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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O público e o privado, a propósito de Judite Sousa


Talvez, não tenha razão e a jornalista nada tenha feito para este alarido. Mas, parece-me despropositado o modo como voltou, tanta publicidade, tanto anúncio, tantas chamadas de atenção do canal de televisão onde trabalha, tanto ganho de audiências, tanto comentário…; mas, também, tanta capa de revista…
Este aparente marcar pontos é o quê? Foi ela que instrumentalizou a estação ou foi a estação que a instrumentalizou a ela? Foi ela que usou as revistas ou foram as revistas que a usaram a ela? Ou a palavra instrumentalizar é verdadeiramente despropositada?
Haverá respostas em diferentes sentidos, e muitas formas de ver a questão, mas ao que não podemos fugir é à referência de que há sempre um confronto de princípios e de interesses, entre um dever ser e algo que interessa que seja. Foi assim, é assim, e quase nunca ganham os princípios.
O espaço público é onde a autonomia é condicionada por regras, instituições, relações sociais normalizadas; enquanto, o espaço privado é onde somos verdadeiramente livres de escolher agir conforme o nosso sentido de bem e de felicidade, onde cada um decide como quer viver.
Portanto, se é muito ténue a linha entre público e privado, no caso de figuras mediáticas e socialmente relevantes, neste caso, a linha é clara: o modo como vive o luto pela morte do filho é algo absolutamente privado, a não ser que a própria decida que assim não é.



sábado, 30 de agosto de 2014

A morte chegou

Já aqui escrevi sobre ele. Sobre a sua degradação física, o seu olhar perdido e doente.
Acabaram de o encontrar morto em casa, sozinho, sem ninguém.
Mas, afinal, a sua solidão era igual à de muitos outros que morrem sós, nos lares, nos hospitais ou em suas casas. Tinha filhos, dizem-me que um deles tinha estado cá há pouco tempo.
Mas, a sua tormenta não acaba hoje, mesmo parecendo que acabou. Dadas as circunstâncias, vieram as autoridades e foi levado  para a medicina legal, na Covilhã, para ser autopsiado.
É assim. Quem tomará conta dele, do enterro?.
Certamente, virão os filhos, se não a misericórdia ou outra instituição fará o seu melhor.
Sinto a sua morte e recordo a sua vida de jovem adolescente que foi para França, ainda, muito  novo, para fugir à guerra de África e à miséria em que aqui se vivia. Por lá, viveu dias felizes e maus, é certo que não se pode dizer as pedras no seu caminho tenham sido poucas. 


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A decapitação do jornalista americano

Pensávamos que já tínhamos visto tudo, a maior barbárie, a maior brutalidade, a maior instrumentalização do humano..., mas a violência  humana "apura" os seus instintos de malvadez e de humilhação. O vídeo difundido pelos jihadistas mostra tudo isto e o choque que provocou é bem compreensível. Como se poderá actuar com estes fanáticos?  

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Incompreensão do mundo

Agosto avança. Muitos estão de férias, enquanto outros, em vários lugares do mundo, fogem das balas, dos bombardeamentos, das perseguições politicas, religiosas… A incompreensão pelo que se passa é cada vez maior. Parece que uma qualquer catástrofe humana se abateu sobre nós e apagou todas as referências, já não temos quadros, grelhas, categorias de análise e de resolução fundamentadas; o direito internacional é letra morta e os direitos humanos uma coisa a mais que não é necessário respeitar. Que eu sinta isso, não faz qualquer diferença, mas que políticos, analistas influentes, os grandes do mundo, se reúnam em Berlim, para discutir a crise na Ucrânia, se reúnam no Cairo, para resolver o problema israelo-palestiniano, se reúnam no conselho permanente da ONU e nada pareça verdadeiramente resultar, não é normal.
As Nações Unidas são ultrapassadas e desrespeitadas nas suas resoluções, a União Europeia, a mesma coisa, quase não nos damos conta das declarações que faz.
O que fica? Noticiários cheios de guerra, populações em fuga, campos de refugiados, campos de treino com jovens alucinados mais ou menos perdidos, movimentações políticas irrelevantes que não saem do impasse… Isto não deveria ser possível, depois de tantas declarações, tratados, convenções… Retrocedemos séculos ou talvez estejamos, como sempre, no mesmo sítio: o da miserável violência humana, só muda o machado.


sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Milton Nascimento, o meu preferido

Ninguém canta como Milton Nascimento. Elis Regina terá dito: “Se Deus quisesse cantar escolhia a voz do Milton”. É verdade. Há nela algo de sublime, de estranho, de transformador…, se calhar, até de redentor.
Ouvir Milton Nascimento é um compromisso com a dignidade humana, a vida, a igualdade, a justiça, a amizade, o amor…; um compromisso contra a indiferença. Por isso, não se pode ouvir sem escutá-lo, atentamente, mesmo que, às vezes, nos desinquiete por dentro. 
Posso estar muito tempo sem regressar às suas músicas, mas, quando volto, é certo que oiço os vários CD’s que tenho por dias e semanas seguidas. 

quarta-feira, 30 de julho de 2014

A guerra, a barbárie

28 de julho de 2014, há cem anos começava a I Guerra Mundial. Haverá com toda a certeza documentários, perspectivas, análises…
Mas haverá também, no noticiário de hoje, a destruição de Gaza, mais de um milhar de mortos, a desintegração da Líbia, o separatismo na Ucrânia, novo ataque do grupo Boko Haram, agora, nos Camarões e tudo o resto..
O que falhou? Falhou quase tudo. Falhou a intervenção Papal, recorde-se que em junho se reuniram, nos jardins do Vaticano, os lideres israelita, do Hamas e o próprio Papa para, nas diferentes religiões, rezarem pela paz. Falharam as primaveras árabes, as revoluções de jasmim, a crença na decência dos senhores de Moscovo, etc., etc., etc.
É certo que o problema reside na natureza humana. Somos maus, violentos, vingativos, fantoches, ambiciosos, faccionários …; mas isso não nos desculpa, temos a capacidade de uma comunicação racional, temos a capacidade de encontrar consensos, se formos capaz de deixar cair o que nos distingue, não porque não valha, mas porque não é o essencial. Centremo-nos no que interessa verdadeiramente; centremo-nos no valor inquestionável da vida humana, seja quem for e onde for.
 Estou tão cansada da impossibilidade de compreender as coisas, de perceber de como é ténue a linha entre a decência e a desumanidade, entre a liberdade a violência. a humanidade está em ser capaz de não ultrapassar essa linha (como referia Lévinas).



quinta-feira, 24 de julho de 2014

O avião da Malásia abatido

O que dizer? Nos últimos tempos já escrevi tanto sobre isto: o terrorismo é um dos piores males da humanidade, pela violência, pela cobardia, pela desproporção, pela perversidade… Matam-se assim inocentes, como se nada fosse. Vamos ver o que faz a comunidade internacional, espero que se esclareça, até ao limite de todas as possibilidades, o que aconteceu e sejam tiradas todas as consequências.