Queria eu ter um ponto mínimo que
me permitisse compreender. Não encontrava, e isso era o mais terrível, o mais
doloroso. Tudo ruía dentro de mim. Tudo. A minha vida, as minhas crenças, o meu
passado, o meu presente e, pior, ainda, o meu futuro. Sairia alguma vez dali?
Não sabia. Mas, tal como todos os outros, imaginava essa possibilidade.
Precisava, para sobreviver, de acreditar que o pesadelo teria um fim.
- O povo, todo o povo, estará com
os Taliban? – interrogava-me, milhares e milhares de vezes. Não estava, mas não
havia possibilidades de rebelião, a opressão era tal e assumia tais formas que
era impossível, bastava uma fatha e tudo se desmoronava, aumentava a
violência, o medo, a desconfiança. Seria possível mudar? Seria possível uma
coisa diferente? Voltariam as mulheres a fazer parte da sociedade, a ter
direitos, a passear com os filhos? Voltariam a existir jardins, espaços de
convívio e de educação públicos, bibliotecas, escolas, torneios de futebol,
voltaríamos a ouvir música a sentir a emoção de assistir a um filme?
E os homens? Os homens, muitos
deles, são igualmente vítimas.
O uso da Burka é, em primeiro
lugar, uma questão religiosa, um preceito religioso, mas é igualmente uma
questão social. Mas apesar de tudo o mais violento e inaceitável era a
obrigação de usá-la,
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