Os refugiados continuam a fugir, a arriscar a vida e a morrer. Pode lá haver pior coisa que este impasse que leva a que se multipliquem as tragédias, se adiem as soluções e se aumente a desesperança. Pode lá haver pior coisa que esta incapacidade da Europa e do resto do mundo de lidarem eficazmente com os refugiados.
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sábado, 14 de maio de 2016
quarta-feira, 11 de maio de 2016
Identidade cultural
“Brasil é meu chão, minhas raízes, meu respirar…”
– diz o músico brasileiro, num encontro intercultural, depois de mais de vinte anos
a viver em Lisboa. “Todos os dias vou à minha casa, à minha cidade, à minha rua…”,
continuou.
Fico a pensar: que sentimento é este que mesmo separado por oceanos, montanhas e países, permanece intacto? Que sentimento
é este que leva o senhor a emocionar-se e a emocionar muitos naquela sala?
Se calhar todos sabemos do que se trata!
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diferenças culturais,
multicultura
segunda-feira, 9 de maio de 2016
O meu filho, diz-me o senhor
O filho ocupa toda a vida deste homem, mais de oitenta anos: “não
consegui enviar um email para o meu filho, mas à noite telefono-lhe”. É assim,
invariavelmente. Todos os dias vai aquela biblioteca utilizar o computador para
se comunicar com o filho. Todos os dias e a todas as horas fala do filho. Às
vezes conta histórias e situações que deixam perceber que o filho é ainda um
menino, mas isso não pode ser, porque me diz que trabalha em Luanda.
Fico confusa, mas nada pergunto. Até que um dia me mostrou uma
fotografia, ele, o filho e um casal amigo, em Nova Iorque, o rapaz com dezasseis
anos, na altura em que caíram as Torres, 2001. O filho terá então trinta e um
anos, mas para o pai, a idade está lá atrás, quando o levava pela mão e lhe
perguntavam se era neto, quando viajava pela América, com ele adolescente,
quando a ausência não existia, pelo menos desta forma.
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amor,
relações familiares,
sentimentos
sexta-feira, 6 de maio de 2016
Por que falham as instituições?
Não sei se a mãe que matou as filhas, dezanove meses e quatro
anos, atirando-as ao mar, é ou não uma doente psiquiátrica. Não sei se ela
queria ou não suicidar-se a seguir, acredito que sim, que é uma doente e que
pretendia morrer com as filhas que acabava de matar. Mas não morreu, foi salva.
Não se pode entender de outro modo o que se passou; só admitindo
que não tinha consciência do que fazia, podemos lidar com a ideia de que não se
trata de um monstro, mas de alguém a quem a má sorte ou o que seja colocou numa
situação em que ninguém pôde ajudar, falo das famílias, das instituições de
apoio à vítima, dos hospitais, das Comissões de Proteção de Menores, de todos os
lados onde bateu à porta e não viram a gravidade da situação.
Obviamente que não sabemos toda a verdade sobre o que se passou. Não sabemos se o pai é ou não agressor, se o pai é ou não também uma vítima do estado
mental da senhora. O que sabemos é que a morte das duas meninas não era
inevitável, não sofriam de doença terminal, não sofreram um acidente, foram
mortas pela mãe, numa escalada de desespero e talvez doença que ninguém avaliou
suficientemente. Esperamos que as instituições respondam, mas o que se vê, infelizmente, vezes repetidas, é a incapacidade de lidar com estes casos, perdidas que estão em relatórios, burocracias e formalismos.
quinta-feira, 3 de março de 2016
O outro
Um ser humano só deve olhar outro ser humano de cima para baixo se for para o ajudar a levantar.
Gandhi
domingo, 28 de fevereiro de 2016
Os precários coletes salva vidas
A tragédia dos refugiados tem
uma dimensão que assusta, não apenas pelos números, mas pela ganância e pela
insensibilidade de tantos que fazem toda a espécie de negócio. Por aqueles que, aproveitando-se da fragilidade de quem não tem nada a perder, troca a fome, a
doença e a morte debaixo dos intermináveis bombardeamentos, para se lançar ao
mar, na mão de traficantes sem escrúpulos, enriquecendo com a miséria humana.
Mas, todos os dias descobrimos um
pouco mais, agora é a falta de segurança dos coletes salva vidas, fabricados em
fábricas turcas (sempre que há mercado, aparece o negócio); são de tal modo mal
feios que passado uma hora no mar se desfazem e as pessoas afundam; levar um
salva vidas daqueles, em caso de naufrágio,é quase o mesmo que nada.
É uma jornalista habitante da
ilha de Lesbos que faz a denúncia, é uma jornalista que todos os dias, talvez
por força do seu trabalho, vai até ao local dos desembarques, a mesma que ainda
não se habituou ao que acontece com estes refugiados e continua a narrar o que
vê com sentimentos. Enquanto isso, outros dos habitantes como que se anestesiaram para
poderem sobreviver, é como se não vissem o que vêem, é como se não assistissem
ao que assistem. Já não olham, já não querem ou não podem ver (faz
lembrar os campos de concentração nazis, pessoas que habitavam a poucos
quilómetros declaravam, “não sabia que se passava isto, nunca vi, não tinha
ideia…”Que mecanismo mental é este?” Não sei dizer.).
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corrupção,
refugiados,
trafico
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
Como recuperamos sentidos?
Um
dos males que Taylor aponta às sociedades modernas é a perda de
significados. Na verdade, temos vindo a perder as referências, antes, estáveis
(família, estado, igreja...), que nos permitiam pensar e viver de forma
coerente e sem grandes ruturas. Cada vez menos procuramos abrigo em
transcendentes, heróis e mitos que antes criavam sentido e davam segurança.
Fomos perdendo valores e construindo ilhas, muitas vezes apenas virtuais, mesmo
que vivamos vinte e quatro horas ligados a computadores e a telemóveis de
última geração. Paradoxalmente, o
acesso a tudo em tempo real cria excessos e ruídos que muitas vezes mais não
são do que incomunicação. Ora nada mais desumano.
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