Uma aluna, do tristemente célebre 9º B, da escola de Rio de Mouro, que terá sido a gota de água para o suicídio do professor de música, fala do mau comportamento dos colegas, da falta de respeito, das palavras humilhantes que lhe dirigiam, da impossibilidade dele lidar com a situação, do seu carácter reservado, do silêncio..., diz que às vezes ficava a falar com ele no final da aula, e que não ficou mais vezes, com medo que falassem, e que agora se arrepende de não o ter ajudado mais. "Uma vez arrancámos-lhe um sorriso. Quando se ria era outra pessoa" - diz. Como não ia ser outra pessoa! É devastador o dano que este tipo de desrespeito faz à dignidade de alguém!
Há, no bullying, este aspecto medonho, é que quem se disponha a ajudar tem também de se enfrentar com os agressores, com o bando, pode tornar-se na próxima vítima. Por isso, tantos escolhem nada dizer ou fazer.
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segunda-feira, 15 de março de 2010
sábado, 13 de março de 2010
Bullying
O bullying é a mais trágica das violências, se é possível dizer assim. Trágica, pelo que tortura, pelo que desconsidera, pelo que humilha. Vai ao ponto de anular completamente a estima e a autonomia, aquilo que, no ser humano, devia ser absolutamente inviolável. É duro, muito duro, que nos anulem e violentem, até ao limite do inimaginável, sem qualquer razão. Contudo, este não é um sentimento estranho à maioria das pessoas, quase toda a gente já o sentiu, no corpo e na alma.
O problema é complexo de mais para a resposta ser simples. Os actos de bullying devem ser censurados com clareza e sem quaisquer rodeios; desvalorizá-los, como sendo pouca coisa ou pouco grave, com o argumento de que sempre existiu, é aceitar que é normal o que não é. O bullying como toda a violência cresce em espiral. Não se pode deixar andar.
O problema é complexo de mais para a resposta ser simples. Os actos de bullying devem ser censurados com clareza e sem quaisquer rodeios; desvalorizá-los, como sendo pouca coisa ou pouco grave, com o argumento de que sempre existiu, é aceitar que é normal o que não é. O bullying como toda a violência cresce em espiral. Não se pode deixar andar.
sábado, 6 de março de 2010
Orlando Zapata Tomayo
Há uma semana, mais ou menos, morreu num hospital de Havana, um preso político, há muito tempo em greve de fome. Ligaram-no às máquinas, mas negaram-lhe água nos primeiros tempos da greve, tendo o seu corpo sofrido de modo irreversível. Morre-se, em 2010, por liberdade de expressão, por justiça, por dignidade. O que podemos dizer? Nada, está tudo dito. Há exemplos e vidas que servem para todos, ultrapassam a sua família, a sua cidade, o seu país. Que a morte de Orlando Zapata não tenha sido em vão!
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Direitos Humanos; Personalidades
sexta-feira, 5 de março de 2010
Leandro, vítima de Bullying
Leandro tinha doze anos e frequentava a EB23 Luciano Cordeiro, em Mirandela. Morreu há dias nas águas frias do Tua, sem que o seu corpo tenha ainda sido resgatado. Vítima de violência continuada por parte de colegas, talvez tivesse pensado que a solução fosse aquele trágico final. Atirou-se ao rio, sob o olhar impotente do irmão e dum primo.
Somos todos culpados, disso não há nenhuma dúvida. Os responsáveis da escola, os professores, os auxiliares, a associação de pais, os alunos … nada viram ou ouviram ou se viram e ouviram ignoraram. Não há registos de violência, tudo normal, tudo calmo. Hipocrisia pura, quando se sabe o que se passa em muitas escolas.
É demais, assim, não. Ninguém olhou com olhos de ver, ninguém escutou, ninguém fez nada. Leandro morreu, e quantos mais morrerão ainda? Assistimos a um fenómeno crescente que parece fora de controlo. O argumento de que estes casos acontecem em todos os lados, não serve. Não pode servir! Estou à espera de ver a escola, a DREN e o Ministério falarem.
Somos todos culpados, disso não há nenhuma dúvida. Os responsáveis da escola, os professores, os auxiliares, a associação de pais, os alunos … nada viram ou ouviram ou se viram e ouviram ignoraram. Não há registos de violência, tudo normal, tudo calmo. Hipocrisia pura, quando se sabe o que se passa em muitas escolas.
É demais, assim, não. Ninguém olhou com olhos de ver, ninguém escutou, ninguém fez nada. Leandro morreu, e quantos mais morrerão ainda? Assistimos a um fenómeno crescente que parece fora de controlo. O argumento de que estes casos acontecem em todos os lados, não serve. Não pode servir! Estou à espera de ver a escola, a DREN e o Ministério falarem.
segunda-feira, 1 de março de 2010
Madeira, a fé
"Salvámo-nos por milagre", "estamos à conta de Deus", "ruiu a capela e Nossa Senhora ficou inteira"... É assim! A fé a dar consolo, resposta, ajuda, ânimo. A religiosidade visível e expressa, em tantos e tantos momentos, cumpre o seu papel primeiro, o de criar sentido, mesmo em situações limite, como o desta catástrofe.
