Indochina, anos 30, quando era uma colónia francesa |
Vem-me à memória um jovem que viveu até á idade adulta com a avó, construindo uma imagem poderosa e, ao mesmo tempo, romântica e feliz de uma mãe guerreira, ativista política, na luta pela independência do Vietname.
Um dia, sabendo que estaria em França, numa receção, decide ir
ao seu encontro, com o propósito de lhe falar. Cruzam-se, sabe quem é ela, mas
não lhe fala. Ao contrário, ela não sabe quem é ele. Não o pode reconhecer, mesmo
que todos os dias, naquele dia mesmo, ao levantar-se, ao sair de casa, tenha
pensado no filho, porventura, a pessoa mais presente na sua vida.
Um filho que não viu crescer, ir à escola, jogar, ter sonhos ….
Um filho que não reconhece, apesar de existirem laços familiares tão próximos e
sentimentos tão profundos. Talvez ele tivesse ido aquela receção na esperança
de que um clique os lançasse nos braços um do outro, como se os anos não
tivessem passado e a vida separada não tivesse acontecido.
Mas, nem o tempo se suspendeu, nem os olhares se cruzaram, ao
ponto de se fundirem. Dois estranhos, passando lado a lado, incapazes de se
abraçarem, de se comunicarem. Ele podia tê-lo feito. Por que razão, quando passou
junto dele, permaneceu mudo e imobilizado, no cimo daquela escada? Por que não
foi capaz?
Talvez se encontrem de novo, noutras circunstâncias. Talvez,
volte a andar quilómetros e quilómetros para a ver de perto, aplaudir o
discurso, chorar uma lágrima e, quem sabe, ganhar coragem para dizer:
- Mãe!
E ela se virar para trás, parar o discurso e indiferente a
tudo, correr para ele e gritar:
- Filho!
Agora sim, aquele abraço pode durar para sempre!