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quarta-feira, 31 de março de 2021

Morreu na guerra o menino de sua mãe...

 

O menino de sua mãe

 

No plaino abandonado

Que a morna brisa aquece,

De balas trespassado

Duas, de lado a lado,

Jaz morto, e arrefece

 

Raia-lhe a farda o sangue

De braços estendidos,

Alvo, louro, exangue,

Fita com olhar langue

E cego os céus perdidos

 

Tão jovem! Que jovem era!

(agora que idade tem?)

Filho único, a mãe lhe dera

Um nome e o mantivera:

“O menino de sua mãe”.

 

Caiu-lhe da algibeira

A cigarreira breve

Dera-lha a mãe. Está inteira a cigarreira.

Ele é que já não serve.

 

De outra algibeira, alada

Ponta a roçar o solo,

A brancura embainhada

De um lenço … deu-lho a criada

Velha que o trouxe ao colo.

 

Lá longe, em casa, há a prece:

“Que volte cedo, e  bem!”

(Malhas que o Império tece”)

Jaz morto, e apodrece,

O menino de sua mãe

 

                                          Fernando Pessoas

 

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