Se ficam viúvas ou são mães
solteiras, renegadas pelos parentes, ficam completamente desesperadas. O
abandono e a fragilidade são completos. Uma tragédia sem limites as devora por
dentro, as perturba, as leva ao limite da sua capacidade de sofrimento mental.
Psicologicamente afectadas, como podem continuar a pensar, a cuidar-se e a
tratar dos filhos? Infinitamente sós vagueiam, pedindo esmola, prostituindo-se,
sendo usadas e abusadas por homens que as tratam sem pingo de humanidade e as
condenam à valeta.
O pior é que o fazem em nome de
uma religião, dum fundamentalismo religioso, que não deixa qualquer espaço para
a denúncia, o confronto ou a fuga. Só alguns podem. Muitas vezes me
interrogava:
- Como podemos continuar caladas? Como podemos continuar passivas?
Como poderemos contar aos nossos filhos o que nos está a acontecer?
Mas a resposta às minhas
perguntas era óbvia. Como podíamos resistir de estômago e mãos vazias? Como
podíamos, sem nada, lutar contra homens alucinados, dependentes do cheiro a
pólvora, armados e sem outra linguagem que não fosse a da violência. Aqui a
vida não tem o mesmo sentido. Não pode ter, senão como explicar isso?