Deixou na mesa um maço de notas e
disse à mãe da criança que eram para a levar ao médico, fazendo todos os gestos
possíveis para que ela entendesse (talvez fosse surda-muda). Estendido numa
esteira, ardendo em febre, olhos fechados, imóvel, com uma fragilidade que dói e
assusta, pois pressente-se o pior, o menino ali está.
Se fosse num país desenvolvido,
teria sido, a tempo e horas, assistido num hospital e um antibiótico ou outro
medicamento ter-lhe-ia salvo a vida. Mas, assim, naquele subúrbio insalubre,
daquela imensa cidade asiática, o destino seria outro. Foi tempo de mais até se
arranjar o dinheiro necessário para o tratar.
Se estivesse a escrever ficção,
este menino não morreria, haveria tempo para a mãe o levar ao hospital, para comprar
medicamentos, e o fim seria o de uma criança feliz, a brincar na rua, mas como estou
a escrever sobre a realidade, não posso fugir ao fim trágico, o menino morreu.
O tal senhor que tinha deixado o
maço das notas, chega para o funeral, há muita gente, a mãe não está só.
Cumprem-se os rituais religiosos e culturais, e o menino parte. Mas, talvez nunca
parta enquanto viverem, alguns dos que ali estão, pelo menos a mãe.