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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Identidade(s)

Numa reportagem da televisão de Castilla-Leon, por terras de fronteira, Bragança e Sanabria, questionava-se sobre se há ou não a identidade do “transfronteiriço”, algo que corresponderia a ser habitante da fronteira, a ser de cá e de lá; ou se, como acontece noutros casos, é uma palavra vazia, ou quase. Quando perguntam à jovem portuguesa que trabalha, há anos, numa cidade do lado de lá da fronteira, responde: “não, sentimo-nos portugueses, somos portugueses, mas se me perguntam se quero ir para Portugal, digo que não, aqui vive-se melhor, o ordenado mínimo é quase o dobro”.

Parece, então, não serem as condições materiais que criam sentimento de identidade. Ninguém se sente transfronteiriço, o máximo que o repórter consegue, nisto de “confundir identidades” é: “somos uma coisa e outra, somos espanhóis e somos portugueses, somos como irmãos”, diz uma senhora espanhola responsável por um organismo ligado ao turismo.
Enquanto, um jovem presidente duma associação, ligada ao parque de Montesinho, diz: “há projectos ibéricos, com financiamento europeu, como o Museu da Máscara, mas nós temos as nossas coisas, eles têm a deles, há uma identidade nossa e uma identidade deles”. Impossível explicar melhor, não se diluem identidades culturais profundas, mesmo com usos e costumes próximos.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O homem que plantava árvores

Era francês. Tinha chegado ali, àquele vale, no interior de Madagáscar, depois de muito ter andado pelo mundo. Chegou sem intenção de ficar, mas algo o prendeu à terra, às montanhas, às florestas, à natureza quase intacta que apenas a erosão destruía. Chegado aí, pousou a mochila, montou a tenda e misturou-se com o vale e os seus habitantes. É de lá.
Mas como é daí, se está a milhares e milhares de quilómetros de casa? Como é daí, se nada em redor é para si conhecido?
Talvez, não seja; ou talvez, sim.
Pois, como não é daí, se sente com o povo e a paisagem uma identificação profunda!

Há mistérios, nisto da vida, das pessoas e das relações, que ninguém explica. É daí, e chega. Não há mais necessidade de justificações. Aprendeu a língua, os costumes, a magia e o misticismo, a que não se pode fugir, construiu viveiros de várias espécies de árvores, fez educação ambiental nas escolas e com a ajuda de crianças e jovens reflorestou encostas e iniciou florestas. Criou vida sustentável, vida que se perpetuará enquanto houver quem recorde (e siga) o homem que plantava árvores.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Tiroteio em Homs, cidade Síria

“Espero que o meu Deus os assassine”, gritava um homem sírio, da cidade de Homs, depois de mais um tiroteio, num dos bairros, com dezenas de mortos.
“Que o meu Deus os assassine”, arrepia só de ouvir; arrepia só de pensar no turbilhão de emoções e de sentimentos que invadem este homem. É um paradoxo que o Deus misericordioso, manso e compassivo, que a todos acolhe, salva e dá abrigo, seja também o Deus vingativo, que retalia, assassina e massacra. Custa a crer nesta menoridade face à religião; uma religião que abrange, justifica e direcciona tudo. Sem outro espaço, não admira os resultados. Se ao menos fosse possível deixar de instrumentalizar Deus e a religião! Avança tudo, mas  a violência, a crueldade, é a mesma de sempre. Para que queremos séculos de civilização, se estamos sempre no ano zero!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Guantánamo, a prisão

Esta é uma prisão de alta segurança, por onde já passaram mais de 700 prisioneiros, vindos do Afeganistão e de outros pontos do globo. Obama prometeu, logo que chegou ao poder, fechá-la, pela falta de condições e pelos desvios e abusos aí cometidos. Mas continua aberta, tem cerca de 150 presos, a maioria sem acusação ou  julgamento. Os detidos de Guantánamo têm direito a conhecer de que são acusados e ter a um julgamento justo.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Regresso a casa

Já o tinha visto várias vezes, a entrar na igreja, aos domingos, a descer o adro, a caminhar pela rua. Hoje, viu-o de perto, de muito perto, estava atrás e mim na fila única da estação dos Ctt. Está irreconhecível, como a vida foi madrasta para este rapaz, ou melhor, para este senhor, não andará longe dos sessenta anos. A vida maltratou-o até ao limite do suportável, perdeu tudo, casa nova que não chegou a terminar, família (tenho esperança de que não tenha perdido os filhos), trabalho, saúde…
Dizem-me: “não foi a vida, foi ele que se maltratou, perdeu-se por causa do vício”. Acredito que sim, acredito que se tenha perdido de todos e até de si mesmo, mas não há dúvida de que parece estar a reencontrar-se, neste regresso a casa, literal e simbolicamente, depois de décadas nessa França longínqua, mas, por aqui, sempre presente.
Para mim é um homem bom, vejo-o assim. Não tive coragem de lhe dizer nada, mas conheço-o, ele conhece-me. Da próxima vez que o vir vou cumprimentá-lo e se calhar ganho coragem e digo-lhe: “Como está? Vejo que está bem, mas se fizesse a barba, ficava mais novo, não acha? Ficava mais parecido com o jovem que conheci há mais de quarenta anos e com quem julgo ter dançado mais de uma vez”!

sábado, 7 de janeiro de 2012

Chavez, comandante e presidente.

Hugo Chavez  é um autocrata, autoritário, quase ditador, obviamente que o que se vive na Venezuela não é uma ditadura simples, há eleições, partidos políticos, mas não há separação de poderes, nele está concentrado demasiado poder, politico, militar, económico..., mas  a almejado socialismo, a igualdade, estão longe, muito longe. A pobreza continua, a violencia não diminui, parece que Caracas é das cidades mais violentas do mundo, e a vida não  melhora para a maioria do povo.
Chavez está doente, mas continua firme,  a governar, a manobrar, a conspirar..., sabe que não chega querer, nem ter ideologias, nem proclamar boas intenções, é preciso mais. Até onde irá?

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Homs, cidade síria

Nesta cidade, há repressão, tiros, violência, mortes, desde há muito. As tropas governamentais atacam sem piedade, quem ousa gritar pelo direito às liberdades básicas. Junto a uma carrinha queimada, num dos bairros desfavorecidos, um homem grita para o repórter: "Queimaram a carrinha de um homem pobre, com dez filhos, agora, já,  não pode governar a sua vida. Destruiram, casas, lojas, não há, sequer, uma padaria, sem pão morremos à fome". O homem grita, o repórter regista, passará nas televisões, pode ser que assim o mundo se dê conta do que se está a passar verdadeiramente na Síria.