Podíamos ir contra a realidade, mas seria pouco inteligente. Importa olhar à volta e perceber que a diversidade cultural é um dos dados mais decisivos das sociedades atuais e que não chega proclamar a universalidade dos princípios - liberdade, igualdade... - é preciso criar condições efetivas para a sua concretização. Isso passa por compromissos partilhados, a nível político, económico e social.
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quarta-feira, 3 de março de 2021
domingo, 28 de fevereiro de 2021
António Guterres – recandidato a Secretário Geral da ONU
Foi
há poucos dias formalizada, pelo primeiro ministro português, a recandidatura
de António Guterres ao mais alto cargo das Nações Unidas. Impressiona o
percurso deste homem: natural de Donas, uma aldeia do Fundão, chegou onde
chegou, como se nada fosse; sempre com o mesmo sentido de serviço, humanidade,
gratidão, firmeza nos princípios....
É
assim Guterres. Parece nunca querer o primeiro plano, mas tem-no, evidentemente.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
O menino-soldado
Saiu de noite, sem se despedir da mãe, levado à força, para um destino desconhecido e incerto de que ele sentia curiosidade e também arrepios de medo. Eram muitos os que subiram no velho camião conduzidos por três homens soldados.
- Tu vais ser um soldado, defender a pátria!
Disso ele não percebe nada. Sabe que hoje está vivo
e amanhã poderá ser morto. Pensa que não se despediu da mãe que andava na
lavra. Que terá ela pensado, irá arrumar-lhe as poucas coisas que deixou, esperará por
ele, o que lhe dirá quando voltar?
- Vais matar
o inimigo, o bandido armado - continuava o oficial.
“E, então,
ele não era bandido armado” – pensava o miúdo cada vez mais encostado à grade
do camião que se arrastava demoradamente, sempre em grandes solavancos, como se
a viagem fosse um prenúncio da tragédia que ia viver.
domingo, 21 de fevereiro de 2021
O bispo de Pemba deixou Moçambique, a mando do Papa
Era uma das poucas vozes que denunciava os massacres das populações, por grupos armados pertencentes a fações do estado islâmico. Vivia no meio do povo, chamando a atenção para aquela catástrofe humanitária. Foi mandado para uma região do interior do Brasil, país de onde é natural. Por que é que o Papa fez isto? Por que razão isto aconteceu? Se houve pressões políticas, é inadmissível!
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021
O outro
Quem é o outro, sentado a meu lado, em frente ou atrás de mim, no transporte público, na repartição, no teatro, na rua, na casa onde vivo…?
Quem o outro que vejo sentado no muro de um qualquer lugar, que trabalha comigo, no mesmo gabinete, na mesma escola, no mesmo hospital…?
Quem é o outro, meu vizinho, meu amigo, meu irmão, meu pai, meu marido, meu filho…?
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
Lá longe ...num lugar e tempo (9)
Saída da cidade de Nova Lisboa, hoje Huambo
Mas é certo que não se fazem revoluções, para que nada mude. Intuem uma tragédia, sobretudo a mãe que repetia, sem parar: -“Temos de sair, temos de sair”!
O pai debatia-se, entre o
sair de imediato, deixando tudo atrás, sem organizar o mínimo que fosse ou
ficar na cidade, até à próxima saída, também, em coluna militar, empacotando
uma vida, em malas e caixotes que chegariam ou não a algum sítio. A aflição da
mãe era tal, que decidem partir.
O que fica atrás, é nada,
quando se teme pela própria vida. Levam alguma roupa, coisas pessoais,
fotografias, livros.... Ficam a casa, os móveis, o jardim, o cão…; os olhos do
cão, a corrida desenfreada, os uivos de aflição …, fizeram com que aquela saída
fosse ainda mais dolorosa, longe de pensarem no que iriam viver, muito
proximamente.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2021
Lá longe... num lugar e tempo (8)
A exploração branca
Muitos dos que nasceram e viveram, nas colónias portuguesas em África, pelo menos os mais novos, não tinham a perceção do que era a exploração branca e a vida miserável e sub-humana da quase totalidade dos negros.
Não imaginavam o que eram as elites brancas, os chás das senhoras, os bailes nos clubes privados, as festas reservadas, os colégios dos meninos ricos…. Só muito mais tarde, perceberam a hipocrisia daquelas vidas.
A esses senhores, colonizadores da cabeça
aos pés, os revolucionários deviam ter batido à porta, abanado as consciências,
feito perguntas, exigido responsabilidades…, mas aos meus pais, não.
Mas qual responsabilidade,
foram os primeiros a sair. Como sempre, até na maior crise, o mal não é igual
para todos, quem tem dinheiro, poder e contactos, movimenta-se por veredas que
só eles conhecem, inacessíveis ao comum das pessoas.