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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A propósito de uma escola sem “chumbos”

Haverá alguém que não queira uma escola sem “chumbos”? Julgo que não. Era bom que se estendesse até ao final da universidade, dirão muitos. Puro delírio, mas coisa óptima, se o sucesso por decreto resolvesse o problema. Não resolve, como sabemos, serve apenas fins políticos, ainda que os argumentos da ministra, como lhe compete, sejam sempre pedagógicos, insistindo que apenas pretende abrir um debate público sobre o assunto. Não vem mal ao mundo debater seja o que for. Mas, de algum modo, propor isto é já admitir a falência de uma escola equitativa, integradora, com base no princípio da igualdade de oportunidades. É admitir que não se tem capacidade de resolver as questões do insucesso e do abandono escolar actuando nas causas, como deve ser feito.
Um sistema sem retenções, uma vez legislado, é um sistema em que ninguém fica retido, saiba muito, pouco ou nada. Mas o engraçado é que nos querem fazer crer que, adoptada esta medida, todos vão saber muito, por passo de mágica, talvez. E, então, por que é que não sabem muito, agora, o que é que impede os alunos de saber mais, é o haver retenções?
É claro que a discussão não é esta, como a ministra muito bem sabe. As suas afirmações são interessantíssimas, para não dizer outra coisa: “No ministério, todas as medidas que tomamos é para melhorar a educação”? Então, pois, para que haveria de ser, não é com certeza para melhorar a meteorologia; “Nalguns casos, a retenção não serve para nada”, supõe-se, então, que noutros casos servirá, ou não? Para ser coerente, deveria dizer que a retenção não serve em nenhum caso; “O que queremos é que os alunos aprendam mais, não é o facilitismo, ao contrário, é a qualidade e a exigência”. Ora, aqui está um ponto de acordo.
Uma vez identificado o campo, por que não se questiona o essencial? Por não se questionam as medidas, as acções e os compromissos que têm de ser pensados e postos em prática, para acabar com o abandono e o insucesso escolares? Por que não se questionam os problemas e as dificuldades dos apoios educativos? Por que não se questionam os problemas e as dificuldades dos percursos alternativos, do ensino especial, etc.? Por que não se questiona o valor de tantos relatórios e tantas burocracias? Por que não se questiona a cooperação e a complementaridade das diferentes intervenções, tantas vezes, justapostas ou de costas voltadas? …
Estamos perante um sistema que apresenta fragilidades várias, a questão da qualidade é real, não se pode negar que, há muito, se ensina para a média e a média baixa – uma quase inevitabilidade, dado o número de alunos por turma e a sua heterogeneidade. Mesmo, compreendendo a justiça da diversificação de ofertas curriculares e de novas oportunidades de formação, não parece aceitável que haja jovens com o 9º ano incapazes de compreender o que lêem ou de escrever duas frases articuladas; ou jovens com o 12º ano do ensino profissional que, confrontados com a falta de saídas profissionais, concorram à universidade, entrem, mas levem anos a fio a marcar passo, porque as suas bases estão a anos luz do que deveriam ser, com o consequente insucesso e o quase certo abandono. Isto tem custos pessoais, familiares e sociais importantes.
Claro que se pode sempre argumentar que a ministra fala do ensino não superior, mas pode-se separar uma coisa da outra? Ou que a educação, mesmo nestes casos, é sempre um ganho, mas, então, não é a educação um meio para a realização pessoal e a integração social dos jovens? É com certeza, e defraudar estas expectativas não pode ser visto como uma coisa legítima ou de somenos importância, porque não o é.

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