Em viagens turísticas, como a que
fiz, só vemos uma parte (pequena) da realidade. Temos a sensação de viajar dentro de uma bolha. Preservados de tudo, em hotéis bons,
autocarros novos, com ar condicionado, motorista, guia e ajudante, cumprindo um
roteiro que não deixa muita margem a iniciativas individuais.
Devem
existir ruas, mercados, praças..., onde a multidão seja visível, mas, nesta viagem,
nunca pude observá-la. Onde estão os milhões de indianos? Onde estão “presos”?
Quem os "prende"?
Há
coisas que impressionam pela grandiosidade: as fortificações mongóis, com
vários palácios dentro, as cidades abandonadas, os monumentos como o Taj Mahal, marcas de uma Índia estratificada de há duzentos ou trezentos anos: os reis e a plebe, os marajás e o povo.
Mas,
para mim, foi particularmente intrigante a visita panorâmica a Nova Deli, depois
de uma manhã a visitar os monumentos da antiga cidade. Quase tudo é herança
britânica, uma cidade administrativa, monumental, com grandes avenidas, um arco
de triunfo, praças..., muitos parques verdes, zonas residenciais, palacetes
individuais, em zonas fechadas, onde, antes, viviam os funcionários da coroa, hoje, destinados a serviços do Estado.
Quando passamos
junto aos edifícios do Estado, palácios do presidente e do 1º ministro,
ministérios, parlamento..., o guia avisa: “aqui não se pode parar, nem descer, aqui,
nenhum carro particular pode circular, nós passamos, porque é turismo. Só duas
vezes por ano (em dias nacionais) as pessoas comuns podem visitar esta parte da
cidade".
Afinal,
Nova Deli (ou parte) é uma cidade proibida, para o comum dos indianos; aberta,
sem muralhas, mas vigiada, destinada a governantes, políticos, funcionários e afins... Não se compreende.