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domingo, 19 de junho de 2022

Nódoas negras...

 Quantas vezes imaginou histórias alegres, vidas felizes, risos contagiantes… mas sempre eram páginas para deitar fora! Escrever sem paisagens, sem amanheceres luminosos, entardeceres intensos ou mares sem fim, escavando interiores, lá onde a marca é funda e teima em permanecer, não era uma contingência, era uma necessidade. Escrever sobre vivências de perda, de morte, de exploração, de guerra…, parecia um destino. Aceitava-o, mesmo que isso a desestabilizasse emocionalmente e tivesse, muitas vezes, de fugir de si mesma e dos seus abismos.

 Passadas horas, dias ou semanas, retornaria ao texto, sabia-o, como se um oculto desejo, um apelo de redenção, mesmo passados quarenta anos, a levassem irremediavelmente a isso.

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Dia Internacional da criança - o direito à saúde

 O homem deixou, na mesa, um maço de notas e disse à mulher, através de gestos, (talvez fosse surda-muda), que eram para levar menino ao médico.

Sete, oito, anos, estendido numa esteira, ardendo em febre, olhos fechados, imóvel, com uma fragilidade que dói e assusta, porque se pressente o pior, o menino ali está.

Se fosse um país desenvolvido, teria sido assistido, a tempo e horas, num hospital e um antibiótico ou outro medicamento ter-lhe-iam salvo a vida. Mas, naquele subúrbio insalubre, duma imensa cidade asiática, o destino seria provavelmente outro.

Foi muito tempo a mais a tentarem arranjar aquele dinheiro, e o menino não resistiu. O tal senhor que tinha deixado o maço das notas (talvez o pai), chega para o funeral, há muita gente, a mãe não está só…, cumprem-se os rituais religiosos e o menino parte.

 

(Sobre um documentário, de que já não recordo o nome).

domingo, 22 de maio de 2022

A educação é a chave mestra- abre todas as portas

 Não dês o peixe, ensina a pescar.

                                                                                Prov. Chinês

 Parece óbvio, pois quem sabe pescar, se tiver condições e vontade, pesca. É isto educar: dar ferramentas, conhecimentos, desenvolver capacidades e tornar possível determinadas atitudes e comportamentos.

Mas é mais que isso, educar é também um modelo de desenvolvimento, por exemplo, os países do 3º mundo só se desenvolverão de forma sustentada se “forem ensinados a pescar” se desenvolverem as suas capacidades e os seus conhecimentos, se aliarem de forma consistente o saber, a técnica e os recursos naturais. Na educação está a chave para o desenvolvimento e a justiça global.

 

 

quinta-feira, 12 de maio de 2022

Onde estão os soldados russos mortos?

 Na Rússia, há uma realidade paralela, para não dizer, uma mentira do princípio ao fim, sobre as justificações da guerra, os alvos atingidos, as conquistas, a destruição, os feridos, os mortos, os crematórios móveis…

Quando aquele pai russo que sabe que o filho, jovem recruta, estava no navio Mostva, afundado no mar Negro, pergunta: - onde está o corpo do meu filho?

A resposta oficial: - não havia recrutas no navio; o seu filho não morreu no mar.

Como é eu se pode aguentar, tamanha desumanidade? O que fazer? 

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quarta-feira, 4 de maio de 2022

O guardador de gado


Quando ficou órfão, foi levado para casa de um senhor que, em vez de o criar como se devem criar as crianças, o pôs a guardar gado, quase numa espécie de escravatura.
- Tenho 12 anos, vivo em Massinga (Moçambique) e guardo gado - disse-me.
- Tens um grande o rebanho! Sabes, quantas cabeças são?
- Não sei quantas cabeças de gado guardo, porque não sei contar, nunca fui à escola. O rebanho é da família, a maior parte, mas também é de outras pessoas, tenho de ir duas vezes ao rio, de manhã e à tarde, para poderem beber água. Tenho inveja dos meninos que vão a escola.
- Talvez, um dia ainda possas ir à escola!
Fico a pensar em todos os meninos que guardam gado e nunca foram à escola.

terça-feira, 26 de abril de 2022

Um poema de Ruy Belo: "E tudo era possível"

Na minha juventude antes de ter saído

da casa de meus pais disposto a viajar

eu conhecia já o rebentar do mar

das páginas dos livros que já tinha lido

 

Chegava o mês de Maio era tudo florido

o rolo das manhãs punha-se a circular

e era só ouvir o sonhador falar

da vida como ela houvesse acontecido

 

E tudo se passava numa outra vida

e havia para as coisas sempre uma saída

Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer

 

Só sei que tinha o poder de uma criança

entre as coisas e mim havia vizinhança

e tudo era possível era só querer

 

Ruy Belo

 

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Viva o 25 de abril, a revolução portuguesa

A jovem saiu de casa como todos os dias, sem saber que tinha havida uma revolução naquela madrugada. Ela não sabia que podia haver revoluções, que a vida podia ser diferente, que os quartéis,  as tropas, as  mobilizações e as mortes em Angola, Moçambique, Guiné..., não eram uma normalidade. Ela não sabia que o homem simpático que regava as flores e dava lustro à placa dourada da sede da PIDE/ DGS, era do regime Ela não sabia o que era o regime!

Agora sabe. Aprendeu que a liberdade, a igualdade e a democracia não são um destino,  antes, uma luta diária de pessoas e instituições nacionais e supranacionais.