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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Terror e morte em Bagdad, mais uma vez

Sessenta mortos, mais de cento e trinta feridos, sirenes, cheiro a pólvora…, um povo em contínuo sobressalto, um estado que não consegue garantir o mínimo de condições de segurança, uma política e uma intervenção americana contestáveis, e muito mais. Às vezes, pensamos que nada é normal naquela cidade, naquele país, que não há escolas, mercados, rotinas, que tudo é terror, medo, raiva, sobrevivência, escombros…
Morrem por nada, por violência gratuita, fanatismo exacerbado, desprezível. Deixaram família, mãe, pai, irmãos, filhos; mas que importa, nada importa ao homem bomba. Deixaram sonhos, projectos; mas que importa, nada importa ao homem bomba. Nada importa a estes fanáticos, ao serviço de um projecto de terror que não leva a nenhum lado, que não pode levar. Não se constroem futuros em lagos de sangue, em propostas políticas que deixam de lado o fundamental do humano: a capacidade de ser livre, criativo, transcendente, ele mesmo, sem a necessidade de um fanatismo religioso a marcar-lhe os dias e as horas, sem espaço para o essencial.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Cheias no Paquistão

Centenas de mortos, torrentes de água e lama que levam tudo à frente. Assistimos à impossibilidade de uma população, absolutamente desprotegida, de fazer frente a calamidades desta dimensão, mesmo que não sejam coisa rara por estes lados. Espera-se o auxílio do governo, mas como em muitos outros casos, chega tarde, insuficiente, incapaz de garantir condições de sobrevivência mínima. “O governo devia ser como um pai, acudir aos filhos, e não deixá-los morrer assim”- grita um homem em desespero. Devia ser, mas não é. Ficam sozinhos e, mais uma vez, é a comunicação e a imprensa internacional a fazerem o seu papel, a mostrar, com a crueza das imagens, o que se passa. Com atraso, reagem a ONU e outros organismos, depois s de sofrimento sem conta e de muitas vidas perdidas que poderiam ter sido evitadas.
Enquanto uns viajam, os do governo, e outros esperam condições para poder intervir, os pobres morrem. Morrem, levados pela água, desnutridos, doentes…
Assim vai o mundo. Que desequilíbrio este!

A propósito de uma escola sem “chumbos”

Haverá alguém que não queira uma escola sem “chumbos”? Julgo que não. Era bom que se estendesse até ao final da universidade, dirão muitos. Puro delírio, mas coisa óptima, se o sucesso por decreto resolvesse o problema. Não resolve, como sabemos, serve apenas fins políticos, ainda que os argumentos da ministra, como lhe compete, sejam sempre pedagógicos, insistindo que apenas pretende abrir um debate público sobre o assunto. Não vem mal ao mundo debater seja o que for. Mas, de algum modo, propor isto é já admitir a falência de uma escola equitativa, integradora, com base no princípio da igualdade de oportunidades. É admitir que não se tem capacidade de resolver as questões do insucesso e do abandono escolar actuando nas causas, como deve ser feito.
Um sistema sem retenções, uma vez legislado, é um sistema em que ninguém fica retido, saiba muito, pouco ou nada. Mas o engraçado é que nos querem fazer crer que, adoptada esta medida, todos vão saber muito, por passo de mágica, talvez. E, então, por que é que não sabem muito, agora, o que é que impede os alunos de saber mais, é o haver retenções?
É claro que a discussão não é esta, como a ministra muito bem sabe. As suas afirmações são interessantíssimas, para não dizer outra coisa: “No ministério, todas as medidas que tomamos é para melhorar a educação”? Então, pois, para que haveria de ser, não é com certeza para melhorar a meteorologia; “Nalguns casos, a retenção não serve para nada”, supõe-se, então, que noutros casos servirá, ou não? Para ser coerente, deveria dizer que a retenção não serve em nenhum caso; “O que queremos é que os alunos aprendam mais, não é o facilitismo, ao contrário, é a qualidade e a exigência”. Ora, aqui está um ponto de acordo.
Uma vez identificado o campo, por que não se questiona o essencial? Por não se questionam as medidas, as acções e os compromissos que têm de ser pensados e postos em prática, para acabar com o abandono e o insucesso escolares? Por que não se questionam os problemas e as dificuldades dos apoios educativos? Por que não se questionam os problemas e as dificuldades dos percursos alternativos, do ensino especial, etc.? Por que não se questiona o valor de tantos relatórios e tantas burocracias? Por que não se questiona a cooperação e a complementaridade das diferentes intervenções, tantas vezes, justapostas ou de costas voltadas? …
Estamos perante um sistema que apresenta fragilidades várias, a questão da qualidade é real, não se pode negar que, há muito, se ensina para a média e a média baixa – uma quase inevitabilidade, dado o número de alunos por turma e a sua heterogeneidade. Mesmo, compreendendo a justiça da diversificação de ofertas curriculares e de novas oportunidades de formação, não parece aceitável que haja jovens com o 9º ano incapazes de compreender o que lêem ou de escrever duas frases articuladas; ou jovens com o 12º ano do ensino profissional que, confrontados com a falta de saídas profissionais, concorram à universidade, entrem, mas levem anos a fio a marcar passo, porque as suas bases estão a anos luz do que deveriam ser, com o consequente insucesso e o quase certo abandono. Isto tem custos pessoais, familiares e sociais importantes.
Claro que se pode sempre argumentar que a ministra fala do ensino não superior, mas pode-se separar uma coisa da outra? Ou que a educação, mesmo nestes casos, é sempre um ganho, mas, então, não é a educação um meio para a realização pessoal e a integração social dos jovens? É com certeza, e defraudar estas expectativas não pode ser visto como uma coisa legítima ou de somenos importância, porque não o é.

