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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A bala assassina, destruam as armas

A mãe pássaro está aflita e chora desde a hora que o filho mais novo saiu de casa. Pediu-lhe muitas vezes para não sair sozinho para muito longe, porque não tinha prática de voo, porque não sabia bem como evitar o perigo e fugir das armadilhas. Mas ele, um pouco rebelde e convencido que sabia tudo – sim, que às vezes os jovens pensam que sabem tudo – não ouviu a mãe e partiu.
Hoje, chegou ao bando a notícia da sua morte. Quem terá coragem de dizer à mãe-pássaro que o seu filho morreu?
Morreu com um tiro certeiro que alguém lhe atirou. O chumbo mata e o homem que usou a carabina sabia disso. Não é inocente, comprou e aprendeu a usar essa arma que mata. Já matou e pode continuar a matar. O passarinho morreu por nada e para nada. Não morreu contra um rochedo quando treinava o voo, não morreu numa missão da sua vida de todos os dias como seja a procurar alimentos. Morreu porque o homem que o matou sente prazer em aperfeiçoar a destreza do tiro e contemplar o espectáculo da morte.
Eu sei que este homem não compreende, nem nunca poderá compreender, as lágrimas da mãe-pássaro. Hoje, essa arma matou o pássaro e mesmo que o homem amanhã a venda continuará a matar, sabe-se lá onde, sabe-se lá o quê. O perigo é ela existir.

sábado, 10 de setembro de 2011

Nas margens, sei que são ciganos romenos

O sinal ficou vermelho; paro no cruzamento. Uma jovem mulher, com um filho  mais à cintura que ao colo, aproxima-se de mim e entrega-me uma folha de papel. Leio: “Sou romena, tenho 5 filhos, preciso de ajuda para comer. O meu marido está muito doente".
Não sei se é verdade, ninguém sabe, estratagemas deste género são às dezenas. Pode ser mentira, claro,  mas não é mentira a sua fragilidade, o seu aspecto, a vida desgraçada que leva.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Idosos

Saiam do hospital, da consulta externa de cardiologia. Tinham ambos oitenta e muitos anos, usavam bengala, cada um apoiando-se nela, ao mesmo tempo que se apoiavam um ao outro com o braço livre. Não era fácil ver quem apoiava quem, tal era a fragilidade dos dois. Esperavam um táxi, naquele dia chuvoso de início de Setembro. Quando o táxi chegou, tiveram de descer cinco ou seis escadas, o que parecia algo impossível; a dificuldade dela em mexer os pés, em começar a andar, impressionava; ele atento, a querer ajudar, sem poder, que afinal era quem mais precisava de ajuda, foi ela que o apoiou, deu-lhe a mão e desceram. Entretanto, o motorista, já fora do carro, ajudou-os a entrar. Partiram, espera-os, à chegada a casa, o mesmo esforço, a mesma dificuldade, a mesma preocupação, preocupação de um pelo outro, disso tenho a certeza. Não sei se estas pessoas são já vítimas dos cortes no transporte de doentes às consultas, talvez sejam, é certo que, se fossem numa ambulância, teriam outro apoio e outro conforto. Sempre foi difícil ser velho, mas temo que seja cada vez pior.










quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Crise social, desemprego e o mais

Quando este governo iniciou funções, tínhamos  (eu pelo menos tinha) a impressão de que haveria uma luz ao fundo do túnel, sem mentiras, falsas ilusões, etc. Mas a situação interna e externa
 é de tal ordem que parece não existirem soluções, pior, há propostas, de economistas e altos dirigentes, aqui e na Europa, mesmo antagónicas. Caminhamos para onde? Está difícil ver claro. 

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Líbia, a guerra

Na guerra,  já o sabemos,  ultrapassam-se quase todos os limites. A maldade, o  terror e as bombas,  andam à solta. O amigo, o vizinho de ontem, pode ser o atirador, o assassino de hoje. Aquela jovem de 16 anos, entrevistada pelo repórter da euromeus, matou  16 homens,  que os soldados de Kadhafi lhe iam trazendo de dois a dois, diz que o fez porque foi obrigada,  porque senão seria morta: "Ou matas ou morres tu", diziam-lhe.  Diz  que baixava os olhos,  sempre que atirava.  Não guarda nehum rosto. Será defesa, estratégia ou necessidade? Talvez seja impossível matar a quem olhamos o rosto, face a face.

domingo, 28 de agosto de 2011

Kadhafi, a queda

A tristemente célebre frase: “Todos os ditadores morrem”, denunciando a impossibilidade de alguma vez saírem de cena de outro modo, tal o domínio e a alucinação que têm pelo poder, não se cumpriu, desta vez, mas sabe-se bem à custa de quantas vidas e de quanta destruição.
Kadhafi parece definitivamente encurralado. Ele, os filhos e o séquito que, durante décadas, 42 anos, mais precisamente, dominou e explorou um território e um povo, como se fossem donos do país e das pessoas, vão ter de prestar contas. Festeja-se nas ruas. A transição será difícil, a democracia será difícil, mas o poderem olhar-se nos olhos uns aos outros como cidadãos livres e iguais, parece ser um adquirido, a comunidade internacional estará evidentemente atenta e cooperante, como lhe compete. Kadhafi é um louco, inebriado pelo que seja, merece ser julgado, tal como os filhos e os colaboradores mais próximos, pelo Tribunal Penal Internacional, o que fez ao povo líbio, a quem devia proteger, é um crime contra toda a humanidade.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O assassino de Oslo

Ontem, o assassino de Oslo voltou à ilha, onde matou sessenta e nove jovens, para uma reconstituição do massacre, durante oito horas. Dizem que não mostrou qualquer arrependimento, apesar de alguma emoção. Haverá alguma redenção para pessoas como este norueguês? Será possível alguma réstia de humanidade, em pessoas como este sujeito? Não sabemos, ou melhor, não sei. Durante muito tempo,  acreditei que há a humanidade para lá do ser humano, que cada ser concreto é habitado por um infinito que nos surpreende e desarma, embora, perante desequilíbrios tão chocantes, como o do caso em questão,  tenhamos que  pensar que uma finitude implacável, cruel e mesquinha,  espreita em cada vez mais pessoas. Por todo o lado, actos tresloucados ocorrem, com justificações muito parecidas.  Há demónios à solta,  ninguém está a salvo.