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quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Os vendedores de missangas

 Olho infinitamente os coqueiros, a praia e o mar do Tofo, Inhambane, Moçambique. Olho esse mar do Índico, vasto, enigmático e desconhecido, como todos os mares; a ondulação pouco forte a desfazer-se em espuma; a limpidez inigualável da água de um azul multicolor, ora carregado, ora mais claro, sempre dourada; e o sol intenso que torna tudo muito luminoso.

Extasiada com a paisagem, ainda não tinha dado por gente, até ver uns miúdos a aproximarem-se. Vendem, aos turistas, pulseiras e colares feitos de conchas e missangas. Um deles mostra-me uma pulseira:

- Vinte meticais, senhora.

- Quinze, e compro duas, uma a cada um.

Hesitam e dizem-me:

- Vamos voltar, cá.

Voltarão, estou certa. Mas, enquanto se afastam, fico a pensar na minha atitude de regatear o preço, menos de um euro! Passado pouco tempo, oiço-os:

 - Senhora, aceitamos.

- Muito bem! Já agora, vou comprar dois colares, um a cada um. Quanto custa um colar?

- Quarenta meticais. Duas pulseiras e dois colares são 110 meticais.  

- É isso, 55 a cada um. São muito bonitos! Sabem quem são os artistas que os fazem?

Dizem não saber. Só sabem que as mães os compram a um senhor para eles venderem na praia. Terminei a manhã, a olhar infinitamente os olhos daqueles meninos, a ver sonhos, desejos e vida por viver. Os coqueiros, a praia e o mar do Tofo ganharam outro sentido. Um sentido que guardo para sempre.