Divulgo um artigo meu sobre Lévinas, que saiu em agosto numa revista brasileira,
RESPONSABILIDADE, JUSTIÇA E DIREITOS DO OUTRO ...
Divulgo um artigo meu sobre Lévinas, que saiu em agosto numa revista brasileira,
RESPONSABILIDADE, JUSTIÇA E DIREITOS DO OUTRO ...
João Rendeiro, um antigo banqueiro que se revelou um burlão, falsificador…, fugiu para o Belize para não cumprir, em Portugal, uma das penas (tem três para cumprir) já transitada em julgado, depois de todos os recursos possíveis.
Fugir, é uma cobardia. Os cobardes concentram em si os
piores instintos – maldade, imoralidade, incapacidade de assumir erros…
Também os órgãos de justiça que não fizeram o suficiente para impedir a sua fuga, deviam explicar bem aos cidadãos o que é que se passou para isto acontecer?
Chegaram aos milhares, atravessando o rio Grande na fronteira do México com os Estados Unidos, junto da cidade Del Rio, no estado do Texas. Uma vaga de migrantes clandestinos, na maioria haitianos, na maior precariedade que possamos imaginar: não têm literalmente nada.
É-lhes atribuído um número e têm
de aguardar que as autoridades americanas os chamem para ser feito o registo e
o longo inquérito sobre a possibilidade de abrigo ou a deportação. Milhares já
regressaram ao Haiti, um país em ruínas.
Em nome dos interesses pessoais, muitos abdicam do pensamento crítico, engolem abusos e sorriem para quem desprezam. Abdicar de pensar também é crime. Hannah Arendt
Olho infinitamente os coqueiros, a praia e o mar do Tofo, Inhambane, Moçambique. Olho esse mar do Índico, vasto, enigmático e desconhecido, como todos os mares; a ondulação pouco forte a desfazer-se em espuma; a limpidez inigualável da água de um azul multicolor, ora carregado, ora mais claro, sempre dourada; e o sol intenso que torna tudo muito luminoso.
Extasiada com a paisagem,
ainda não tinha dado por gente, até ver uns miúdos a aproximarem-se. Vendem,
aos turistas, pulseiras e colares feitos de conchas e missangas. Um deles
mostra-me uma pulseira:
- Vinte meticais, senhora.
- Quinze, e compro duas,
uma a cada um.
Hesitam e dizem-me:
- Vamos voltar, cá.
Voltarão, estou certa. Mas,
enquanto se afastam, fico a pensar na minha atitude de regatear o preço, menos
de um euro! Passado pouco tempo, oiço-os:
- Senhora, aceitamos.
- Muito bem! Já agora, vou
comprar dois colares, um a cada um. Quanto custa um colar?
- Quarenta meticais. Duas
pulseiras e dois colares são 110 meticais.
- É isso, 55 a cada um. São
muito bonitos! Sabem quem são os artistas que os fazem?
Dizem não saber. Só sabem
que as mães os compram a um senhor para eles venderem na praia. Terminei a
manhã, a olhar infinitamente os olhos daqueles meninos, a ver sonhos, desejos e
vida por viver. Os coqueiros, a praia e o mar do Tofo ganharam outro sentido.
Um sentido que guardo para sempre.
O sujeito racional e livre não precisa do Estado, nem de nenhuma crença religiosa, ideológica ou outra, para saber o que é o bem e o mal. São noções inatas; estão connosco, desde sempre, mesmo antes da nossa capacidade do exercício do livre-arbítrio. Portanto, quando a razão e a liberdade são instrumentalizadas, é a humanidade em nós que fica em causa. São os direitos humanos que são negados.
Com pessoas, como Jorge Sampaio, aprendemos a exigência dos princípios, a integridade de caráter, o rigor e a humanidade em todos os gestos, em todos os cargos, em todas as situações.