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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Os migrantes de Calais

Se alguma coisa mostra o que se está a passar, por estes dias, em Calais, mas em boa verdade, o que se passa, desde há muitos meses e até anos, é a necessidade de repensar e de redefinir o conceito de cidadania. É preciso pensar noutros termos as questões da globalização, da imigração, da diversidade cultural, da segurança mundial, do terrorismo, do ambiente, das relações transnacionais...
A tarefa é árdua, e mais ainda, quando vêm ao de cima todos os egoísmos nacionais (tão claro nas reuniões de Bruxelas). Saber como é que definimos, organizamos e criamos estruturas sociais que assegurem a todos os mesmos direitos, é desde há muito uma urgência  das instituições supra-nacionais.

sábado, 1 de agosto de 2015

As senhoras que vendiam molhinhos de hortaliça (2)

 - Não preciso, quero só uma molhada de couves e outra de repolhos.
- E cebolo, e pimentos, e alho francês e beterraba vermelha... não quer – pergunta-me a outra senhora.
- Não preciso – digo-lhe – já comprei.
Mas foi tal a insistência que acabei por lhe comprar uma molhada de alhos franceses
- Um e dois, três euros, dois para mim e um para ela – diz-me a primeira senhora.
Mas, o que me impressionou mais, foi o que se passou a seguir. Enquanto uma queria deitar no lixo tudo o que tinha, e ainda era bastante, a outra insistia:
- Deixamos os sacos à beira do passeio, pode ser que passe alguém com precisão de hortaliça para plantar.
- Não, deitamos fora, é melhor, não fica nada a atravancar.
E assim fez, deitou no contentor os dois sacos que tinha na mão com os molhos de hortaliça que não conseguira vender; enquanto a outra senhora, a quem eu tinha comprado o alho francês, deixou à beira do contentor, encostado ao passeio um saco quase cheio de tudo o que não conseguira vender, ajeitando a abertura de modo a ficarem à mostra os molhinhos de legumes. Não sei porquê,  penso que um destino bom aguardava os legumes que a senhora deixou. Não morreram naquele dia. 


sexta-feira, 31 de julho de 2015

As senhoras que vendiam molhinhos de hortaliça (1)

Ambas pareciam frágeis, pela idade, seguramente, mais de oitenta anos, mas também pelas mazelas bem visíveis, uma delas caminhava já muito curvada.
Aparentemente, não têm idade para vender hortaliças; têm idade para estar em casa e já com algum apoio. Mas não, continuam a semear, a mondar, a regar, a arrancar e a fazer molhinhos de diferentes legumes para vender no mercado. Continuam a fazer (até ao limite das forças) o que sempre fizeram. A fazer o que viram as mães fazer, as vizinhas e todas as mulheres da sua terra fazer, desde crianças, há sessenta ou setenta anos, mesmo que depois de tanto trabalho o lucro seja mínimo ou nem sequer seja nenhum.
Encontrei-as já bem ao final da manhã, quando saia da praça e elas se dirigiam carregadas, cada uma com mais de dois sacos para junto do contentor de resíduos.
- Têm couves para plantar – pergunto-lhes?
Começam a tirar do saco molhadas e molhadas de legumes.
- Uma, duas, três, quatro, cinco, seis..., de couves, repolhos, cebolo..., leve tudo que lhe damos cada molhada a um euro, nem chega a metade do preço.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Conversa com uma jovem muçulmana (2)

- Não é justo dizer que são os muçulmanos a origem de toda a violência.
- Claro, não são todos os muçulmanos, sabe-se bem. Aqui, em Portugal, alguma vez foste discriminada, olhada de lado, por seres muçulmana?
- Acho que não. Pelo menos, não dei conta. 
- O que gostarias que os outros soubessem dos muçulmanos?
- Que têm uma religião diferente, uma maneira de viver com costumes e tradições diferentes, mas que a maioria luta todos os dias para viver em paz, tanto com o vizinho da porta ao lado como com os desconhecidos.
- É o que eu penso, também.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Conversa com uma jovem muçulmana (1)

- Olá, falei com a tua professora, sei que és muito boa aluna.
- É verdade, gosto muito de aprender e de estudar. Gosto desta escola, dos meus colegas, de tudo.
- Sei que também sabes ler e escrever em árabe.
-  Sim, já sei há muito tempo. Aprendi, quando era criança, para ler o Corão.
- Lês, só quando vais à mesquita ou também em casa?
- Leio em casa, também.
- Tu rezas sempre em árabe? Deve ser muito difícil, calculo. Rezas de memória? 
- Não, é fácil.Toda a minha família reza assim.
- Sabes, vi na entrada da mesquita desenhos dos meninos que andam na escola corânica e gostei muito, achei que pensam em coisas bonitas…
- Eu não desenho bem, tenho pouco jeito
- Não acredito. E cantar, também sabes cantar em árabe?
- Sei cantar, canto em casa e também canto na escola da mesquita.
- Fala-me da mesquita aonde vais.
- A mesquita é um lugar sagrado, um lugar puro, por isso  é preciso lavar os pés, as mãos, para irmos limpos lá para dentro.
- Vou para a parte de cima da mesquita com a minha mãe, onde estão as senhoras. Os homens ficam  em baixo.
- Sim, sei que há divisões. Pensas que muitas pessoas de outras religiões conhecem a tua religião ou que poucas a conhecem?
- Penso que são poucas e algumas pensam mal de nós; pensam coisas que não são boas.
- É verdade, ficas triste quando ouves na televisão falar dos terroristas islâmicos?
- Fico triste, mas não compreendo bem.
- Quase ninguém compreende, eu também não.


quinta-feira, 23 de julho de 2015

Campo desminado

Arame farpado, 
Perigo de minas, destruição e morte.
 É a guerra menino. É a guerra!
                                         (não entende, não pode entender)
Desapareceu o arame, 
Desminaram o campo. 
Cresceram as flores,
Podaram as árvores,
Semearam a terra,
Colheram os frutos.
É a paz menino! É a paz! 

                                      (agora entende, agora pode entender)

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Discriminações

Sejam de que natureza for: raça, etnia, género, orientação sexual, deficiência, idade..., qualquer discriminação é inaceitável. Ninguém pode ser discriminado, por não ser igual à maioria.
Entre nós, e em todos as sociedades civilizadas, democráticas, abertas e plurais, a lei condena todas as formas de discriminação. "Somos todos iguais", declara-se no 1º artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Mas não chega a existência de leis é preciso sensibilidade, consciência; dar o devido valor a cada ser humano. A questão é, portanto, de valores, de atitudes,  de formação cívica.  É uma questão de dignidade humana: cada um ser reconhecido e respeitado na sua individualidade.