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segunda-feira, 6 de junho de 2016

Fundamentalismo islâmico: o inferno era ali (1)

(Quis escrever, mais uma vez, sobre os refugiados do estado islâmico, mas vieram-me à lembrança imagens de outros ou do mesmo inferno. Este fundamentalismo não começou hoje, vem de longe e de perto, vem de sempre).

Abrir a janela, sair à rua, eram coisas impossíveis. A guerra, a contínua e destruidora guerra, levava os homens para a guerrilha, deixando desamparadas muitas mulheres e crianças. Mulheres e crianças muitas vezes vítimas e várias vezes fechadas. Restava-lhes sonhar que um dia seria possível atravessar as altas montanhas, atingir o lado de lá da fronteira e entrar no Paquistão, onde poderiam, pelo menos, ter a esperança de ver diminuída a insegurança e o medo. Como se fosse possível, aí, aliviar o inferno! 
Mil vezes, perguntei a mim própria como era possível ter chegado ali. Viver como se tudo tivesse ruído, a sociedade recuado cem anos, todos os direitos perdidos, toda a dignidade em causa e toda a capacidade de seguir vivendo normalmente aniquilada. Viver em subterrâneos, educar as crianças clandestinamente, correr, a toda a hora, sérios riscos de vida, era o dia a dia de milhões de pessoas. Fecharam as escolas, reduziram a vida e a condição das mulheres a uma situação humilhante.
Há trinta anos, setenta por cento dos professores eram mulheres. Trabalhavam, saíam de casa, havia uma normalidade de vida, embora muito determinada pela cultura e as tradições. Isso tinha deixado de existir.
Nada, agora, era normal. A severidade e a demência dos taliban deitavam por terra qualquer tipo de lógica, qualquer tipo de sentimento, como se os mais elementares traços de humanidade que cada um de nós transporta não pudessem existir. Começamos por nos esquecer de rir, de falar, de amar, de ser solidário, com a nossa sanidade mental,continuamente posta à prova, numa luta diária, para não deixar de ser gente. Manter alguma dignidade e alguma decência exigiam a capacidade de continuar. Resistir era o mais importante.


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