A fé faz parte daquilo que somos, daquilo que nos estrutura e sustenta e isso não é pouco. Por isso, quem acredita, está sempre melhor, experimenta uma paz que é alheia aos outros. Pudera eu acreditar! Como tenho saudades da minha infância e adolescência, como tenho saudades de um sentido profundo que, mesmo sem eu querer, se vai afastando de mim!
A fé faz parte daquilo que somos, daquilo que nos estrutura e sustenta e isso não é pouco. Por isso, quem acredita, está sempre melhor, experimenta uma paz que é alheia aos outros. Pudera eu acreditar! Como tenho saudades da minha infância e adolescência, como tenho saudades de um sentido profundo que, mesmo sem eu querer, se vai afastando de mim!
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Interrogações; religião,
pena de morte
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Madeira, pode ser uma lição
Já há uns tempos atrás aqui escrevi sobre a Madeira, de como impressiona o povoamento disperso, mas contínuo de toda a ilha , mesmo nas zonas mais montanhas; de como impressionam as condições de acesso, quer elas sejam veredas, túneis, estradas secundárias ou principais. Parece sempre uma intromissão na terra, na paisagem, no tempo, numa qualquer origem, que não terá despertado para aquela densidade populacional.
Mas é o que temos, é a realidade, e como lidar com ela, quando os deuses se zangam e tudo resvala em torrentes de chuva e lama, e mais chuva e mais lama e mais torrentes, com tantas pessoas mortas, casas destruídas, encostas desfeitas, etc, etc, etc.? O que fazer? Espero ao menos que o que aconteceu seja uma lição para todos, para os habitantes e para quem os governa. Temo que não seja assim, e se continue a forçar a natureza a ponto de a tornar incompatível com o humano. Haverá coisa pior?
Mas é o que temos, é a realidade, e como lidar com ela, quando os deuses se zangam e tudo resvala em torrentes de chuva e lama, e mais chuva e mais lama e mais torrentes, com tantas pessoas mortas, casas destruídas, encostas desfeitas, etc, etc, etc.? O que fazer? Espero ao menos que o que aconteceu seja uma lição para todos, para os habitantes e para quem os governa. Temo que não seja assim, e se continue a forçar a natureza a ponto de a tornar incompatível com o humano. Haverá coisa pior?
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Haiti, será uma reconstrução justa?
Desejo, espero, que não se repitam, no Haiti, as respostas de sempre. Reuniões e mais reuniões, muitos doadores, muitas intenções, mas também muita política… Parece sempre nestes casos faltar o essencial: uma nova ideia de desenvolvimento que seja justa e eficaz.
Tive um sonho, sonhei que, desta vez, vão empenhar-se em construir um país justo, um país que possa alimentar, cuidar e educar todos os seus habitantes. Um país onde as condições de partida sejam capazes de garantir igualdade de oportunidades, como num filme de que não recordo o nome, com a Michelle Pfeiffer, que, perante uma turma de adolescentes rebeldes, violentos, malcomportados, sem sucesso escolar, ensaia uma estratégia: agora, é como se todos estivessem no nível mais elevado, todos tivessem obtido a melhor nota, a partir daqui ou conservam a nota, e lutam por isso com os meios e os apoios que vão ter ao dispor, ou deixam que se reduza, mas não dirão que não tiveram as mesmas oportunidades. Há o empenho, o compromisso, a decisão, a participação de todos.
Isto mesmo se devia passar no Haiti, criar condições de partida de igualdade de oportunidades, ninguém pode ficar nas margens, e depois motivar as pessoas, responsabiliza-las, convencê-las de que o futuro depende do trabalho delas, são elas que decidem, têm meios e ferramentas, para tal.
Como no filme, haverá problemas, muitos problemas, estes, não se extinguem por mágica, mas haverá, igualmente, inter-ajuda, superação, auto-estima e sucesso. Haverá o que falta há séculos, para não dizer desde sempre, ao povo haitiano.
Tive um sonho, sonhei que, desta vez, vão empenhar-se em construir um país justo, um país que possa alimentar, cuidar e educar todos os seus habitantes. Um país onde as condições de partida sejam capazes de garantir igualdade de oportunidades, como num filme de que não recordo o nome, com a Michelle Pfeiffer, que, perante uma turma de adolescentes rebeldes, violentos, malcomportados, sem sucesso escolar, ensaia uma estratégia: agora, é como se todos estivessem no nível mais elevado, todos tivessem obtido a melhor nota, a partir daqui ou conservam a nota, e lutam por isso com os meios e os apoios que vão ter ao dispor, ou deixam que se reduza, mas não dirão que não tiveram as mesmas oportunidades. Há o empenho, o compromisso, a decisão, a participação de todos.
Isto mesmo se devia passar no Haiti, criar condições de partida de igualdade de oportunidades, ninguém pode ficar nas margens, e depois motivar as pessoas, responsabiliza-las, convencê-las de que o futuro depende do trabalho delas, são elas que decidem, têm meios e ferramentas, para tal.
Como no filme, haverá problemas, muitos problemas, estes, não se extinguem por mágica, mas haverá, igualmente, inter-ajuda, superação, auto-estima e sucesso. Haverá o que falta há séculos, para não dizer desde sempre, ao povo haitiano.
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