- Não
preciso de água, o sol magoa-me, preciso de chão, de terra, que a minha raiz
seja colocada a uma profundidade boa, para poder crescer direitinha e forte. Sem
chão não vou poder resistir ao burburinho do vento, mesmo que seja fraco, não resistirei à chuva, mesmo que seja pouco forte - queixava-se a flor.
Há tantos perigos que espreitam quando as raízes são fracas e não temos
os apoios que precisamos para nos sentirmos confortáveis na terra. Preciso de uma
raiz presa à terra e de uma estaca que me ajude a segurar em pé.
A menina replantou a planta, fez um buraco
mais fundo, colocou a raiz completamente dentro da terra, alisou-a, fez uma
pequena poça que encheu de água e colocou-lhe, junto ao caule, uma estaca, como
uma muleta, para que a flor não caísse e se partisse, com o vento ou algum
encontrão.
Ficou à espera que ela reagisse àquela operação, sim, que replantar uma
planta é uma coisa difícil e que precisa de cuidados para ser bem sucedida.
A flor precisava de força para se agarrar com sucesso à vida e à terra do canteiro.
Passou tempo. A flor sobreviveu. Caíram-lhe as folhas, o fruto nesse ano não amadureceu, mas
ela agarrou-se à terra do canteiro, do seu canteiro, agora sentia que aquela terra também era sua. As raízes estão fortes, sente-se bem, está como se aí tivesse nascido.
Na
próxima Primavera, renascerá, terá folhas, flores e frutos. Presa à terra, está
presa à vida; ter um chão é sentir que nada de mal lhe pode acontecer e se
acontecer terá raízes para se defender. Já não acorda com dores de coluna, de
cabeça e de abraços, já não precisa de muletas nem de cuidados especiais, é igual às outras flores, precisa dos mesmos cuidados.
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