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quarta-feira, 28 de abril de 2010

É tal o desvario...

O face a face com o outro já não é momento de revelação, de verdade. Não pode ser, se o outro em vez de se desnudar, prepara e exibe múltiplas máscaras - declarações preparadas, ódios de estimação, interesses, vaidades várias... - Vivemos numa mentira, e é por isso que desconfiamos de tudo e de todos, não nos deixam opção, basta ver as multiplas comissões de inquérito, os discursos de alguns políticos, falam de uma realidade virtual, dizem, desdizem, acusam-se, jogam... como se nada se passasse como se nada fosse (mas passou-se e foi). A política é honradez, honestidade, compromisso com a verdade..., ou já não é?

sábado, 17 de abril de 2010

Sofrimento, serve para alguma coisa?

Acabo de falar, menos de dez minutos, com uma pessoa e foram incontáveis as vezes que lhe ouvi a palavra sofrimento e a palavra medo. Não está doente, ou estará, já não sei. O que sei é que todo o sofrimento é inútil, e, no entanto, é algo omnipresente nas nossas vidas, seja físico, psicológico ou ambas as coisas. O sofrimento fragiliza, atormenta, amedronta, paralisa..., deixa-nos por isso mais atreitos a novos reveses, a novos medos e a novos sofrimentos, numa escalada que às vezes parece sem retorno. Ronda a depressão e tudo o mais.
Digo isto, mas sei bem da carga religiosa e cultural que tem o sofrimento, parece que nos querem fazer crer que é algo que enobrece, nos torna mais fortes, mais dignos de nós. Enaltece-se o sofrimento, o martírio, o calvário… Falam de quê ou de quem?

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Violência que parece não ter fim nunca

Na última semana, um homem em processo de divórcio mata a mulher, o filho de dois anos e suicida-se a seguir, numa aldeia ou vila do distrito de Viseu, julgo. Um outro homem, em Alcobaça, agride até à morte o filho, um bebé de 5 meses. Perante tamanha barbárie, dizer o quê? Monstros, dementes, ou ambas as coisas? Pobres vidas. Aparentemente pessoas integradas, pacatas, vivendo uma “normalidade” que não deixava suspeitas a familiares, amigos e vizinhos.
Agora, aparecem os comentadores de serviço (quase todos psicólogos, como estão na moda estes senhores!), que correm os diferentes programas de televisão, da manhã e da tarde, a comentar o sucedido, convocando um qualquer modelo teórico, um estudo tal ou qual, que tudo explica, não precisando de mais nada, ignorando tudo o mais, enquadramentos, contextos, história, realidades …, mas falando com uma autoridade que as vezes assusta. A mim assusta...

terça-feira, 6 de abril de 2010

Os padres, o vaticano e tudo o resto

Quase sempre, resisto a escrever sobre religião, por respeito, por incapacidade de análise, por ignorância... Mas quando se trata de analisar factos concretos, é possível opinar, falar, mesmo com toda a falta de claridade, visto o fenómeno permanecer, em muito, na penumbra. Que há padres pedófilos e crianças e jovens abusados, parece não haver dúvida, se é mais nos Estados Unidos, na Alemanha, aqui ou ali, não sei, haverá em muitos lados, a natureza humana não muda por mudar a geografia. Mas a mesma natureza humana dotou-nos de livre arbítrio, de vontade, de capacidade de distinguir o bem do mal, não há desculpa para isto. Mas é certo que daqui não decorre que todos os padres pratiquem semelhantes abusos ou que neste grupo se pratiquem mais que noutros. Certo é que é um crime, maldade pura, continuada, ignorada, escondida, por anos e décadas, muito mais grave do que nos querem fazer crer. Quem tem culpas? Muita gente, certamente. Veremos até onde vai e como é tratado todo este abuso.

terça-feira, 23 de março de 2010

A minha devoção a Obama

Como todas as devoções é intuitiva, desmedida, sem necessidade de razões. Acredito e nada mais interessa. Acredito nas boas intenções de Obama, acredito nas suas capacidades, acredito na sua determinação, acredito na sua luz... Isto faz toda a diferença, apesar da política e dos políticos, dos interesses e dos jogos, muitos, claro...
Ontem, milhões, muitos milhões, de americanos, ganharam direito à saúde, como se fosse coisa pouca, desnecessária. Obama ganhou uma luta política de muitos anos e de muitas pessoas, mas o ganho verdadeiro foi daqueles que finalmente podem aceder a um direito humano básico.
Acredito em Obama, é uma crença, sim, mas se não acreditarmos em alguém , resta o quê?

sábado, 20 de março de 2010

As mulheres de branco

Nas ruas de Havana, desfilam mulheres de branco, com uma flor na mão, sem palavras de ordem, mas que não fazem falta, já que o seu silêncio é de gritos e está a ouvir-se no mundo todo. Desfilam pelos maridos, pelos filhos, pelos irmãos… - cerca de 50 presos políticos, encerrados, muitos desde 2003, nas masmorras das prisões cubanas. Desfilam por amor, por sentimento, por dignidade. Por dignidade, senhores! Vamos ver até quando e com que consequências!
Fazem lembrar as mães argentinas, as mães da Praça de Maio, que, durante anos, todas as semanas, desfilaram pelos filhos desaparecidos, às mãos de uma ditadura militar. Fazem lembrar a força invisível que os sentimentos têm. Fazem lembrar o valores da liberdade e da justiça. Fazem lembrar novos amanheceres. É pena que tenha de ser à custa de tanta luta e de tanto sofrimento. Malditos ditadores, malditas ditaduras!

segunda-feira, 15 de março de 2010

"Quando sorria, era outra pessoa"

Uma aluna, do tristemente célebre 9º B, da escola de Rio de Mouro, que terá sido a gota de água para o suicídio do professor de música, fala do mau comportamento dos colegas, da falta de respeito, das palavras humilhantes que lhe dirigiam, da impossibilidade dele lidar com a situação, do seu carácter reservado, do silêncio..., diz que às vezes ficava a falar com ele no final da aula, e que não ficou mais vezes, com medo que falassem, e que agora se arrepende de não o ter ajudado mais. "Uma vez arrancámos-lhe um sorriso. Quando se ria era outra pessoa" - diz. Como não ia ser outra pessoa! É devastador o dano que este tipo de desrespeito faz à dignidade de alguém!
Há, no bullying, este aspecto medonho, é que quem se disponha a ajudar tem também de se enfrentar com os agressores, com o bando, pode tornar-se na próxima vítima. Por isso, tantos escolhem nada dizer ou fazer.