de uns pelos outros. A sociedade turca, culta e desenvolvida, compreende muito bem isto. A abertura acontecerá, estou em crer.



terça-feira, 21 de maio de 2013

Desenvolvimento, após 2015

O desenvolvimento é muito mais que o crescimento económico. Muito mais que a distribuição da riqueza de forma justa; o desenvolvimento é também, ou até antes de tudo, o desenvolvimento pessoal, as liberdades civis e politicas,  a educação, a dignidade;  um desenvolvimento ético que inclua o bem estar e a felicidade. 
Os objectivos do Milénio (ODM) tiveram, apesar das criticas, a vantagem de, pela primeira vez, se terem definido objectivos e metas quantificáveis a nível global, embora tenham existido falhas de monitorização, de análise de dados..., o que se fez foi muito. Reduziu-se a pobreza extrema, os que vivem com menos de 1.25 dólares por dia, o analfabetismo, as desigualdades, mas muito ainda há por fazer. O desenvolvimento é um projecto sempre em acção comandado pelos direitos humanos, a segurança e a paz.