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segunda-feira, 12 de abril de 2021

A corrupção: José Sócrates e os outros

 O pior de tudo, é acharem que somos tontos! Que o povo não percebe nada de nada Sabe-se ao pormenor os fluxos do dinheiro, dos que corromperam e dos que se deixaram corromper (são tantos os nomes) e não se sabe se houve corrupção!

Houve, com certeza. Bem pode, juridicamente, haver absolvições, por não existirem leis, por diferentes interpretações, por prescrições ou o que seja. Mas, dizer-se que o que está descrito, e aconteceu, não é censurável, não me parece possível. 

Ouvi, a um dos advogados, que o que ali se julga não é o que está «no catecismo do Procurador Teixeira». E isso é verdade. Não se trata aqui de julgar a partir de nenhuma moral religiosa; trata-se de ética (pensar sobre o bem e o mal), sem a qual nenhuma democracia, nenhum sistema de justiça, nenhuma sociedade sobrevive de forma decente.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Por que aderem os jovens ao islão radical?

 O ataque jihadista, à vila de Palma, Cabo Delgado, norte de Moçambique, foi levado a cabo por grupos radicais de lá.

São mais de 15 mil os grupos terroristas que destroem, queimam e matam, na sua própria comunidade – maioritariamente de religião islâmica.

Por que se radicalizam estes jovens, ao ponto de matarem vizinhos e familiares?

Pode lá haver coisa mais obscura que matar de em nome de uma religião, de um profeta!

Não há desculpas, sei bem. Mas se continuarem a pobreza, o desemprego generalizado, a total ausência de futuro, o apoio do governo…, é bem possível que os grupos armados ganhem terreno.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

A atitude de Ronaldo: o que fará a FIFA?

Não sei o que se vai passar com o Ronaldo que atirou ao chão a braçadeira de capitão da seleção portuguesa de futebol, num jogo com a Sérvia de classificação para o Mundial.

Muitos já o desculparam. Mas em meu entender é ele que tem de pedir desculpa. Não se faz o que ele fez. São a frustração, a fúria, os nervos, a injustiça… (não duvido, disso), mas o ponto não é esse. O ponto é a atitude dele (de mais ninguém) e que tem de assumir. Pensará ele que fez bem?

quarta-feira, 31 de março de 2021

Morreu na guerra o menino de sua mãe...

 

O menino de sua mãe

 

No plaino abandonado

Que a morna brisa aquece,

De balas trespassado

Duas, de lado a lado,

Jaz morto, e arrefece

 

Raia-lhe a farda o sangue

De braços estendidos,

Alvo, louro, exangue,

Fita com olhar langue

E cego os céus perdidos

 

Tão jovem! Que jovem era!

(agora que idade tem?)

Filho único, a mãe lhe dera

Um nome e o mantivera:

“O menino de sua mãe”.

 

Caiu-lhe da algibeira

A cigarreira breve

Dera-lha a mãe. Está inteira a cigarreira.

Ele é que já não serve.

 

De outra algibeira, alada

Ponta a roçar o solo,

A brancura embainhada

De um lenço … deu-lho a criada

Velha que o trouxe ao colo.

 

Lá longe, em casa, há a prece:

“Que volte cedo, e  bem!”

(Malhas que o Império tece”)

Jaz morto, e apodrece,

O menino de sua mãe

 

                                          Fernando Pessoas

 

segunda-feira, 29 de março de 2021

Continua o terror em Cabo Delgado, Moçambique

 Onde está hoje a banalidade do mal? 

Nos mesmos sítios, na crise de valores, no relativismo mais absoluto, no vazio em que vivemos - embora tudo parece em excesso. Na quase impossibilidade de nos colocarmos no lugar do outro, de estender verdadeiramente as mãos. 

Na dificuldade da politica se submeter à ética, aos princípios fundamentais da dignidade humana: liberdade e justiça.

domingo, 28 de março de 2021

Poema de Manuel Alegre sobre a guerra colonial

 As colunas partiam de madrugada

 As colunas partiam de madrugada

Para o norte partiam para a morte

Partiam de Luanda flor pisada

Levavam morte de Luanda para o norte.

 

De Luanda partiam flor pisada

Colunas que levavam.

Luanda para o norte para a morte

De Luanda partiam madrugada.

 

De Luanda madrugada para o norte

As colunas partiam

Levavam de Luanda a flor pisada

Para a morte do norte para a morte.

 

Partiam de Luanda madrugada

Colunas para o norte

Levavam morte de Luanda

Para o norte da morte flor pisada.

 

De Luanda partiam as colunas

Para o norte partiam flor pisada

De Luanda levavam para o norte

A morte de madrugada.

 

Partiam as colunas de Luanda

Levavam para a morte

A madrugada: flor pisada

Ao norte.

 

                                                                             Manuel Alegre

sexta-feira, 26 de março de 2021

O menino negro não entrou na roda - poema de Geraldo Bessa

 O menino negro não entrou na roda

 O menino negro não entrou na roda

Das crianças brancas – as crianças brancas

Que brincavam todas numa roda viva

De canções festivas, gargalhadas francas...

 

O menino negro não entrou na roda.

 E chegou o vento junto das crianças –

E bailou com elas e cantou com elas

As canções e as danças das suaves brisas,

As canções e danças das brutais procelas

 

O menino negro não entrou na roda.

 Pássaros, em bando, voaram chilreando

Sobre as cabecinhas lindas dos meninos

E pousaram todos em redor. Por fim,

Bailaram seus voos, cantando seus hinos...

 

O menino negro não entrou na roda.

 “venha cá, pretinho, venha cá brincar”

- disse um dos meninos com seu ar feliz.

A mamã, zelosa, logo fez reparo;

O menino branco já não quis, não quis...

 

O menino negro não entrou na roda

Das crianças brancas. Desolado, absorto,

Ficou só, parado com olhar cego,

Ficou só, calado com a voz de morto

 

(Geraldo Bessa Victor, Obra poética)