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domingo, 14 de agosto de 2016

Tagore: aforismos (1)

                                               
                                               Se de noite chorares pelo sol, 
                                                não verá as estrelas.


Chorar pelo que não podemos ter, só nos impede de desfrutar do que temos.

(Coração da Primavera, p. 103)

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Tagore, poeta indiano

Estou a reler uns textos de Tagore: ás vezes entendo tudo, ás vezes não entendo nada, ás vezes fico  a pensar, a questionar-me, porque me atrapalha esta racionalidade? Porque não me deixo levar por um misticismo que tudo toca?
Não sei, quero sempre razões, explicações, causas e efeitos, quero sempre compreender, mas sinto que alguma coisa se afasta de mim.

sábado, 25 de junho de 2016

Pessoas e sentimentos

Queria tanto escrever de forma simples, sobre  coisas importantes, mas não sou capaz. Vivo enredada  em conceitos, teorias..., que servem para muito pouco, porque nada é mais importante que a vida concreta de pessoas concretas, que riem, choram, amam, desprezam, sentem raiva, compaixão...; pessoas reais, afinal de contas.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Refugiados/deslocados: uma história (2)

- Não preciso de água, o sol magoa-me, preciso de chão, de terra, que a minha raiz seja colocada a uma profundidade boa, para poder crescer direitinha e forte. Sem chão não vou poder resistir ao burburinho do vento, mesmo que seja fraco, não resistirei à chuva, mesmo que seja pouco forte - queixava-se a flor. 
Há tantos perigos que espreitam quando as raízes são fracas e não temos os apoios que precisamos para nos sentirmos confortáveis na terra. Preciso de uma raiz presa à terra e de uma estaca que me ajude a segurar em pé.
 A menina replantou a planta, fez um buraco mais fundo, colocou a raiz completamente dentro da terra, alisou-a, fez uma pequena poça que encheu de água e colocou-lhe, junto ao caule, uma estaca, como uma muleta, para que a flor não caísse e se partisse, com o vento ou algum encontrão.
Ficou à espera que ela reagisse àquela operação, sim, que replantar uma planta é uma coisa difícil e que precisa de cuidados para ser bem sucedida. A flor precisava de força para se agarrar com sucesso à vida e à terra do canteiro. 
Passou tempo. A flor sobreviveu. Caíram-lhe as folhas, o fruto nesse ano não amadureceu, mas ela agarrou-se à terra do canteiro, do seu canteiro, agora sentia que aquela terra também era sua. As raízes estão fortes, sente-se bem, está como se aí tivesse nascido.

Na próxima Primavera, renascerá, terá folhas, flores e frutos. Presa à terra, está presa à vida; ter um chão é sentir que nada de mal lhe pode acontecer e se acontecer terá raízes para se defender. Já não acorda com dores de coluna, de cabeça e de abraços, já não precisa de muletas nem de cuidados especiais, é igual às outras flores, precisa dos mesmos cuidados. 

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Refugiados/deslocados: uma história

 

 T      A flor murchava cada vez mais. Estava doente, há muito tempo, mas a doença tinha-se agravado, nas últimas semanas. O que se passaria com a flor? Fora plantada e regada, tinha sol, cuidados, mas não crescia como as outras flores suas vizinhas que tinham sido semeadas naquele canteiro. Talvez seja por ter sido trazida de outra terra e plantada, nasceu noutro lugar, num bonito vaso e aí era feliz, até ser arrancada com força e trazida para aqui. Ainda não se adaptou ao lugar e sofre de fraqueza até se habituar à terra. Precisa de mais atenção, de mais apoio, de mais água…,para que a sua raiz se agarre à terra, como se fosse sua, como se aí estivesse desde sempre, ai tivesse nascido, e sentisse que aquela terra lhe pertencia, também. 

     Talvez a plantação não tivesse sido feita com o cuidado necessário, talvez a raiz tivesse ficado muito à superfície e não pudesse alimentar-se como deve ser, talvez não seja nada disto e nem ela saiba bem porque se sente assim. Estava doente, sabia-se, porque não crescia como as outras e murchava, até que um dia começou a inclinar-se e a queixar-se de dores no corpo, queixava-se da coluna, dos braços e dos pés,  inclinando-se cada dia mais um pouco até que parte da raiz ficou ao ar e começou a secar. Era o fim, se não a ajudassem a sobreviver.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Palmas para a deputada britânica morta há dois dias

Mataram uma deputada trabalhista, por ódio, simplesmente. Mataram-na  a frio e com a crueldade de que são capazes todos os radicalismos, sejam religiosos, ideológicos, políticos... Matam, porque não aguentam  quem os olha nos olhos e tem a coragem de agir. Ela agia, denunciava, propunha...

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Fundamentalismo islâmico: o inferno era ali (3)

Queria eu ter um ponto mínimo que me permitisse compreender. Não encontrava, e isso era o mais terrível, o mais doloroso. Tudo ruía dentro de mim. Tudo. A minha vida, as minhas crenças, o meu passado, o meu presente e, pior, ainda, o meu futuro. Sairia alguma vez dali? Não sabia. Mas, tal como todos os outros, imaginava essa possibilidade. Precisava, para sobreviver, de acreditar que o pesadelo teria um fim.

- O povo, todo o povo, estará com os Taliban? – interrogava-me, milhares e milhares de vezes. Não estava, mas não havia possibilidades de rebelião, a opressão era tal e assumia tais formas que era impossível, bastava uma fatha e tudo se desmoronava, aumentava a violência, o medo, a desconfiança. Seria possível mudar? Seria possível uma coisa diferente? Voltariam as mulheres a fazer parte da sociedade, a ter direitos, a passear com os filhos? Voltariam a existir jardins, espaços de convívio e de educação públicos, bibliotecas, escolas, torneios de futebol, voltaríamos a ouvir música a sentir a emoção de assistir a um filme?
E os homens? Os homens, muitos deles, são igualmente vítimas.

O uso da Burka é, em primeiro lugar, uma questão religiosa, um preceito religioso, mas é igualmente uma questão social. Mas apesar de tudo o mais violento e inaceitável era a obrigação de usá-la,