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terça-feira, 16 de abril de 2013

Imigrantes,

Levantar muros, fechar portas e janelas não é a melhor resposta, nem será nunca a solução para os problemas das sociedades actuais, cada vez mais diferenciadas, diversas e multiculturais, com prementes questões de direitos humanos – discriminações, violência, insegurança, imigração clandestina, exclusão social...

O número crescente de excluídos não é apenas formado pelos africanos e outros imigrantes que chegam às cidades do mundo rico à procura de condições mínimas de sobrevivência, são, também, os que, embora, vivendo nele, estão à margem do sistema económico e social. As questões da distribuição da riqueza, as injustiças sociais, são a causa das maiores violações de direitos humanos no mundo.  

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Morre-se, assim


Deixou na mesa um maço de notas e disse à mãe da criança que eram para a levar ao médico, fazendo todos os gestos possíveis para que ela entendesse (talvez fosse surda-muda). Estendido numa esteira, ardendo em febre, olhos fechados, imóvel, com uma fragilidade que dói e assusta, pois pressente-se o pior, o menino ali está.
Se fosse num país desenvolvido, teria sido, a tempo e horas, assistido num hospital e um antibiótico ou outro medicamento ter-lhe-ia salvo a vida. Mas, assim, naquele subúrbio insalubre, daquela imensa cidade asiática, o destino seria outro. Foi tempo de mais até se arranjar o dinheiro necessário para o tratar.  
Se estivesse a escrever ficção, este menino não morreria, haveria tempo para a mãe o levar ao hospital, para comprar medicamentos, e o fim seria o de uma criança feliz, a brincar na rua, mas como estou a escrever sobre a realidade, não posso fugir ao fim trágico, o menino morreu.
O tal senhor que tinha deixado o maço das notas, chega para o funeral, há muita gente, a mãe não está só. Cumprem-se os rituais religiosos e culturais, e o menino parte. Mas, talvez nunca parta enquanto viverem, alguns dos que ali estão, pelo menos a mãe. 

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Mulheres sem rosto



Vimos, há dois ou três dias, numa reportagem televisiva, aquando da deslocação do ministro da saúde à Arábia –Saudita, procurando negócios, nomeadamente nesta área, mulheres de bata branca e um enorme véu preto sobre o rosto, ficando apenas a descoberto os olhos. Chocante, para dizer o mínimo. Inaceitável, quando o mundo de hoje é de inter-relações globais.
 Já escrevi tantas vezes sobre este assunto, mas sinto que não podemos continuar sem nada fazer, o argumento religioso e cultural não chega, não estamos mais na Idade Média, em sociedades fechadas, a abertura impõe novos critérios, desde logo o do respeito pela relação com os outros.
Sem rosto, parecem também sem identidade, como é que as vemos, como é que as recordamos? Não há relação, nos moldes em que a entendemos, da solicitude, da reciprocidade, do olhar o rosto. Não queremos impor nada mas parece razoável perguntar: não temos o direito a uma relação face a face, a uma relação  de proximidade que só o rosto, torna possível. Mulheres sem rosto, quem lhes impõe tal destino?



quarta-feira, 3 de abril de 2013

Manifestações, todos estamos nas ruas


Sucedem-se as manifestações, novos, velhos…, diferentes grupos profissionais, reformados e pensionistas. Alguns são manifestantes improváveis, não fazem parte da luta ideológica, sempre presente, fazem- no porque há um tomar de consciência de que é necessário, de que não pode ser de outro modo. Prefeririam ficar em casa, no sofá, mas são impelidos por uma urgência: a de que não podemos continuar assim.
Se deixamos o mundo entregue aos políticos e especialistas de Bruxelas e outros que tais (há muitos por essas instituições supra nacionais) não haverá saída. Fazem brilhantes previsões, que geralmente não acertam, análises contraditórias, soluções de madrugada, que ao comum dos mortais, parecem sempre um confronto de interesses, onde os alemãs nunca perdem e os outros arranjam tristes justificações para mais um corte, um imposto, uma taxa, um resgate…; ou ficaremos condenados a décadas e, se calhar, até, séculos de desmoronamento de direitos e de  invernia social. 

sábado, 23 de março de 2013

Voltando aos olhos da Sheila…

De que falam?  Falam do que lhe está a acontecer. Falam da vida mesma, de expectativas frustradas, de desentendimentos quotidianos, da família que não vê, da escola que não pode frequentar, do emprego que precisa, de ausências sofridas, de amores que doem…
Os olhos da Sheila falam, sem falar. E eu que escuto, o que faço? Continuo instalada, nas minhas certezas e nas minhas comodidades, como se nada se tivesse passado. Mas, passou.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Os olhos da Sheila


- Sabes com quem sonhei, hoje? - pergunta-me a minha mãe - com aquela menina moçambicana que queria vir contigo para Lisboa. Não te lembras dela?
- Às vezes, lembro – respondi.
Fico a pensar: estranha a pergunta. Lembro sobretudo do olhar, falava pouco. Era uma jovem de dezasseis anos, encantadora, mas vivendo, como quase todas as adolescentes, um turbilhão de emoções.
Por que queria tanto vir para Portugal?  Por que queria deixar tudo, ou talvez não deixar nada? Que sei eu!

waris Dirie, mutilada


Conhecia a história, já tinha visto o filme, mas ontem voltei a vê-lo e o impacto foi o mesmo. Talvez tenha passado, por se discutirem por estes dias em Nova Iorque, na ONU, os direitos das mulheres.
Waris Dirie – modelo somali - falou abertamente na mutilação genital feminina de que tinha sido vítima aos 3 anos, primeiro numa entrevista a uma revista de moda, com divulgação mundial, depois nas Nações Unidas. Contou como era feita, por quê, como duas das suas irmãs não resistiram; contou o que significa, cultural, social, mas, sobretudo, pessoalmente. As imagens são de um grande realismo, a cena da mutilação é pungente (ainda oiço os gritos da menina), fechei os olhos, não aguentei. Fico sem palavras, sem saber o que pensar é que não há qualquer justificação, para tamanha humilhação, para tamanha desumanidade.
Agora, a ex-modelo, é embaixadora da ONU para os direitos das mulheres, tem uma fundação onde luta diariamente contra esta prática absolutamente inaceitável, que muitos países condenam mas que a cultura e o fechamento social destas comunidades continuam a permitir.