Há muito tempo que a via sozinha. Deixei de ver o filho, mas não imaginei o pior. Ontem, disse-me: - O meu filho já cá não está. Já não tenho o meu filho.
Quantas vezes esta senhora me falou do filho! De como permaneceu com ele mesmo quando todos o abandonaram e teve de escolher entre ele e o resto da família; de como lutou por sucessivas recuperações; de como acreditou ao mais pequeno sinal: - Viu o meu filho, está tão bonito! Não parece o mesmo, engordou, tratou-se; de como vigiou o consumo com medo de uma overdose; de como continuava a trabalhar a dias, mesmo reformada e com mais de sessenta anos. Agora ele morreu. O inferno acabou, mas o vazio que a consome é-lhe insuportável.
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domingo, 6 de abril de 2008
quinta-feira, 3 de abril de 2008
O menino da pedreira
Encontrei-o em Cabo Verde, na Ilha de Santiago. Lá estava ele, mais um dia, sentado naquela maldita posição, que lhe dava cabo das costas e lhe punha os braços que não podia mais. Horas a fio, a partir pedra. Como podia uma criança aguentar, tantas horas, a fazer paralelos para as calçadas e os passeios da cidade! Cidade que não conhecia e passeios onde nunca tinha passeado. Quando iria ele à cidade? Talvez, só daqui a muito tempo, quando crescesse mais um pouco. Não importava que a cidade não fosse longe. Para ele era.
- Ganha para aí uns trezentos escudos (três euros) - disseram-me. O que significará para ele aquele dinheiro? Pensará que é muito ou que é pouco? A quem o irá entregar? O que pensará da vida que tem? Terá sonhos? Certamente que sim, todos os meninos têm.
- Ganha para aí uns trezentos escudos (três euros) - disseram-me. O que significará para ele aquele dinheiro? Pensará que é muito ou que é pouco? A quem o irá entregar? O que pensará da vida que tem? Terá sonhos? Certamente que sim, todos os meninos têm.
quarta-feira, 2 de abril de 2008
Meninas escravas, até quando
A propósito de uma reportagem na RTP2. Incomoda ver a vida daquelas meninas, escravas domésticas, fabris ou sexuais, nessa imensa, desigual e injusta Índia, onde o tempo passa, o progresso chega para alguns, enquanto outros continuam na mais profunda pobreza. Percebemos o que é nascer, crescer e morrer nas margens, sem ter a esperança de mudar de vida. Vemos meninas, ainda crianças, de corpo dorido, trabalhando horas sem fim na fábrica ou na casa dos senhores (há sempre senhores); vemos meninas de olhar perdido, a tremer de medo, trabalhando horas sem fim nos bordéis da cidade. Onde ficou a infância? Onde ficou a escola? Onde está o futuro? Acreditamos em organizações como a SACCS ou a STOP, mas é tempo dos governos criarem as condições para implementar e fazer cumprir as Convenções Internacionais que assinam.
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Desenvolvimento,
Direitos Humanos
sábado, 29 de março de 2008
Ainda, a violência na escola
Uma maneira de lidar com a questão da violência escolar, parece-me a mim, é tentar perspectivar as questões ao nível daquilo a que Ricoeur chama de sabedoria prática: há regras, todos sabemos, os alunos sabem, devem ser cumpridas, mas nem sempre são, umas vezes por impossibilidades práticas, motivadas por circunstâncias várias, outras vezes por escolhas e atitudes individuais. Aceite-se a dificuldade dos casos de violência, oiçam-se os que mais sabem sobre o problema, de forma discutida, concertada, sábia, para termos a certeza de encontrar as melhores respostas, mesmo que não sejam as soluções que desejamos.
Temo que a abordagem parcelar deste problema (a pedagogia, a psicologia, a sociologia, o regulamento escolar, a justiça criminal, etc. ), nos leve sempre a discursos e a procedimentos justapostos, quando não contraditórios, que em vez de reforçar a autoridade a diluem quase completamente. É o que tem acontecido.
Temo que a abordagem parcelar deste problema (a pedagogia, a psicologia, a sociologia, o regulamento escolar, a justiça criminal, etc. ), nos leve sempre a discursos e a procedimentos justapostos, quando não contraditórios, que em vez de reforçar a autoridade a diluem quase completamente. É o que tem acontecido.
quarta-feira, 26 de março de 2008
A violência na escola
Infelizmente não se pode dizer que a violência chegou à escola. A violência está na escola e desde há muito tempo. É uma questão tão complexa e difícil, que não tem explicações nem respostas lineares, por isso os que se têm pronunciado fazendo alarido podiam pensar nisto. Todos acabaríamos com a violência, na escola e em outros contextos, se pudéssemos. Mas denunciar é (e será sempre) a melhor maneira de minorar os problemas. As imagens gravadas pelo telemóvel de um aluno, numa escola do Porto, apesar da gravidade da situação - não é desculpável, nem o que fez a aluna nem o que fez a turma - podem ser uma oportunidade para se enfrentar com outra determinação o problema da violência em espaço escolar.
terça-feira, 25 de março de 2008
Ouvem-se os gritos !
O povo tibetano grita, mas onde estão os gritos da comunidade internacional? Têm medo de quê? De quem? Sim, é a China, a grande China. A ditadura chinesa.
A anexação do Tibete é a violação dos direitos de um povo, de uma cultura, de uma religião, subjugados ao poder e aos (des)mandos dos senhores de Pequim. Na altura dos Jogos Olímpicos aparecerão todos na fotografia, bem vestidos e aprumados, cumprimentando os poderosos deste mundo, como se nada fosse. E quem não sabe, olhará para eles e julgará que parecem santos. Que ricas personagens!
A anexação do Tibete é a violação dos direitos de um povo, de uma cultura, de uma religião, subjugados ao poder e aos (des)mandos dos senhores de Pequim. Na altura dos Jogos Olímpicos aparecerão todos na fotografia, bem vestidos e aprumados, cumprimentando os poderosos deste mundo, como se nada fosse. E quem não sabe, olhará para eles e julgará que parecem santos. Que ricas personagens!
terça-feira, 11 de março de 2008
Mulheres ciganas, quando a tradição pesa tanto!
Ontem a TVI apresentou uma reportagem sobre os ciganos, ou melhor, com os ciganos: tornou-os protagonistas, coisa que quase nunca acontece. Falaram de si mesmos, da sua exclusão, dos seus sonhos, das seus modos de vida, da sua música, da sua cultura, dos seus valores. A situação da mulher cigana tocou-me particularmente - a menina de onze anos que anda no 4º ano e vai ter de deixar de estudar, dizendo o pai: "senão depois não casa, fica para aí, e nós não queremos isso para ela" ; a jovem de quinze anos, que adora moda, e está a aprender a costurar num curso de formação, a quem um dia, ao chegar a casa, comunicaram que estava noiva, a família tinha-lhe arranjado o casamento; a jovem viúva, de luto carregado para toda a vida, não poderá mais divertir-se, voltar a casar, ver televisão, ouvir rádio, como se a vida tivesse terminado ali; outra jovem viúva com o filho pela mão, que não pôs luto pelo marido, com quem já não vivia, e é por isso criticada, por mais que ande de cabeça levantada.
A questão premente é encontrar um ponto de equilíbrio, que permita, sem a oposição da comunidade e até com a sua participação, ajudar estas mulheres a terem uma vida distinta.
A questão premente é encontrar um ponto de equilíbrio, que permita, sem a oposição da comunidade e até com a sua participação, ajudar estas mulheres a terem uma vida distinta.
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