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quarta-feira, 17 de julho de 2019

Contra a xenofobia e a indiferença

Ontem, mesmo,  Salvini, o ministro italiano do Interior, quer que se faça um exaustivo recenseamento de todos os ciganos para, a seguir, serem expulsos de Itália.  A xenofobia cresce a olhos vistos por toda a Europa: ou, de uma vez por todas,  nos empenhamos a fazer tudo o que pudermos, ou um dia qualquer a indiferença bate à nossa porta.  Não escapa ninguém. Deixo um poema (que já divulguei outras vezes) de um poeta alemão que sabia bem do que falava.

A Indiferença

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas,
Mas não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez
de alguns padres, mas como não sou religioso, também não liguei.

Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde

(Bertolt Brecht)



quinta-feira, 11 de julho de 2019

Ainda sobre o reconhecimento cultural (2)

Na etnia cigana, a cultura determina quase tudo. Sem se perceber o papel das tradições – o menino que vai ao cemitério pôr flores frescas todos os dias, na campa do pai, pelo menos nos primeiros tempos, da menina que deixa a escola, porque vai casar dai a nada com um rapaz a quem está prometida desde criança; os conflitos entre famílias; a hierarquia do mais velho… - nenhuma política pública será bem sucedida.

O desconhecimento da realidade cultural dos ciganos, tem dificultado o sucesso de inúmeros programas de integração, por toda a Europa e também em Portugal. Continuam, em relação aos ciganos, os estereótipos, as intolerâncias, as dificuldades de integração social que vê fechadas as oportunidades, tanto no mundo do trabalho, como no acesso à habitação…

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Ainda sobre o reconhecimento cultural (1)


Recordo um jovem de origem cabo-verdiana que, há algum tempo, me disse: - “Chamam-me luso-africano, mas isso é o quê? Significa o quê? Já não sou o que os meus pais e os meus avós foram e são, mas também não sei o que sou. Afinal, sou quem? Pertenço a onde?”

Não são só jovens de origem africana que têm dificuldades de identidade, se questionam e se sentem, por vezes, marginalizados, são todos aqueles que, tendo raízes em culturas minoritárias, se sentem desconfortáveis na sua própria pele, tanto em casa, como na escola ou no meio onde vivem.  
E assim se iniciam processos de desadaptação e de reacção contra o que encontram e não lhes dá as respostas que precisam, de modo a sentirem-se incluídos e valorizados.



terça-feira, 2 de julho de 2019

O reconhecimento cultural: para sociedades mais inclusivas

Um dos temas que mais tenho trabalhado, nos últimos tempos, tem a ver com o reconhecimento cultural. Acaba de sair um artigo que escrevi sobre isso.  Deixo a referência para o caso de alguém  ter interesse em ler.

http://www.revistasisifo.com/2019/06/o-reconhecimento-cultural-para.html

sábado, 29 de junho de 2019

Milton Nascimento


Fui ver, ao Coliseu dos Recreios, Milton Nascimento. Tem 76 anos, quase não se pode movimentar, canta sempre sentado e precisa ajuda para se levantar, sair do palco e agradecer no final. Mas a voz está como sempre: límpida, segura, única, transcendente... Foi Elis Regina que um dia disse: «Se Deus quisesse cantar, escolheria a voz do Milton». Está tudo dito.
Os temas são os de sempre: a vida, os sentimentos, a liberdade, os direitos, a discriminação, a exploração… (por isso, parece estranho que este espetáculo passe por Telavive).
Houve duas convidadas especiais:  Carminho, a fadista, cantou duas canções, muito tocantes - Milton  abraçou-a, numa cumplicidade invulgar; Fáfa de Belém, artista brasileira, falou da amizade com Milton e da importância incomparável da sua música. Foi muito bonito. 
Fiquei a pensar no valor e no poder da música. Fiquei a pensar na «eternidade» do Milton.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

20 de junho - Dia Internacional do Refugiado


O número de deslocados, dentro do próprio país, e de refugiados, os que pedem refúgio em países estrangeiros, atingiu este ano números impressionantes: 70 milhões. São pessoas que deixaram as suas casas, a sua terra, por causa da guerra, da fome, da insegurança, de catástrofes naturais ou  de perseguições política, religiosa ou outra.
Impossível, sequer, imaginar, o que isto significa. Olhamos os rostos, as chagas, os corpos, mas não imaginamos o tormento interior de cada uma delas: o que lhes vai na alma, as tragédias que carregam, as vidas desfeitas, os sonhos troncados…
Mesmo assim, uma grande parte do mundo tenta não ver; constrói muros, vigia fronteiras, cria barreiras. Em Portugal, há estruturas do Estado e da sociedade civil para ajudar os refugiados que o governo recebe, no âmbito do programa europeu de recolocação, vindos sobretudo da Grécia.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Sentidos de pertença...


Nalguns discursos do dia 10 de Junho – Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas – mais do que dissertar sobre a nação, a pátria, o sentido identitário do ser português, apareceu, no discurso do responsável pelas comemorações deste ano – João Miguel Tavares – um sentido de pertença plural, diverso e nem sempre inclusivo, às vezes, até, de não pertença, quando, como referiu, há tanto a fazer no sentido da equidade e da igualdade de oportunidades.
O Presidente da República fala de vários “Portugais”: O que será isto? Serão diferentes culturas,  diferentes desenvolvimentos, diferentes espaços geográficos...? – e, sempre, na crença de que podemos ser excelentes, aos mais diferentes níveis. Não chega acreditar,  diria eu.