Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Difícil despedida

Dois sujeitos, encostados a um muro alto, abraçados, choram, comovidamente. É noite. Parece que tinha acontecido uma despedida pouco tempo antes. Por que choram? Que sentimentos ou ilusões cairam por terra? Que expectativas e promessas ficarão por cumprir? Talvez esteja tudo cumprido, e se trate apenas de dois seres humanos unidos por um fortíssimo laço de amizade ou seja que sentimento for. Não sei, mas o momento a que assistimos é verdadeiro, não há máscaras, não há teatro. Ainda que a cena que corre mundo seja teatral e intensa.
Quando se separam, um continua imóvel e o outro, com aspecto transtornado, desce a rua e entra num carro. Dizem que se chama Mourinho, treinador de futebol, implacável, frio, calculista, racional ..... Mas, então, não é ele, ou será? Somos tanta coisa ao mesmo tempo, por que não pode Mourinho desmoronar, chorar, ser sensível, imprevisível ... Pode, claro.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Os olhos das mães...

Toda a tristeza do mundo está nos olhos da mãe de Leandro (o menino que se atirou ao rio Tua e morreu). Fixos, perdidos, ausentes, estão sem poder reagir. Em choque, que é duro perder um filho. Demasiado duro.
Nunca mais se ouviu falar do caso, ainda decorrerão inquéritos, talvez um processo em tribunal, que sei eu! O que pode ela contra inquéritos e mais inquéritos, corporativismos, omissões e silêncios. O seu filho morreu, desnecessariamente (nenhuma morte é necessária, obviamente, mas muitas são inevitáveis). Esta não era. Está triste, dorida, cansada, ninguém sabe quanto. Ninguém nunca saberá quanto, a não ser que tenha vivido tamanho drama.

terça-feira, 11 de maio de 2010

A fé, acreditar

Ouvi um padre falar das dúvidas que tem, do questionamento diário sobre o ser crente, católico, religioso… “Hoje sou padre amanhã não sei”- disse. Penso: afinal, onde está a profundidade, a clareza, a certeza, o ponto de abrigo, a pedra angular, o mar de águas mansas …, que as religiões devem ser?
O precário, o imprevisível, a dúvida, não deviam atormentar quem estudou anos a fio teologia, alguém que sabe, até ao limite do compreensível, falar de Deus e da igreja a que pertence. (Ou não sabe?)
A igreja profética que anuncia, sustenta, acolhe, protege, tem de ter alguma radicalidade, alguns fundamentos, que a história não distorça ao sabor das marés. Nunca deveria ser uma decepção, um corte, pelo menos para quem acerca dela percebeu o essencial.
Eu percebo melhor a radicalidade e a exigência da igreja do que o “folclore” de muitas manifestações religiosas, por mais importância pessoal e cultural que tenham, talvez por isso este Papa me desperte interesse. Dizem que é um grande teólogo, um sábio…, como não vou sentir curiosidade por um sábio? Hoje, irei ao Terreiro do Paço, assistirei à missa, ouvirei o Papa, e quem sabe o resto, “não se chega a Deus por uma ideia, mas por um acontecimento”- acho que foi este Papa que disse.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

E se um dia o mal se extinguisse...

Há 65 anos, a Alemanha nazi rendia-se. Atrás, ficavam milhões e milhões de mortos, uma Europa em ruínas e uma população marcada para sempre. Quando se chega àquele ponto, àquele grau de destruição, nada mais há a fazer: ou o fim total ou o recomeço, apesar dos destroços, das sombras, das incertezas e de tudo o mais.
A Europa reergueu-se, porventura, as cidades e os países mais depressa do que os corações e as mentes das pessoas que sobreviveram a massacres, a guerras, a racionamento alimentar, a mortes, a descrenças várias (até no ser humano!)
Passado todo este tempo, para muitos, cada vez mais, a II Guerra Mundial é um acontecimento longínquo, definitivamente arrumado numa prateleira da história. Mas não é , disso podemos ter a certeza. A maldade que levou ao nazismo não se extinguiu, não se extingue, por avanços tecnológicos e civilizacionais, apenas se controla pela educação, pela formação, pela sensibilidade e pelo respeito incondicional pelo outro, seja ele quem for. Estamos tão longe disso!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O direito ao trabalho, uma miragem

Passaram os séculos, as revoluções, fizeram-se e desfizeram-se impérios e tudo o mais, e quando se julgava que os direitos estavam definitivamente assegurados, eis que sobe o desemprego, a instabilidade, a descrença em melhores dias. Damos por nós à beira do precipício, onde a Grécia já caiu (ou quase) e nós estamos a um passo, dizem muitos dos que entendem.
Malditos mercados, finanças, bolsas, etc. etc., estamos presos numa teia de onde nem os gurus da economia sabem como sair. Onde foi parar o dinheiro? Quem são os especuladores? O que nos levou a este ponto? Pela primeira vez, parece mesmo não existir saída e, de crise em crise, até à derrocada final, em que teimamos não acreditar.
É preciso inventar saídas, não há respostas conhecidas ou se há não funcionam.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

É tal o desvario...

O face a face com o outro já não é momento de revelação, de verdade. Não pode ser, se o outro em vez de se desnudar, prepara e exibe múltiplas máscaras - declarações preparadas, ódios de estimação, interesses, vaidades várias... - Vivemos numa mentira, e é por isso que desconfiamos de tudo e de todos, não nos deixam opção, basta ver as multiplas comissões de inquérito, os discursos de alguns políticos, falam de uma realidade virtual, dizem, desdizem, acusam-se, jogam... como se nada se passasse como se nada fosse (mas passou-se e foi). A política é honradez, honestidade, compromisso com a verdade..., ou já não é?

sábado, 17 de abril de 2010

Sofrimento, serve para alguma coisa?

Acabo de falar, menos de dez minutos, com uma pessoa e foram incontáveis as vezes que lhe ouvi a palavra sofrimento e a palavra medo. Não está doente, ou estará, já não sei. O que sei é que todo o sofrimento é inútil, e, no entanto, é algo omnipresente nas nossas vidas, seja físico, psicológico ou ambas as coisas. O sofrimento fragiliza, atormenta, amedronta, paralisa..., deixa-nos por isso mais atreitos a novos reveses, a novos medos e a novos sofrimentos, numa escalada que às vezes parece sem retorno. Ronda a depressão e tudo o mais.
Digo isto, mas sei bem da carga religiosa e cultural que tem o sofrimento, parece que nos querem fazer crer que é algo que enobrece, nos torna mais fortes, mais dignos de nós. Enaltece-se o sofrimento, o martírio, o calvário… Falam de quê ou de quem?