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segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Tagore, poeta indiano

Estou a reler uns textos de Tagore: ás vezes entendo tudo, ás vezes não entendo nada, ás vezes fico  a pensar, a questionar-me, porque me atrapalha esta racionalidade? Porque não me deixo levar por um misticismo que tudo toca?
Não sei, quero sempre razões, explicações, causas e efeitos, quero sempre compreender, mas sinto que alguma coisa se afasta de mim.

sábado, 25 de junho de 2016

Pessoas e sentimentos

Queria tanto escrever de forma simples, sobre  coisas importantes, mas não sou capaz. Vivo enredada  em conceitos, teorias..., que servem para muito pouco, porque nada é mais importante que a vida concreta de pessoas concretas, que riem, choram, amam, desprezam, sentem raiva, compaixão...; pessoas reais, afinal de contas.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Refugiados/deslocados: uma história (2)

- Não preciso de água, o sol magoa-me, preciso de chão, de terra, que a minha raiz seja colocada a uma profundidade boa, para poder crescer direitinha e forte. Sem chão não vou poder resistir ao burburinho do vento, mesmo que seja fraco, não resistirei à chuva, mesmo que seja pouco forte - queixava-se a flor. 
Há tantos perigos que espreitam quando as raízes são fracas e não temos os apoios que precisamos para nos sentirmos confortáveis na terra. Preciso de uma raiz presa à terra e de uma estaca que me ajude a segurar em pé.
 A menina replantou a planta, fez um buraco mais fundo, colocou a raiz completamente dentro da terra, alisou-a, fez uma pequena poça que encheu de água e colocou-lhe, junto ao caule, uma estaca, como uma muleta, para que a flor não caísse e se partisse, com o vento ou algum encontrão.
Ficou à espera que ela reagisse àquela operação, sim, que replantar uma planta é uma coisa difícil e que precisa de cuidados para ser bem sucedida. A flor precisava de força para se agarrar com sucesso à vida e à terra do canteiro. 
Passou tempo. A flor sobreviveu. Caíram-lhe as folhas, o fruto nesse ano não amadureceu, mas ela agarrou-se à terra do canteiro, do seu canteiro, agora sentia que aquela terra também era sua. As raízes estão fortes, sente-se bem, está como se aí tivesse nascido.

Na próxima Primavera, renascerá, terá folhas, flores e frutos. Presa à terra, está presa à vida; ter um chão é sentir que nada de mal lhe pode acontecer e se acontecer terá raízes para se defender. Já não acorda com dores de coluna, de cabeça e de abraços, já não precisa de muletas nem de cuidados especiais, é igual às outras flores, precisa dos mesmos cuidados. 

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Refugiados/deslocados: uma história

 

 T      A flor murchava cada vez mais. Estava doente, há muito tempo, mas a doença tinha-se agravado, nas últimas semanas. O que se passaria com a flor? Fora plantada e regada, tinha sol, cuidados, mas não crescia como as outras flores suas vizinhas que tinham sido semeadas naquele canteiro. Talvez seja por ter sido trazida de outra terra e plantada, nasceu noutro lugar, num bonito vaso e aí era feliz, até ser arrancada com força e trazida para aqui. Ainda não se adaptou ao lugar e sofre de fraqueza até se habituar à terra. Precisa de mais atenção, de mais apoio, de mais água…,para que a sua raiz se agarre à terra, como se fosse sua, como se aí estivesse desde sempre, ai tivesse nascido, e sentisse que aquela terra lhe pertencia, também. 

     Talvez a plantação não tivesse sido feita com o cuidado necessário, talvez a raiz tivesse ficado muito à superfície e não pudesse alimentar-se como deve ser, talvez não seja nada disto e nem ela saiba bem porque se sente assim. Estava doente, sabia-se, porque não crescia como as outras e murchava, até que um dia começou a inclinar-se e a queixar-se de dores no corpo, queixava-se da coluna, dos braços e dos pés,  inclinando-se cada dia mais um pouco até que parte da raiz ficou ao ar e começou a secar. Era o fim, se não a ajudassem a sobreviver.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Palmas para a deputada britânica morta há dois dias

Mataram uma deputada trabalhista, por ódio, simplesmente. Mataram-na  a frio e com a crueldade de que são capazes todos os radicalismos, sejam religiosos, ideológicos, políticos... Matam, porque não aguentam  quem os olha nos olhos e tem a coragem de agir. Ela agia, denunciava, propunha...

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Fundamentalismo islâmico: o inferno era ali (3)

Queria eu ter um ponto mínimo que me permitisse compreender. Não encontrava, e isso era o mais terrível, o mais doloroso. Tudo ruía dentro de mim. Tudo. A minha vida, as minhas crenças, o meu passado, o meu presente e, pior, ainda, o meu futuro. Sairia alguma vez dali? Não sabia. Mas, tal como todos os outros, imaginava essa possibilidade. Precisava, para sobreviver, de acreditar que o pesadelo teria um fim.

- O povo, todo o povo, estará com os Taliban? – interrogava-me, milhares e milhares de vezes. Não estava, mas não havia possibilidades de rebelião, a opressão era tal e assumia tais formas que era impossível, bastava uma fatha e tudo se desmoronava, aumentava a violência, o medo, a desconfiança. Seria possível mudar? Seria possível uma coisa diferente? Voltariam as mulheres a fazer parte da sociedade, a ter direitos, a passear com os filhos? Voltariam a existir jardins, espaços de convívio e de educação públicos, bibliotecas, escolas, torneios de futebol, voltaríamos a ouvir música a sentir a emoção de assistir a um filme?
E os homens? Os homens, muitos deles, são igualmente vítimas.

O uso da Burka é, em primeiro lugar, uma questão religiosa, um preceito religioso, mas é igualmente uma questão social. Mas apesar de tudo o mais violento e inaceitável era a obrigação de usá-la, 

terça-feira, 7 de junho de 2016

Fundamentalismo islâmico: o inferno era aí (2)

Se ficam viúvas ou são mães solteiras, renegadas pelos parentes, ficam completamente desesperadas. O abandono e a fragilidade são completos. Uma tragédia sem limites as devora por dentro, as perturba, as leva ao limite da sua capacidade de sofrimento mental. Psicologicamente afectadas, como podem continuar a pensar, a cuidar-se e a tratar dos filhos? Infinitamente sós vagueiam, pedindo esmola, prostituindo-se, sendo usadas e abusadas por homens que as tratam sem pingo de humanidade e as condenam à valeta.
O pior é que o fazem em nome de uma religião, dum fundamentalismo religioso, que não deixa qualquer espaço para a denúncia, o confronto ou a fuga. Só alguns podem. Muitas vezes me interrogava: 
- Como podemos continuar caladas? Como podemos continuar passivas? Como poderemos contar aos nossos filhos o que nos está a acontecer?
Mas a resposta às minhas perguntas era óbvia. Como podíamos resistir de estômago e mãos vazias? Como podíamos, sem nada, lutar contra homens alucinados, dependentes do cheiro a pólvora, armados e sem outra linguagem que não fosse a da violência. Aqui a vida não tem o mesmo sentido. Não pode ter, senão como explicar isso?