(A propósito do Dia Internacional
em Memória das Vítimas do Holocausto – 27 de janeiro)
Treblinka é um filme/documentário, realizado a partir do livro: “Sou o último
judeu”, de um sobrevivente, deste campo de extermínio nazi, na Polónia,
onde foram mortos mais de novecentos mil judeus.
O que mais impressiona, é a rotina deste homem e de todos os
que, por terem alguma profissão ou competência que servisse os nazis, eram
poupados e passavam a colaborar na morte dos seus «irmãos» judeus.
Chegou ao campo com a irmã que morreu nesse mesmo dia. Quando
os SS perguntam: «Há aí cabeleireiros»? Ele responde, por instinto de
sobrevivência: «Eu sou cabeleireiro». Dão-lhe uma tesoura e assim começa a sua
colaboração naquele extermínio.
A cada chegada de mais um comboio, transportando judeus de
toda a Europa, os que tinham a incumbência de cortar o cabelo, corriam a executar
esse trabalho. Seguiam-se os que faziam a triagem da roupa, dos objetos de
valor (relógios, anéis, fios, brincos…) - tudo, os SS levavam.
A descrição mais pungente é a do rosto dos cadáveres, em pilhas,
depois de saírem das câmaras de gás, e de como a fisionomia da morte era variável,
conforme tinham sido gaseados. Os das câmaras maiores saem deformados, negros,
esverdeados…
Tudo continua, chegada, após chegada, de mais um comboio, como
se uma invisibilidade viral atacasse todos (parece que ninguém via nada) e tornasse
tudo menos doloroso; como se o ver, todos os dias, o mesmo horror, os deixasse insensíveis.
Para alguns, sobreviver é o único pensamento, para outros desistir é o único
pensamento; cada manhã, mais um, outro e outro, aparecem estrangulados nos
barracões onde dormem.
O horror de Treblinka desumanizou, para lá de todos os limites.
Que pensamentos e sentimentos, que realidades e fantasmas, que deuses e homens,
povoavam as mentes dos que morriam, dos que matavam, dos que sobreviviam…? O
horror paralisa. À impossibilidade de ver, junta-se a impossibilidade de
pensar. Todos são autómatos. É tão incompreensível, isto!