sábado, 7 de agosto de 2010

Situações-limite


Tenho assistido a uns programas , da parte da tarde, na RTP 2, em que se coloca uma questão, a pessoas de diferentes países e continentes. Aparentemente, uma pergunta simples, mas que pode levar a respostas que tocam o fundo da alma dos inquiridos. Ontem, a pergunta era: Qual foi o momento mais difícil da sua vida?
E as respostas, ocupando o tempo que cada um entende, pausadas, sofridas, falam da morte (do filho, do pai, da mãe, do irmão...), da guerra (relatos de sofrimento, tortura, humilhação, morte...), da prisão (própria ou de um filho...), do desemprego (relatos de miséria, descrença, humilhação...).
Ficamos a pensar até onde resiste o humano, a que ponto as situações limite nos moldam os dias, a esperança, os sentimentos, as crenças e a confiança no outro. Ficamos a pensar no que nos molda a existência, no sofrimento que nos tolda até ao limite de nós mesmos, quantas vezes sem reacção, pensando que nada mais faz sentido, que tudo é impossibilidade, demasia, excesso, dias a mais.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Mandela

Mandela fez 92 anos rodeado da sua família. Parecia feliz, embora cansado e frágil. Apesar disso, Mandela é vigor, força, determinação, integridade. Um ser humano excepcional,um símbolo, um farol para toda a humanidade.
Por isso, as Nações Unidas declararam o dia 18 de Julho, um dia de celebração dos direitos humanos, um dia de celebração da justiça, da tolerância, da dignidade…
Que o arco-íris da diversidade humana, tal como o arco-íris da África do Sul que ele construiu, possa conviver em paz e em justiça, no respeito que é devido a todos os seres humanos. Há tanto por fazer!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Libertação de presos políticos em Cuba

Com mediação da igreja (o arcebispo de Havana, creio) e da diplomacia espanhola, o governo dos irmãos Castro vai libertar cerca de cinquenta presos políticos. É algo de novo, de muito novo mesmo, é algo para aplaudir e acompanhar. Não se trata de uma libertação sem condições, estes cidadãos cubanos não poderão permanecer em Cuba, serão recebidos em Espanha, mas é um começo. As mudanças fazem-se de começos, de abrir caminhos, de encontros ... Espero que todos os presos de consciência sejam libertados e que finalmente as liberdades individuais e políticas sejam uma realidade em Cuba. É tempo demais, sempre foi tempo demais, soubemos disso há muito. Aonde nos levaram as ideologias? Aonde nos conduziram os radicalismos?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Matilde Rosa Araújo

Para mim, embora nunca a tenha conhecido pessoalmente, era uma pessoa próxima. Talvez ninguém tenha escrito sobre sentimentos, em textos infanto-juvenis, como Matilde Rosa Araújo o fez. Escreveu como ninguém sobre o sentir, o pensar, o amar, o sonhar, o respeitar, o crescer, o ser digno… E isso é muito!
Li praticamente todos os seus livros, alguns dos textos trabalhei-os, uma e outra vez, quer com alunos quer na formação de professores, recordo, particularmente, “O gato dourado”, “A capa da Ana”, “O livro da Tila”, o “Poema sobre os direitos das crianças”…
O mais fabuloso é a simplicidade com que falava das coisas mais importantes e vitais. Quando a lemos invade-nos um silêncio que nos questiona. Precisamos pensar. A mim ajudou-me a pensar, a ver mais claro, a vislumbrar lucidez… Obrigada, Matilde Rosa Araújo.