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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Regresso a casa

Já o tinha visto várias vezes, a entrar na igreja, aos domingos, a descer o adro, a caminhar pela rua. Hoje, viu-o de perto, de muito perto, estava atrás e mim na fila única da estação dos Ctt. Está irreconhecível, como a vida foi madrasta para este rapaz, ou melhor, para este senhor, não andará longe dos sessenta anos. A vida maltratou-o até ao limite do suportável, perdeu tudo, casa nova que não chegou a terminar, família (tenho esperança de que não tenha perdido os filhos), trabalho, saúde…
Dizem-me: “não foi a vida, foi ele que se maltratou, perdeu-se por causa do vício”. Acredito que sim, acredito que se tenha perdido de todos e até de si mesmo, mas não há dúvida de que parece estar a reencontrar-se, neste regresso a casa, literal e simbolicamente, depois de décadas nessa França longínqua, mas, por aqui, sempre presente.
Para mim é um homem bom, vejo-o assim. Não tive coragem de lhe dizer nada, mas conheço-o, ele conhece-me. Da próxima vez que o vir vou cumprimentá-lo e se calhar ganho coragem e digo-lhe: “Como está? Vejo que está bem, mas se fizesse a barba, ficava mais novo, não acha? Ficava mais parecido com o jovem que conheci há mais de quarenta anos e com quem julgo ter dançado mais de uma vez”!

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